Com meio século de existência, Bookends continua a fazer o seu (invisível) trajeto, influenciando artistas e gerações. A placidez e a harmonia voltaram, como sempre, a conjugar-se de forma perfeita, e Simon & Garfunkel mostraram-se, uma vez mais, mestres na arte de fazer temas maiores que a vida!

Serão poucas, na história da música ocidental, as duplas artísticas com impacto tão forte e importante como a que uniu Simon e Garfunkel. Mesmo depois de terem seguido por caminhos diferentes, o que os dois artistas fizeram juntos permanecerá como um dos mais fantásticos legados da música popular moderna. Parece-nos indiscutível o prestígio conseguido por esses “old friends” através de vários álbuns saídos ao longo de meia dúzia de anos, desde Wednesday Morning, 3 A.M. (1964) a Bridge Over Troubled Water (1970). No entanto, e sem querer distinguir apenas um entre os demais, acontece que Bookends sopra este ano 50 orgulhosas velas, e tal aniversário não poderia passar sem o merecido registo no Altamont. Nascido, como é fácil perceber, em 1968, o disco foi o penúltimo trabalho de estúdio da famosa dupla, e curiosamente começou (e terá, porventura, terminado) como uma espécie de disco de sobras, digamos assim, acolhendo algumas das canções rejeitadas pelos responsáveis da banda sonora de The Graduate, filme que Mike Nichols dirigiu em 1967. O disco foi muito bem recebido, tanto pela crítica como pelo público em geral, sendo ainda um sucesso comercial digno de menção. Curiosamente, foi lançado no dia 3 de abril, vinte e quatro horas antes de Martin Luther King Jr. ter sido assassinado. Um disco de paz em tempo de guerras raciais…

É fácil fazer referência a discos deste calibre. Os elogios são sempre múltiplos e para além disso pouco haverá a afirmar de novo tendo em conta o que dele foi sendo dito ao longo de cinco décadas. No entanto, Bookends tem particulares e diferenciados encantos (o mesmo é exatamente verdade em relação aos restantes trabalhos da dupla, é certo), que talvez o distancie dos demais. Vejamos alguns: o estranho e inesperado arranjo de cordas em “Old Friends”, as semelhanças com os The Moody Blues (pelo menos nos nossos ouvidos é assim que a canção soa) no tema “A Hazy Shade of Winter”, a nostalgia chorosa do tema de abertura (“Bookends Theme”, mais uma vinheta do que qualquer outra coisa), as vozes por detrás das vozes principais que dão um ar de musical ao tema “Save The Life of My Child”, o épico murmúrio inicial daquela que será, porventura, uma das melhores e mais fortes composições da dupla, a estrondosa “America”, canção sobre o sonho americano, sobre a descoberta dessa imensa terra por via do americaníssimo hitchhiking, bem na linha da escrita de Fitzgerald e Kerouac, o inesperado tema (que não é, na verdade, um tema como os restantes) composto apenas por vozes captadas nas ruas de Nova Iorque e Los Angeles (“God forgive me, but an old person without money is pathetic”)… Enfim, não pretendemos ser exaustivos, mas há tanto para ouvir e ler em Bookends que o melhor é mesmo escutar o que o álbum tem para nos dizer.

Para além do grande hit que é “America”, há ainda “Mrs. Robinson”, tema pertencente à já referida banda sonora de The Graduate, que nela se apresenta de forma dupla (uma instrumental, a outra com voz), mas que am Bookends surge algo diferente da versão cantada no filme de Mike Nichols. Estes dois temas marcam o disco, mas ouvido com a merecida atenção, ninguém terá dúvidas sobre a grandeza das doze canções do álbum.

As cinco décadas de Bookends merecem aniversário digno. Faça-se, então, a festa de ouvi-lo com a pureza e a inocência de uma primeira vez, 50 anos depois, constatando-se que, afinal, ainda é uma criança!