O DJ dos A Tribe Called Quest e Adrian Younge, produtor que gosta de grandes orquestras, deitaram o MPC no lixo e usaram as skills jazzísticas de uma big band para fazer um grande disco de hip hop e soul. Contudo, não esperem inonovação. Mas esperem Cee-Lo Green, Questlove e Bilal num só disco.

Se os a Tribe Called Quest estavam à frente no tempo em 1991, quando lançaram os The Low End Theory , marco do jazz rap, em 2018 já chegaram ao espaço temporal certo. Quase 30 anos anos depois de nascerem no seio do colectivo Native Tongues, dos primeiros a pensar em encher o MPC com loops de trompete e contrabaixo, o DJ dos A Tribe Called Quest, Ali Shaheed Muhammad, junta-se a Adrian Younge, produtor norte-americano que gosta de grandes orquestras, seja no hip hop ou no jazz. O resultado é um disco bem tocado por uma big band com convidados de luxo, como Cee-Lo Green, Questlove e Bilal, que tem o jazz na melodia e o hip hop no ritmo.

Juntos são os Midnight Hour, em alusão ao clássico de Wilson Pickett “In the Midnight Hour” (1965). Nenhum dos envolvidos tentou esconder o objectivo do disco: fazer um disco homónimo usando fórmulas de jazz e hip hop com provas dadas. Ao longo dos anos, Ali Shaheed Muhammad e Adrian Younge têm trabalhado juntos na qualidade de artista e produtor, em projectos como Souls of Mischief (no disco There is Only Now) e na banda sonora de Luke Cage, série da Marvel.

Não havia que enganar, era só pegar em ideias já feitas e repeti-las – desta vez num longa-duração dois. Façam este exercício: abram o Spotify e pesquisem “Luke Fight”, “Bulletproof Love” ou “Strolling” por Ali Shaheed Muhammad e Adrian Younge para a banda sonora de Luke Cage. Após ouvirem uma destas canções, ouçam este disco de estreia dos Midnight Hour. A ideia é igual: uma canção com base na repetição, ritmada por uma bateria – que mais parece uma mera caixa de ritmos de MPC – e um jazz etéreo e cheio de soul, cuja ‘cama’ é feita pelas teclas e a melodia é feita pelas cordas.

O que difere? A qualidade da produção, dos instrumentistas e – sublinho neste ponto – de quem canta. De Cee-Lo Green a Raphael Saadiq, são o ponto alto de um disco que não oferece nada de novo. Aqui entre nós, eu enquanto ouvinte não exijo inovação a Muhammad e Adrian Younge: já o fizeram nos anos 80 e 90 quando decidiram rimar por cima de contrabaixos e trompetes. Eles são mestres nesta arte, e se o fazem bem…