domingo, 27 de outubro de 2024

Banda do Casaco “É Triste Não Saber Ler” (1977)

 

Lado A: É Triste Não saber Ler

Lado B: Canto de Amor e Trabalho

(Phillips, 1977)

Eram uma banda não alinhada. Tanto nas relações com a música, tal como com as forças políticas… E esse estado não alinhado não deve ter sido fácil de digerir para muitos num tempo em que a afirmação de identidade (políticas e sociais) estava na ordem do dia do Portugal pós-revolução. Mesmo não tendo nunca optado por entrar no universo da canção política (que então fazia a mais visível ordem do dia musical entre nós), a Banda do Casaco não deixou de olhar para o universo ao seu redor. E no seu segundo álbum, Coisas do Arco da Velha, editado em 1976, apresentou uma tema que refletia a tomada de consciência das taxas de analfabetismo ainda existentes entre nós. E, mesmo não sendo a proposta mais “fácil” para rotação radiofónica, É Triste Não Saber Ler foi escolhido como single entre o alinhamento do álbum.

A canção é um bom exemplo da dimensão cinematográfica que muitas das canções do grupo seguiam. A voz emerge, como que num cantar rural, entre chocalhos que povoam o espaço como que reforçando essa noção de ambiente campestre… E sob um trabalho de exploração dos sons que se estende a um gosto exploratório na utilização dos próprios instrumentos, É Triste Não Saber Ler revela-se uma das canções mais diferentes e surpreendentes que a canção popular portuguesa nos deu a conhecer nos anos 70.




E se virarmos o single, aqui fica uma outra história…

Estava a Banda do Casaco a ensaiar e a trabalhar ideias para um segundo álbum quando entra em cena uma nova figura. Chamava-se Cândida Soares e, entre boleias de carro, ouviram-na a cantar. O tempo acabaria por levar a banda e a cantora por caminhos separados, encetando ela um percurso na canção ligeira. Na verdade foi como Cândia Branca Flor, o seu nome artístico, que a ficámos a conhecer. Mas foi no segundo álbum da Banda do Casaco que a escutámos pela primeira vez. Escutamo-la em vários momentos do disco, como em Romance de Branca Flôr ou Virgolino Faz o Pino. Mas o momento mais marcante da sua passagem pela Banda do Casaco fez-se no Canto de Amor e Trabalho, canção escolhida para o lado B do 45 rotações então editado.




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