No principio era o filme. E o projeto começou ainda em inícios dos anos 70, quando o realizador Godfrey Reggio trabalhava no Institute for Regional Education e realizou uma série de campanhas para transmissão em televisão. É por essa altura que, com a ajuda do director de fotografia Ron Fricke (que mais tarde realizaria o filme Baraka), começa a recolher imagens para um filme sem argumento. Escolhem o que lhes pareça que possa gerar boas imagens, e filmam sem um rumo definido.
Com o passar dos anos e o acumular das imagens a improvisação cede espaço a uma ideia que ganha forma. O filme começa então a desenhar um retrato da vida humana sobre a Terra, os sinais de desequilíbrio gerados, o confronto entre o espaço e o tempo das paisagens desabitadas com o ritmo da vida urbana. Francis Ford Coppola vê, numa sessão privada, uma primeira montagem do filme ainda em 1981 e decide apoiar a sua produção. O seu nome será assim uma peça central para a sua visibilidade. Mas um outro, que entrara em cena um pouco antes, acabará por ser o mais central dos rostos responsáveis pela sua transformação numa peça de culto: Philip Glass.
Numa etapa em que o Philip Glass Ensemble era ainda o destinatário central da escrita do compositor, a música que cria e grava para Koyaanisqatsi (palavra dos índios hopi que traduz uma noção de vida em desequilíbrio) assenta essencialmente nas electrónicas, juntando sopros e vozes.
De certa forma o que encontramos nesta música pode ser entendido como uma derivação direta das ideias exploradas em Einstein On The Beach mas, e sem perder as características de formas ainda próximas do minimalismo, ensaiando novas demandas, procurando, sobretudo, a exploração de uma lógica melodista mais visível. Tudo isto mantendo firme uma estrutura assente numa arquitetura ritmicamente demarcada. A música serve o filme em perfeito sincronismo e garante às imagens a voz que a ausência de falas poderia fazer sentir ao espectador. A precisão geométrica na relação entre imagens e música serviu de base à apresentação do filme em espetáculos ao vivo nos quais a projeção surgia sobre um palco, com os músicos a interpretar a música em sincronia.
Lançada pela Antilles (etiqueta da Island Records) em 1982, a gravação em disco da banda sonora incluía apenas 46 minutos de música gravada (o tempo que a duração do LP permitia). Com o advento do CD Philip Glass regravou a música de Koyaanisqatsi, para a Nonesuch. Mais recente é uma outra gravação, com a totalidade da música criada para o filme, lançada pela Orange Mountain Music em CD e que, em junho, por ocasião do Record Store Day, terá pela primeira vez uma edição em vinil.
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