Eleanor Friedberger é uma mulher de fôlego. Determinada a deixar o passado no lugar onde merece estar, e ex-The Fiery Furnaces está de regresso com Rebound. Saudêmo-la!

Sejamos claros: Eleanor Friedberger cortou há muito e definitivamente com o seu passado musical. Dos tempos em que andava de braço dado com o irmão Matthew, já nada sobra. O mesmo é dizer que Eleanor, provavelmente, já nem terá vontade de recordar os temas e os álbuns intrincados dos The Fiery Furnaces, sobretudo dos dois primeiros discos da banda norte-americana. Já não a motivam ou inspiram. Assim sendo, se Gallowbird’s Bark e Blueberry Boat são águas passadas, por onde navega agora a menina bonita da indie mais clever clever que se faz nas terras do Tio Sam? As recentes e frescas notícias dão-nos conta de Rebound, o quarto disco da sua carreira a solo. Já o ouvimos, é bonito e recomendamos. Muito.

As cores vibrantes e intensas da imagem da capa do álbum Rebound podem ser enganadoras. Onde se adivinha, pelo que se infere dela, festa e espírito de verão, podemos perceber, afinal, outras realidades. Este quarto disco de Eleanor Friedberger segue os caminhos dos anteriores, não corta a direito, mas apresenta um twist ou outro que é significativo registar. Parece ser, se atentarmos bem nas letras dos temas que canta, um pequeno tratado autobiográfico, explorando inquietações, estados de alma, mas também buscando caminhos novos na sua maneira de fazer música. A sua alma, como se percebe, é irrequieta e perde tempo a interrogar-se. Por vezes, parece querer partir do zero, esquecer tudo para poder fazer tudo de novo com um espírito mais aberto e obrigatoriamente diferente do anterior. É necessária uma boa dose de coragem para levar a bom porto esse (re)encontro consigo mesma. Veja-se, por exemplo, o que canta em “My Jesus Phase”, o tema de abertura de Rebound: “Let me forget the words / Let me forget the time / I’ll drink whiskey for / Courage, something more”. Esclarecedor?

Rebound está recheado de belas canções. Poderemos mesmo dizer que podem muito bem vir a alegrar o nosso verão, embora não sejam temas tão cheios assim da luz da estação que se avizinha, muito menos do calor alegre e divertido típico dos meses de sol intenso e cerveja gelada nas mãos. Talvez seja “Make Me a Song” o tema que mais convida à dança, embora de forma moderada. Mas é uma canção de exceção, bonita como poucas, e se tivesse o impacto rítmico da genial “My Mistakes”, tema que abre Last Summer, o primeiro do seu percurso em nome próprio, seria um caso muito sério nas pistas de dança de bares e discotecas mais alternativas. Não tendo, como de facto não tem, é apenas uma enorme canção!

Rebound soa bem do princípio ao fim. Na sua oferta de dez canções, encontramos um típico lado retrô que Eleanor Friedberger sempre gostou de explorar. Um certo tom eighties percorre essa dupla mão cheia de temas, ora levando-os mais para caminhos de alguma melancolia (“Nice To Be Nowhere”), ora afastando-se dela para chegar a territórios mais oníricos (“The Letter”, um dos mais bonitos momentos do álbum), não esquecendo os instantes sonoros mais dançáveis, embora sem exuberâncias exageradas (como a já referida “Make Me a Song”, mas também a irrequieta “Everything” poderá servir de exemplo de momentos mais ritmados).

Eleanor Friedberger continua a transportar muito bem a sua bandeira artística. Passou com bom aproveitamento este quarto teste, e tem conseguido manter alta a barreira da sua própria exigência. Enquanto assim for, vamos continuando a tratá-la bem e a querer ouvi-la sempre com alguma urgência. Há que aproveitar as coisas boas e os infinitos prazeres que só elas nos podem dar.