E ao quinto álbum, Mitski traz-nos o seu melhor trabalho até agora. Um disco denso e emocional, para ouvir vezes sem conta e sem cansar.

Mitski tem vindo a surpreender a cada álbum que lança mas é neste Be The Cowboy que apresenta o seu melhor trabalho. São 14 faixas complexas, repletas de densidade e de sentimentos. Parece que Mitski abre o coração e deixa sair cá para fora todas as dores e dúvidas existenciais, suportada pelos instrumentos poderosos e pela voz envolvente e elástica que a caracteriza.

O single, “ Nobody”, nem sequer é a melhor música do álbum. O disco arranca com a excelente “Geyser”, diferente de tudo o resto, mais sonoro e cheio, mais produzido. Segue-se “Why Did You Stop Me?”, que até permite uns requebros na pista de dança, para voltarmos ao piano em “Old Friend”, uma das faixas mais emblemáticas deste trabalho, na simplicidade do que de facto se faz com amigos (“take coffee and talk about nothing […] take anything you wanna give me”).

Em “A Pearl” há uma exposição de todas as ansiedades e incertezas, bem expressas quer na letra quer nas mudanças ao longo da música, nas modulações da voz de Mitski, que chega quase a um descontrolo e que não se parece importar com a sua própria vulnerabilidade.

Destaque ainda para a declaração de amor que é “Pink In The Night”, a afirmação crua, quando canta “I thought I’d traveled a long way but I had circled the same old sin”, em “A Horse Named Cold Air” e a estranheza (que se entranha) de “Washing Machine Heart”. A fechar, “Two Slow Dancers” traz-nos a delicadeza, o cansaço de Mitski, a desilusão conformada que vai martelando delicadamente no piano, “two slow dancers, last ones out”.

Mitski, no fundo, oferece-nos o seu coração, as suas ansiedades, incertezas, paixões e desilusões, embrulhadas numa musicalidade ímpar e numa produção cuidada, que faz deste disco um dos mais bem conseguidos trabalhos do ano.