domingo, 12 de janeiro de 2025

Danny Elfman, “Edward Scissorhands OST” (1990)

 Editada em 1990, a banda sonora de “Eduardo Mãos de Tesoura” representa um dos momentos mais inspirados do trabalho conjunto entre o compositor Danny Elfman e o realizador Tim Burton.

Natural de Los Angeles, onde nasceu em 1953, Danny Elfman tinha já uma carreira (com algum sucesso) na música, como vocalista e principal compositor dos Oingo Boingo, quando Tim Burton o desafiou a criar música para Pee Wee’s Big Adventure, a sua primeira longa metragem. O músico não estava seguro de que seria capaz de entrar num mundo diferente daquele a que estava habituado. Mas avançou, contando com algum apoio do guitarrista da banda. E a coisa correu bem. Correu na verdade tão bem que se seguiram novas propostas para trabalho em cinema. E entre essas propostas houve uma série de novos trabalhos ao lado de Tim Burton. E tantas vezes colaboraram que acabaram mesmo por definir um corpo de trabalhos comuns que fez dos dois um daqueles pares de referência juntando realizadores e compositores, como Steven Spielberg e John Williams ou David Lynch com Angelo Badalamenti.

Depois desse primeiro encontro com Tim Burton a vida de Danny Elfman seguiu por dois caminhos em simultâneo. Por um lado começou a ter uma carreira regular de escrita de música para cinema. E por outro manteve ativos os Oingo Boingo, com ponto final dado em 1995. E há uns 20 anos, numa das ocasiões em que falei com o compositor, ele mesmo reconheceu que os últimos anos de vida dos Oingo Boingo foram “difíceis”, sublinhando que “os grupos deviam ser forçados a separar-se ao fim de dez anos”. E no caso da sua banda, a carreira estendeu-se por 16 anos. Datada de 1990, a banda sonora de Eduardo Mãos de Tesoura, de Tim Burton, que nessa mesma entrevista Danny Elfman apontou como a que escolheria como a melhor do trabalho conjunto de ambos, nasceu por isso num tempo de coexistência entre uma vida pop/rock e um já muito expressivo corpo de trabalho para o cinema.

Música orquestral, onírica mas também algo fantasmagórica (ideia sublinhada pelo recurso ocasional a um coro), a banda sonora que Danny Elfman criou para Eduardo Mãos de Tesoura é, a par com as canções de Nightmare Before Christmas, uma peça de referência na sua obra, já plena de marcas de identidade. Este é também um trabalho de composição que traduz bem um entendimento com a visão de um realizador. “Partilhamos raízes semelhantes, crescemos a ver os mesmos filmes, pelo que nos compreendemos mutuamente”, explicou-me nessa conversa que seria publicada no DNmais. “Temos muito em comum, nos seus filmes não é fácil encontrar o mote, o ponto de partida. Mas, para mim, procurar esse ponto quando trabalho com ele é mais um exercício de prazer do que uma luta”, acrescentou.

Sobre o que pode ter de positivo para o trabalho de um compositor esse tipo de proximidade regular com um mesmo realizador (algo que com Danny Elfman depois sucedeu também com Gus Van Sant), explicou então: “Quando se tem uma colaboração isso implica que o realizador me conceda liberdade. O que, a confirmar-se, faz com que tenha vontade de trabalhar outra vez com ele. Muitas vezes o mais difícil não é compor uma banda sonora mas ter um realizador que ceda espaço de manobra. Muitos ficam tomados por uma espécie de temor, e muitas vezes sentem medo do que não conhecem. Tanto o Tim [Burton] como com o Gus [Van Sant] tentaram não se preocupar com isso e confiaram no meu trabalho. Especialmente o Tim, que tem um cinema muito teatral que me faz responder ao que ele está a fazer. É uma linguagem que compreendo”. O trabalho entre ambos gerou, além de Eduardo Mãos de Tesoura ou do o já referido Nightmare Before Christmas (que na realidade tem realização de Henry Selick), a parceria entre realizador e compositor gerou momentos igualmente marcantes em filmes como Batman, Sleepy Hollow, Big Fish ou Charlie & The Chocolate Factory, aqui conciliando a escrita de uma partitura orquestral com a criação de novas canções.

“Edward Scissorhands (Original Motion Picture Soundtrack)” teve edição original em cassete e CD. Na Alemanha houve uma prensagem em vinil em 1990. Mais recentemente houve uma reedição em vinil nos EUA.



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