É pop. É ruído. É Psychocandy.

noise pop não foi inventada pelos Jesus and Mary Chain – os Velvet e os Ramones já o faziam muito antes – mas os escoceses apuraram o conceito, acentuando o contraste entre a “popalhice” das melodias e o ruído e feedback das guitarras. E foi logo no álbum de estreia que levaram essa estética da oposição ao limite. Imaginem Scarlett Johansson a salpicar o seu corpo com ácido. Isso é Psychocandy.

O que os movia era um desdém profundo pelo mainstream dos anos 80. Onde os eighties são limpinhos, artificiais e “modernaços”, os Jesus and Mary Chain são sujos, orgânicos e revivalistas. O ruído da guitarra soa a interferências electrostáticas, chaleiras a apitar e brocas de dentistas. Os microfones são colocados a quilómetros, de tal maneira que o disco soa sempre como se estivesse a ser tocado no andar do vizinho. O baixo – vários anos antes dos Morphine – tem apenas duas cordas. A voz é blasé e anti-sentimental, cheia de reverberação. A bateria, escandalosamente simples, é roubada a Phil Spector. As melodias evocam a pop cândida anterior aos Beatles, especialmente a das girl groups, como as Ronettes e as Shangri-Las. As letras, pelo contrário, são perversas, tresandando a sexo, drogas e rock’n’roll. A mais pura inocência manchada pela mais degenerada depravação.

No seu tempo, eram a banda mais cool do planeta. A sua coolness era toda ela baseada na indiferença arrogante. Eram os maiores porque odiavam agradar. Eram vaidosos e provocadores nas entrevistas. Tocavam de costas voltadas para o público. Faziam concertos de 10 minutos, alimentando motins. Usavam sempre óculos escuros, fizesse sol, fizesse chuva.

O legado de Psychocandy é gigante. Sem este disco não haveria Pixies, Spiritualized ou My Bloody Valentine. O shoegazing deve-lhe tudo: a obsessão pelo reverb e pelos pedais de distorção, a postura em palco distante e misantropa, o melodismo sonhador. Onde o açúcar da pop se encontrar com o limão do ruído, Psychocandy não será esquecido.