sexta-feira, 20 de setembro de 2024

CRONICA - JAN GARBAREK | Triptykon (1973)

 

Como fazer jazz-fusion sem instrumentos elétricos? Este é o desafio assumido pelo saxofonista Jan Garbarek para a sua terceira obra de estúdio.

Livrando-se da guitarra ameaçadora de Terje Rypdal, do perturbador piano elétrico de Bobo Stenson e do baixo assombroso de Arild Andersen, ele se priva de uma música misteriosa que percorreu seus trabalhos anteriores. O que não o impedirá de criar peças igualmente etéreas explorando as possibilidades da eletroacústica. E isso em formato trio com Edward Vesala na bateria e Arild Andersen no contrabaixo que deixou o baixo no armário. O conjunto produziu Triptykon em 1973 em nome da ECM com um setlist de 7 peças. Note-se que este disco é atribuído aos três músicos.

A fusão ocorrerá em outro lugar. Por que não no folclore escandinavo com o breve “Selje” e o tradicional “Buremarsj” na conclusão. Mas acima de tudo é construído sobre uma fusão étnica-jazz livre, perseguindo John Coltrane que é fonte de inspiração para o saxofonista norueguês. No entanto, longe do delírio tribal frenético que caracteriza o jazz do soprador afro-americano.

Música sob controle, legal, certamente tensa, mas que leva tempo para se instalar e desenvolver atmosferas espaçosas. Um LP com dissonâncias intemporais que liga a estética norte-europeia feita de cores escuras aos ritmos estranhos de uma África fascinante. Estilo que lembra o krautrock jazzístico da Alemanha (Embryo, Amon Düül 2, Organization…). Recordemos que a ECM é uma editora sediada em Munique e que não é insensível a este tipo de experiência. Resumindo, é como se o Pink Floyd começasse a fazer jazz experimental.

Três peças são representativas desta aventura radical. Abrimos com “Rim” de mais de 10 minutos com um início relaxante com esse sax suave, esse contrabaixo abafado e essas percussões sutis. À medida que as músicas avançam, sua intensidade aumenta com algumas sequências crescentes. Mais adiante ficam os 12 minutos do título homônimo, mais astuto, mais travesso, mais indiferente. Até a chegada da percussão onde o sax mostra um arabesco e o contrabaixo galopante com um swing levemente sugerido. No meio nos deparamos com os 7 minutos de “JEV” que é mais trêmulo mas ainda assim intrigante. De resto, mantemos o mesmo espírito, mas muito mais curtos, no vaporoso e incomum “Sang”, bem como no berrante e abrasivo “Etu Hei! ".

Não é fácil de acessar, mas cativante.

Títulos:
1. Rim
2. Selje
3. JEV
4. Sang
5. Triptykon
6. Etu Hei!
7. Bruremarsj

Músicos:
Jan Garbarek: Saxofone, Flauta
Arild Andersen: Contrabaixo
Edward Vesala: Percussão

Produção: Manfred Eicher



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