terça-feira, 24 de dezembro de 2024

FADOS do FADO...letras de fados...



A única mulher

Linhares Barbosa / José Duarte Seixal *fado seixal*
Repertório de Manuel de Almeida 
Gravado por Eurico Pavia com o título *Na boa-vai-ela*

Porque cantamos o fado
Falam de mim e de ti
Não te dê isso cuidado
Põe as intrigas de lado
Não dês ouvidos, sorri

Põe o xaile de tonquim 
E vamos os dois ao baile
Gosto que sejas assim
Enfeita-te só p’ra mim 
Adoro ver-te de xaile

Gosto dos lenços que pões 
Ficas graciosa e bela
Que tem que o mundo depois
Diga que andamos os dois 
Sempre na boa vai ela

Ri sempre que te apeteça 
Faz como eu que não ligo
Ainda que mal pareça
Se perdemos a cabeça 
Isso é comigo e contigo

Domingo, de Deus quiser 
Vamos os dois à corrida
Todo o mundo há-de saber
Que és a única mulher 
Por quem me perco na vida

À vela

Letra de Frederico de Brito
Desconheço se esta letra foi gravada.
Publico-a na esperança de obter informação credível

Informação de Francisco Mendes e Daniel Gouveia
Livro *Poetas Populares do Fado-Tradicional*

Foi numa canoa à vela
De passeio até ao mar
Que eu estive a falar com ela
À sombra daquela vela
Que o vento fazia andar

Mais tarde, a uma janela 
Pus-me com ela a falar
Tinha luz o quarto dela 
A luz fosca duma vela
Que eu gostava de apagar

Julgando-me a sós com ela 
Pedi-lhe um beijo, a brincar
Mas a mãe, estava de vela 
Mesmo detrás da janela
A ouvir-nos conversar

De combinação com ela 
Lá construímos um lar
Ela ofereceu uma vela 
À santinha da capela
Onde nos fomos casar

A nossa vida foi bela 
Mas eu andava a pensar
Se há uma zanga com ela 
Ai amor que vais à vela
E não tornas a voltar

Pois ontem, por culpa dela 
Recolhi mais tarde ao lar
E ela ficou à janela 
Até se gastar a vela
P’ra depois me arreliar

Hoje, p’ra me vingar dela 
Fui toda a roupa empenhar
Ou passa a noite à janela 
Ou tem que dormir à vela
Sem nada p’ra se tapar

A velha corista

João da Mata / Fernando Farinha
Repertório de Fernando Farinha

Aninhas tem paciência, é um jeito que fazes
Eu não tenho outra mesa onde possa atendê-los
São dois velhos jarretas que se julgam rapazes
Mas são fregueses bons e não convém perdê-los

E a Aninhas resignada afastou-se discreta
Lançando, todavia, o seu cansado olhar
P'la turba jovial, dinâmica e secreta
Que enchia de alvoroço o elegante bar

E logo aquela mesa acolheu sem entraves
Além de bom champagne e taças de cristal
Duas mulheres gentis e dois sujeitos graves
Dispostos ao clamor de louca saturnal

Entretanto na rua entregue aos próprios passos
Aninhas recordava o seu esplendor perdido
A alegria no rosto, as pulseiras nos braços
A casa mobilada e o camarim florido

Lembrou que fôra outrora a corista afamada
Que acendeu o clarão de tantas paixões cegas
E que hoje velha e triste, era enfim convidada
A ceder sua mesa às modernas colegas

E por elas maldisse a ingrata profissão
Que as leva ingloriamente ao destino mais reles
Queimando a mocidade atrás duma ilusão
Mais breve do que o fulgor dum casaco de peles

Aninhas... eras nova não pensaste
À luxuria te entregaste 
Sem prever os resultados
Não viste de que lado estava o mal
Levaste a vida em carnaval 
E terminaste em finados



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