Sete anos depois, os Gang Gang Dance renascem, assumidamente políticos e mais livres que nunca a nível criativo. Uma potencial banda sonora para um futuro utópico.

No último ano, começaram a surgir rumores do regresso dos Gang Gang Dance. A banda foi uma das principais bandas da cena noise nova-iorquina no início da década passada, ao lado de nomes como Black Dice, Excepter e Animal Collective. Sete anos depois do seu último disco Eye Contact de 2011, Brian DeGraw e os seus companheiros lançam Kazuashita (palavra japonesa cuja tradução livre é “paz amanhã”) a banda sonora para uma visão do mundo livre dos problemas que atualmente o corrompem.

Depois de uma breve introdução, o ouvinte é introduzido a “J-TREE”, uma música feita para a pista de dança, assumidamente influenciada pela cultura japonesa sem soar a J-Pop. Durante uma secção instrumental, ouve-se um manifestante a falar sobre as grandes questões da atualidade nos Estados Unidos como o racismo e o acesso às armas. Esta parte antecede um crescendo que funde eletrónica e post-rock, um desenvolvimento notável para uma banda cujos trabalhos anteriores enfatizavam a repetição e o ritmo.

O primeiro single do disco, “Lotus”, é uma canção que lembra o som mais tradicional desta fase mais tardia da banda, exemplificado em Eye Contact. Linhas de sintetizador, ora lânguidas e enevoadas, ora espaciais e concretas, elevam-se por cima de um beat minimalista e a voz de Lizzi Bougatsos, outrora uma possível herdeira das experimentações vocais de Yoko Ono, adquire desta vez uma tonalidade fantasmagórica e nebulosa. A distância entre discos permitiu que a banda, refinasse o seu som, afastando-o do brutalismo experimental noise dos primeiros discos, para algo mais detalhado e consistente. A faixa-título, no entanto, parece conter vestígios dessa fase com a sua bateria tribal e linha de baixo intermitente. Depois de uma secção puramente eletrónica, um breve solo de piano altera abruptamente a atmosfera da música como o acordar depois do sonho.

“Young Boy (Marika in Amerika)” lembra a pop alien de Grimes mas mais pesada. Este contraste entre pop melodramática e noise eletrónico torna “Young Boy” numa das músicas mais interessantes do disco e é um excelente exemplo da evolução da banda ao longo da sua carreira. “Snake Dub”, mais uma vez, remete para o experimentalismo tribal dos primeiros discos do grupo mas insere-o num contexto mais moderno com os vocais de Bougatsos chopped & screwed até perderem qualquer vestígio de humanidade. “Too Much, Too Soon” e “Salve on the Sorrow”, que termina o disco, assim como a própria “Kazuashita” demonstram uma nova faceta mais ambient que deveria mais explorada em lançamentos futuros do grupo. “Salve on the Sorrow”, em particular, debaixo do seu reverb, quase que consegue esconder o facto de ser uma canção pop letárgica e uma das melhores do álbum, proporcionando-lhe um final mais que apropriado.

Com sorte, não teremos de esperar outros sete anos pelo novo capítulo na história dos Gang Gang Dance. Se Kazuashita é um indício do que está por vir, podemos especular que a banda acabou de entrar na sua era dourada.