segunda-feira, 30 de setembro de 2024

Grace Jones “I’ve Seen That Face Before (Libertango)” (1981)

 

De origem jamaicana e com vida feita nos EUA desde a adolescência, Grace Jones era já uma modelo de sucesso quando, em finais dos anos 70, apostou na construção de uma carreira na música em paralelo às passerelles e estúdios de fotografia. Na companhia do produtor Tom Moulton registou três álbuns em finais dos setentas, explorando os universos do disco sound e arredores em três álbuns e uma mão-cheia de singles que lançou entre 1977 e 79. Mas em 1980 Chris Blackwell tomou rédeas da condução dos destinos musicais de Grace Jones. Levou-a aos estúdios Compass Point, nas Bahamas, juntou-a a Alex Sadkin para formar a equipa de produção e chamou vários músicos, entre os quais Sly Dunbar e Robbie Shakespeare (uma das maiores secções rítmicas made in Jamaica, com obra assinada como Sly & Robbie).

Juntos criaram o álbum Warm Leatherette em 1980, lançando bases para um momento maior que nasceria um ano depois, sem mexer muito nas peças em jogo. Editado em 1981 Nightclubbing apresenta uma série de versões e alguns inéditos. Entre os inéditos surgia ali o poderoso e fulgurante Pull Up to The Bumper, quem tem na própria Grace Jones uma das autoras e que havia sido composto para o álbum anterior mas acabado fora do alinhamento e ainda Demolition Man, composto por Sting e que os próprios Police gravariam brevemente. Das versões gravadas nasceram “clássicos” como uma leitura de Nightclubbing de David Bowie e Iggy Pop (que deu, está visto, título ao álbum) e I’ve Seen That Face Before, uma surpreendente abordagem ao universo de Astor Piazzolla.

Na origem de I’ve Seen That Face Before está Libertango, de Piazzolla. Era uma composição histórica, editada em disco em 1974, tendo então representado um momento de desafio do compositor argentino, que então passou a olhar para além dos horizontes mais clássicos do tango. A composição de Piazzolla foi pensada pela equipa que trabalhava com Grace Jones num quadro diferente, assumindo as raízes jamaicanas da cantora, acabando por lhe dar uma respiração e vida acima dos limites das fronteiras dos géneros e das geografias. A liberdade a que se referia Piazzolla no seu tema de 1974 estava de facto a passar por ali.




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