Álbum de estreia da banda australiana é mais um brilhante, no que está a ser um ano incrível para o rock.

Começo o artigo por uma pergunta a que nunca saberemos a verdadeira resposta – será que, se aparecesse agora, no ano da graça de dois mil e dezoito, um álbum chamado Is This It? de uns tais The Strokes teria o impacto que teve em 2001 (há quase 20 anos, porra como é possível…)? Ou ficaria submerso no mar do hip-hop, queer punk, traps e afins? Isto para dizer que o ano em que vivemos está a ser incrível em termos de música rock lançada e não vejo muita gente a perceber isso, não vejo um hype a ser formado, vejo só um encolher de ombros e a Terra a girar como se nada fosse. Parquet Courts, Ought, Malkmus & The Jicks, Shame, Breeders, Car Seat Headrest, Nap Eyes, Preoccupations, Eels, Jack White, Courtney Barnett, e também, porque não, o divisivo Tranquility Base Hotel & Casino. Todos com discos novos muito bons, numa mistura entre primeiros álbuns, bandas recentes e outras intemporais a mostrarem por A+B que não senhor o rock não está morto, está vivo e de boa saúde, apenas não capta a atenção que antes captava.

E agora, incluir na lista acima, os Rolling Blackouts Coastal Fever, mais uma banda nova a lançar um magnífico primeiro álbum que faz tudo parecer tão simples, 10 músicas, 35 minutos, siga para bingo. A herança australiana dos Go-Betweens está lá, uns R.E.M. de começo de carreira estão lá, não inventam a roda mas dão-lhe um aspecto lavadinho e deixam-na pronta para continuar a andar mais uns quarenta mil kms.

“An Air Conditioned Man” é a música de arranque e que nos suga logo, com a sua guitarra periclitante, bateria a marcar o ritmo, música sem linha de progresso clara, ziguezagueando, sem nos permitir saber para onde vai na próxima curva. “Talking Straight” mantém o ritmo abrasivo, mesmo trocando de vocalista (até em termos de voz a banda mostra a sua versatilidade, já que os três guitarristas, Fran Keaney, Tom Russo e Joe White são também vocalistas), “Mainland” debruça-se sobre a dificuldade de viver num mundo onde numa praia da Sicilia se podem cruzar banhistas a aproveitarem o sol e pessoas a quererem salvar-se de uma vida de miséria em África. Porque tal como afirma Tom Russo no vídeo abaixo, “a banda não se toma como abertamente política, mas vive o mundo e é inevitável não passar para as músicas o que lhes vai na cabeça no momento”.

Poderíamos discorrer um pouco mais sobre a mais reservada “Cappuccino City”, sobre a mais dream pop à la Real Estate “Exclusive Grave”, mas não vamos ocupar mais tempo, importa é ouvir o disco.