Inspirados pelo italiano Festival de Sanremo e respondendo a uma necessidade de programação de televisão, o Festival de Música Popular Brasileira da TV Record, que havia conhecido uma edição inaugural em 1960 voltou a ganhar forma em 1966 para, até 1969, assinar uma sucessão de importantes episódios na história da música brasileira, entre os quais estariam, na edição de 1967, os momentos de emergência do tropicalismo através das participações de Caetano Veloso e também de Gilberto Gil, este último acompanhado então pelos Mutantes. Animado pelas recentes duas edições de um festival semelhante produzido pela TV Exelsior (o primeiros dos quais, em abril de 1965, tendo dado novo fulgor à carreira de Elis Regina), o II Festival de Música Popular Brasileira ganhou forma entre 27 de setembro e 10 de outubro de 1966 no Teatro Consolação, em São Paulo, conhecendo, além da cobertura da estação organizadora, transmissão também através da recém criada TV Globo e da local TV Paulista. Das 2635 inscrições foram selecionadas 36 canções que, depois de divididas por três eliminatórias, acabar reduzidas a 12 finalistas entre as quais surgiam nomes como os de Elza Soares, Elis Regina, Roberto Carlos, Jair Rodrigues, Maísa e Nara Leão, esta última com duas participações, uma das quais em dueto com o quase estreante Chico Buarque.
Nascido no Rio de Janeiro a 19 de junho de 1944, filho do historiador Sérgio Buarque de Hollanda e com um caminho académico apontado à arquitetura, o jovem Francisco, ávido leitor, tinha composto a sua primeira canção em 1959 e, entretanto, começado a circular entre espaços da boémia carioca onde a música lhe falava mais alto. Entregara já canções a outras vozes, participara como autor no festival da TV Exelsior em 1965 e, já em 1966, fora desafiado, por Roberto Freire, a musicar a produção teatral “Vida e Morte Severina” que entretanto conquistara um prémio num festival de teatro universitário em Nancy (França). É já com este currículo pleno de acontecimentos, mas ainda sem resultados de popularidade evidentes que, em 1966, meses depois de ter resolvido fazer uma pausa no percurso académico, que Chico Buarque de Holanda (como assinaria todos os seus discos até à chegada dos anos 70) resolve inscrever para o concurso da TV Record uma “marchinha” sua que, por aqueles dias, se ouvia sobretudo na voz de Odete Lara, que cantava regularmente na boîte carioca Arpège. Para a cantar escolhe, todavia outra voz também sua conhecida: Nara Leão.
Durante os ensaios surge um problema: a voz de Nara Leão mal se ouve, ficando submersa pela intensidade do som da banda que a acompanhava. Em busca de uma solução fica então decidido que o próprio Chico iria assumir a interpretação da canção, entrando Nara Leão apenas na sequência final. “A Banda” surge assim como um dueto e termina o festival ex-aequo em primeiro lugar com “Disparada” de Jair Rodrigues. O impacte do momento televisivo valeu ao 45 rotações com a canção vendas na ordem dos 55 mil exemplares na semana seguinte. “A Banda”, que surgiria ainda no alinhamento do álbum de estreia “Chico Buarque de Hollanda” desse mesmo ano, daria a Chico Buarque um primeiro episódio de sucesso maior, servindo de definitivo gatilho para uma das maiores obras na história da música popular brasileira. E nesse momento ficou definitivamente claro para todos que ali não haveria um futuro arquiteto.
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