Com uma carreira construída a emular a paisagem sonora do apocalipse, Daniel Lopatin, mais solto e despreocupado, volta aos discos com Age Of.

Os verdadeiros pioneiros nunca atingem o reconhecimento merecido. Há sempre um artista que lhes sucede que, tornando a matéria prima mais comercial, atinge o nível de notoriedade que lhe permite entrar nos anais da música. Com Daniel Lopatin, mais conhecido como Oneohtrix Point Never, não é muito diferente. Depois de ter criado a estética retrofuturista do vaporwave com o disco Chuck Person’s Eccojams Vol. 1, contribuindo assim para o desenvolvimento de um género que permeia muita da música feita nesta década, outros artistas começaram a copiar o seu método de abrandar samples de música pop dos anos oitenta, encharcando-as em efeitos.

Mas Oneohtrix Point Never não é apenas um artista de vaporwave. Os seus primeiros discos no final da década passada demonstram um conhecimento quase enciclopédico das texturas sintetizadas dos anos setenta e oitenta e uma clara intenção de subverter e recontextualizar essas texturas num cenário pós-moderno. A estes discos, sucedeu-se uma mudança estilística e os sintetizadores foram trocados por música eletroacústica com uso extensivo de samples e uma sonoridade mais experimental e ambient.

Age Of representa uma outra mudança de sonoridade, mais pop e menos abrasiva. A faixa título é uma torrente de arpejos tocados num cravo MIDI que se desenlaçam e estendem e são corrompidos por efeitos, resultando numa experiência neo-barroca. A partir de “Babylon” começa-se a desvendar a verdadeira mudança que este álbum representa. A voz de Lopatin, ainda que ligeiramente sintetizada por um vocoder, ganhará neste disco uma proeminência que até então não se tinha visto.

“The Station” tem mais do barroco que vimos na faixa-título; o cravo substituído por um sample de guitarra acústica com influências de flamenco e um crescendo de sintetizadores ácidos a acompanhar. Estas torrentes de sintetizadores fazem a transição para “Toys 2” uma música que, de resto, explora tonalidades mais glitch numa composição nitidamente ambient que continua com o minimalismo de “Black Snow”. Nesta canção os vocais de Lopatin estão relativamente limpos e são acompanhados por apenas uma linha de baixo e uma melodia subtil de sintetizador antes de ceder a uma paisagem glitch.

Aqui e ali conseguem-se vislumbrar referências auditivas ao passado de Oneohtrix Point Never. Vestígios do espectro de Chuck Person assombram “Warning” e “Same”, enquanto que “We’ll Take It” vê a sonoridade de Rifts atualizada com a adição de camadas de noise e elementos eletroacústicos que caracterizam a segunda fase da sua carreira. As três últimas músicas, “RayCats” “Still Stuff That Doesn’t Happen” e “Last Known Image of a Song” são a síntese mais perfeita de todos os elementos acima mencionados que caracterizam a música de Oneohtrix Point Never: os sintetizadores apocalípticos, os sons familiares gravados/sintetizados de forma não-familiar e as torrentes de arpejos (desta vez que de um instrumento que lembra o koto japonês) que definem a estética deste trabalho.

Age of representa uma nova fase na música de Oneohtrix Point Never. Uma maior ênfase dada aos vocais, menos apocalíptico que os discos que o antecederam e mais contemplativo e orquestrado, este disco com certeza trará uma nova colheita de fãs. Será o suficiente para tornar Daniel Lopatin num músico mainstream? Improvável, mas com certeza vai cimentar o seu lugar como pioneiro, pelo menos no que toca à música feita nesta década.