Em 1984, ano distópico por excelência, os GNR lançam um disco sombrio e claustrofóbico cheio de referências pós-punk: uma espécie de Joy Division à Gomes de Sá, metade negrume de Manchester, metade granito do Porto.
A história dos primeiros anos dos GNR é a história das desavenças estéticas dos seus três fundadores: Vítor Rua, Alexandre Soares e Tóli César Machado. Desta feita, é Rua que bate com a porta, indo Jorge Romão para o seu lugar. A sonoridade do novo disco reflecte esta mudança, substituindo o groove dançante de Independança por um baixo melódico à Peter Hook. Adicione-se uma bateria robótica e uns quantos salpicos de guitarra ácida, e o rock gótico de Defeitos Especiais estará pronto a servir. Não estranhámos: “Bar da Morgue”, do disco anterior, já tinha morcegos na lapela.
Reininho cataloga Defeitos Especiais como “o nosso disco mais Rock Rendez Vous”, de tal forma este som lúgrube à Bauhaus dominava os meios alternativos de então. “Piloto Automático”, com o seu mantra “vodka, vodka”, tem também o dom de captar os ares do tempo, tornando-se um hino de boémia e transgressão.
Não se pense, porém, que os GNR se limitam a copiar as referências britânicas de então. O que é interessante na pop portuguesa dos anos 80 é que essa abertura cosmopolita ao que acontecia lá fora era sempre enxertada com uma identidade portuguesa e intransmissível. Veja-se o caso de “Muçulmania”, com a sua citação da amaliana “Canção do Mar”; ou “Pershingópolis”, com o seu piscar de olho ao corridinho algarvio.
Apesar de terem abandonado o experimentalismo radical de “Avarias”, os GNR de Defeitos Especiais são ainda orgulhosamente anti-comerciais, vendendo poucos discos mas recebendo o elogio da crítica. Não se estranha por isso que o encantador single “I don´t Feel Funky (Anymore) tenha sido olimpicamente ignorado pelo grande público. A valsa “Mau Pastor” aponta timidamente os caminhos pop do futuro, mas só a bomba atómica “Dunas”, do disco seguinte, mudaria realmente tudo…
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