domingo, 12 de janeiro de 2025

Wendy Carlos, “Tron” (1982)

 

Wendy Carlos estava já longe de ser uma figura desconhecida quando, em inícios dos anos 80, foi convidada pela Disney para assinar a banda sonora de um filme cuja ação iria decorrer entre o mundo real e o universo virtual dos computadores (e em particular dos jogos vídeo). O seu disco de 1986 Switched on Bach, que tinha encantado Stanley Kubrick, e que havia gerado uma colaboração para a banda sonora de A Laranja Mecânica, tinha-se transformado num título de referência entre as obras pioneiras da música eletrónica. Em 1980 tinha voltado a colaborar com Kubrick, desta vez na banda sonora de ShiningTron, todavia, parecia guardar todos os ingredientes (sobretudo os que permitiriam criar visões de futuro) para acrescentar um episódio tão marcante à obra de Wendy Carlos como o fora a criação da música de A Laranja Mecânica.

O trabalho de composição envolveu uma primeira colaboração entre Wendy Carlos e Annemarie Franklin, explorando sintetizadores analógicos e digitais, mas conheceu uma intervenção direta por parte da Dieney, que insistiu na presença da London Phliharmonic Orchestra para a gravação das sequências não eletrónicas. Wendy Carlos reconheceria, mais tarde, uma insatisfação com o trabalho da orquestra. A sua opção teria antes sido a utilização de um novo sintetizador digital. De resto, a criação de uma música orquestral com recurso a máquinas seria o principal foco de Digital Moonscapes, um álbum que editaria pela CBS dois anos depois.

A intervenção da Disney na montagem final do filme deixou de fora alguma da música de Wendy Carlos que, todavia, estava já registada e fixada na banda sonora editada em disco pela CBS em 1982. Além da música de Wendy Carlos a banda sonora apresenta Only Solutions, dos Journey, que escutamos no filme (e que nada tem a ver com o mood que a restante música depois sugere).
O disco teve uma edição original em 1982 e só chegou a CD vinte anos depois, tendo sido então necessário um processo de restauro digital para recuperar as gravações originais. Mais recentemente a música de Tron teve uma nova edição em vinil.

Para a sequela, Tron Legacy, de 2010, a composição da banda sonora foi atribuída aos Daft Punk. A música de Wendy Carlos foi então referida pela dupla francesa como tendo representado uma das referências para este seu trabalho.

Um dos marcos do cinema de ficção-científica dos oitentas, Tron (Steven Lisberger, 1982) revelava uma história vivida entre o mundo real e o virtual, numa altura em que os computadores começavam aos poucos a entrar no quotidiano (então ainda mais no mundo do trabalho que no espaço da casa).

Importante esforço pioneiro na área da animação digital, Tron cruzava lugares e objectos criados por computador com imagens reais, estabelecendo através da linguagem visual (e sonora também) uma imediata separação entre o espaço da vida real e o mundo dos computadores entre os quais evolui a acção.

Em traços largos, Tron revela a odisseia de um programador, autor de jogos de sucesso (Flynn, interpretado por Jeff Bridges), a quem a autoria das patentes foi “roubada”, obrigando-o a viver das moedas que todos os dias entram nas máquinas da sua sala de jogos vídeo. Um programa de controlo (que entretanto tiraniza o mundo virtual) desvia-o do mundo real para o espaço digital. E aí, entre programas rebeldes à nova ordem, o “utilizador” que veio do outro mundo luta pela restauração da liberdade…

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