Malkmus e os seus Jicks desta vez produzidos por Beck, num excelente álbum que continua a ser interessante de ouvir passados sete anos.

A notícia caiu com estrondo no dia 16 de Setembro de 2009 – os Pavement iam fazer uma longamente aguardada tour em conjunto durante o ano de 2010. E assim foi que Mark Ibold, Scott Kannberg, Stephen Malkmus, Bob Nastanovich e Steve West se lançaram, entre Maio e Setembro desse ano, numa volta ao mundo para espalhar a magia dos Pavement. Num total de 75 datas, percorreram Estados Unidos, festivais da Europa, Austrália, Japão, Brasil e Argentina. Só mesmo Portugal ficou de fora, restando a alguns privilegiados a possibilidade de ida ao Primavera de Barcelona. Como Malkums fez questão de deixar claro desde o início, seria só mesmo para tour e nada de álbuns novos. Assim, terminou 2010 e voltou aos seus Jicks para este Mirror Traffic.

A influência da tour, da partilha com os seus antigos comparsas, foi, no entanto, notória. Enquanto até aqui na sua carreira a solo Malkmus parecera mais perfecionista, compondo de forma mais elaborada, Mirror Traffic foi um regresso a um forma de criar música mais descontraída, um pouco à semelhança do modus operandi nos Pavement. Sem perder muito tempo em polimentos de estúdio, conseguimos assim ter acesso a 50 minutos de música, espalhados por 15 músicas (número só superado por Wowee Zowee).

Se quisermos destacar algumas músicas para mostrar como vale a pena ouvir o álbum no seu todo, podemos fazê-lo com “Senator” e o seu estrondoso verso “I know what the Senator wants / what the Senator wants is a blowjob.”, com “Tigers” que abre o disco e tem referência ao símbolo do clube de Malkmus, o Hull City, “Brain Gallop” mais rockeira e contundente. Repito, isto são meros exemplos, porque se há coisa que bem conhecemos em Malkmus, nunca faz um single orelhudo para facilitar a audição (e para agradar aos senhores da editora). Faz sim um disco com cabeça, tronco e membros, tocando em várias vertentes ligadas à sonoridade rock. Este é mais um desses.