25 anos depois do seu lançamento, homenageamos o disco que nos trouxe a doçura pop dos Entre Aspas.
O início dos anos 90 trouxe um novo fôlego para a música pop e rock portuguesa. Foi o tempo do domínio dos Resistência, do surgimento dos Sitiados, dos Clã ou dos Da Weasel. Foi o tempo do projecto Filhos da Madrugada, com a nova geração de músicos portugueses a homenagearem o grande mestre José Afonso, e foi ainda o tempo em que, pela primeira vez, estava criado o ambiente certo para um festival só de projectos nacionais, o Portugal ao Vivo.
Foi no meio desse caldo que surgiram os Entre Aspas, do Algarve. De uma banda de bar, que tentava fazer pela vida nos importantes concursos para novos grupos que se realizam nessa altura, os Entre Aspas conseguiram dar o salto. Desde o início, o trunfo não estava escondido, mas bem à vista, ao microfone: Viviane, na voz, não deixava ninguém indiferente.
Em 1993 é editado o disco de estreia, Entre S.F.F., que cimenta de imediato o lugar dos Entre Aspas na popularidade do público. O motivo mais evidente é o estrondoso single “Criatura da Noite”, ainda hoje uma das mais irresistíveis pérolas pop alguma vez feitas no nosso país. Essa música parecia estar, então, em todo o lado, mas os Entre Aspas eram mais do que um single portentoso.
Logo a abrir temos “Na busca do regresso”, pop doce mas nocturno, num registo que nos revisita em “Convite ao Mal”, em que a doçura da voz de Viviane se equilibra com uma tensão rítmica que dá alguma complexidade aos temas. Há a balada contida de “Janela de Sacada”, o segundo e também forte single “Voltas”, sem regressar sequer a “Criatura da Noite”.
É, na verdade, um disco bastante equilibrado, ainda que aqui e ali se notem algumas imperfeições (nas letras ou nalgumas composições um pouco mais esquemáticas), tudo normal num primeiro disco de uma banda vinda da garagem e dos bares. Outra das curiosidades dos Entre Aspas, talvez reveladoras dessas origens, vem do facto de ser um registo pop mas com uma matriz rock muito forte hoje algo datada, por via das guitarras de Tó Viegas, figura que, juntamente com Viviane, esteve na banda do princípio ao seu fim.
Ouvindo Entre S.F.F. 25 anos depois da sua edição, temos de nos render a um belíssimo disco pop que ainda hoje sabe muito bem visitar. Os Entre Aspas fizeram mais alguns discos – o segundo também é bastante interessante – mas depois de várias alterações de membros acabam por terminar por volta de 2005. Seguiu-se a carreira a solo de Viviane, dona de uma voz única na sua frescura e na sua forma de cantar (até a estranha pronúncia de algumas palavras acrescenta ao carisma). Mas a marca na História estava lá atrás, na estreia, em 1993.
25 anos depois, voltemos onde fomos felizes. Desta feita, sem medos.
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