Pela primeira vez na sua já respeitosa carreira, os Franz Ferdinand soam cansados e desinspirados. Alex Kapranos continua a ser a força motriz da banda, mas a saída da sua parelha Nick McCarthy deixa um vazio difícil de preencher.
Parece que já aconteceu num passado distante, mas em 2004 os Franz Ferdinand eram, a par dos Strokes, White Stripes ou Arcade Fire, a sensação do movimento indie. O seu homónimo disco de estreia, “feito para as raparigas dançarem”, com as suas guitarras e teclados maiores do que a vida, fizeram da banda escocesa uma das preferidas das pistas de dança e salas por esse mundo fora.
Convenhamos, só uma alma empedernida conseguiria ficar impávida ao ouvir “Tell Her Tonight”, “Take Me Out”, “The Dark of the Matinée”, “This Fire”, “Darts of Pleasure” ou “Michael”. A banda realmente encapsulou o movimento indie rock num só disco, que aos dias de hoje terá que ser julgado como um clássico moderno do rock.
Não perdendo tempo, a banda liderada por Alex Kapranos, uma espécie de Parker Lewis do rock, lançou rapidamente You Could Have So Much Better que, mesmo não tendo o mesmo impacto de novidade, conseguiu reunir um bom leque de canções (“Do You Want To”, “This Boy”, “Walk Away”, “Eleanor Put Your Boots On” ou “Outsiders”, entre outros bons números indie).
A partir daqui começaram os grandes hiatos entre discos. Tonight, lançado no fim da década, ainda lhes mantém o estatuto de banda pertinente. Grandes músicas como “Ulysses”, “No You Girls” ou “Can’t Stop Feeling” aliadas a um som mais electrónico e experimental, mantiveram a banda a encabeçar os grandes festivais de música. No entanto, quatro anos mais tarde, em 2013, a banda viu a sua popularidade começar a decrescer. Right Thoughts, Right Words, Right Action já não é um disco essencial. Tem algumas boas canções (“Right Action”, “Evil Eye” ou “Bullet”) e vale, sobretudo, pelo seu lado pop e pouco pretensioso. Aliás, essa é uma das boas características da banda de Kapranos: não se levam demasiado a sério. Os seus discos e concertos são, sobretudo, para as pessoas passarem um bom bocado. E isso voltou a ver-se na fantástica colaboração com os Sparks que resultou na criação da super banda FFS e consequente disco homónimo (2015). Um bom conjunto de canções feitas por duas bandas bem distintas que casaram quase na perfeição, mostrou que os Franz Ferdinand continuavam bem a nível criativo, mesmo que começassem a descer na tabela de “cabeças de cartaz”.
Os primeiros sinais de crise começaram a surgir em 2016 com a saída de Nick McCarthy, membro fundador e parelha de Alex Kapranos. A sua saída, supostamente, deveu-se mais às contingências causadas pelas longas digressões e gravações de material novo do que a problemas entre os membros da banda. McCarthy queria estar mais próximo da sua família, acabando por formar um projecto com a sua mulher, Manuela. Segunda a banda, esta poderá não ser uma despedida definitiva, mas só o tempo o dirá.
Mesmo continuando a ser a força motriz e a cara dos Franz Ferdinand, Kapranos dependia muito do seu par McCarthy. A base rítmica da banda era muito marcada pelo multi-instrumentalista, daí que a sua saída não augurasse o melhor dos futuros para o grupo. Para suprimir a sua ausência, a banda contratou não apenas um, mas sim dois elementos, Dino Bardot (guitarra) e Julian Corrie (teclas/guitarra). Coincidência ou talvez não, Always Ascending, primeiro disco sem Nick McCarthy, soa desinspirado e pouco interessante.
O disco, composto por 10 canções, começa com a faixa homónima e primeiro single de apresentação de Always Ascending. Trata-se de uma música bem ao estilo de Franz Ferdinand, feita para as pistas de dança, mas deixando mais de lado as guitarras e apostando prioritariamente nos teclados e sintetizadores. Continuando a boa abertura do disco, seguimos para o ponto alto com “Lazy Boy”, faixa que mistura os teclados do início dos anos 70 dos Pink Floyd e as guitarras de The Wall com o funk/disco de Giorgio Moroder. Este som vai ao encontro do que Kapranos afirmou quando dizia, recentemente, que queria continuar a fazer música para dançar, mas através de uma roupagem mais crua.
No entanto, o pior surge a seguir, e vem exactamente na mesma linha que afectou os Arcade Fire e o seu Everything Now. O problema do último disco da banda canadiana não teve tanto a ver com a sua mudança de estilo para um som mais pop na linha dos Abba, mas sim na falta de qualidade das músicas que mais soavam a Arcade Fire. O mesmo problema é encontrado em Always Ascending. “Paper Cages”, “Finally” ou “Glimpse of Love” são sucedâneos de outros êxitos da banda de Glasgow e são facilmente esquecíveis. Até os momentos mais introspectivos, que passaram a constar em todos os discos de Franz Ferdinand desde a belíssima “Eleanor Put Your Boots On“, passaram a soar forçados (“The Academy Awards” ou “Slow Don’t Kill Me Now”).
O disco salva-se da nota negativa devido às suas duas músicas iniciais, a “Lois Lane”, “Huck and Jim”, o mais aproximado ao rap que a banda de Kapranos chegou, e “Feel The Love Go”, outro dos bons momentos para a pista de dança.
Alex Kapranos, uma vez apelidado de o tipo mais cool do rock, e os seus Franz Ferdinand necessitam de voltar rapidamente aos momentos criativos mais elevados, sob pena de verem o seu característico charme sucumbir à passagem das areias do tempo. E isso seria trágico para uma banda que tão bem personificou a “cena” indie dos anos 2000.
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