Começamos bem 2018, com o rock a emergir do canto escuro a que estava restringido e a mostrar as garras.
É um exercício sempre estimulante começar a ouvir um disco de estreia de uma banda. Não há nada para trás que nos sirva de referência, que nos condicione a audição, não há peso de heranças. Tudo pode acontecer quando “deixa cá ouvir estes tipos”. O que aconteceu quando chegou a vez dos Shame foi muito simples – aumentar o som. É o primeiro reflexo de alguém que quer perceber melhor o que se está a passar. O segundo é questionar – Então mas afinal o rock estava morto, que estão estes tipos a fazer? Serão loucos? E quem é que eles pensam que são para chafurdar assim em território de bandas sagradas como os The Fall e Stone Roses (relembro que isto foi à primeira audição)?
Adiante. Como facilmente concluem, a primeira audição levou à segunda, terceira e outras (senão nem eu estaria aqui a escrever, nem vós aí, a ler). E após melhor consolidação, a opinião é que este Songs of Praise merece mesmo praise. Pós-punk com nervo, com sangue na guelra, com a sua dose de obscenidade e raiva, humor e sarcasmo, tudo isto se junta no caldeirão dos Shame para daí nos oferecerem a sua estreia em disco, directamente do Sul de Londres. Há até algum paralelismo com os Sleaford Mods, mas com menos violência, mais tacto e veia rock.
Percorrendo as faixas do álbum, é possível destacar algumas. “One Rizla” é capaz de ser a mais pop, mais agradável ao ouvido, mesmo contendo versos como “And you can choose to hate my words/But do I give a fuck?”. Na outra extremidade há “Donk”, curta e grossa, minuto e meio de gritos e non sense. Pelo meio temos “Concrete”, quiçá a melhor mostra do que é a banda e o disco, com um pouco de cada ingrediente para aqui metido. Temos “Tasteless” onde é citado o mítico Bigby de “Trainspotting”.
Ter cinco miúdos de 20 anos a dizerem que Bowie e Iggy Pop são referências e que se juntaram apenas por serem os únicos da escola que gostavam de guitarra diz muito sobre o que é crescer no mundo actual. Se estes miúdos, num sessão da BBC, decidem fazer uma cover de “Rock Lobster“, garantidamente estão no caminho certo.
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