Wendy Carlos estava já longe de ser uma figura desconhecida quando, em inícios dos anos 80, foi convidada pela Disney para assinar a banda sonora de um filme cuja ação iria decorrer entre o mundo real e o universo virtual dos computadores (e em particular dos jogos vídeo). O seu disco de 1986 Switched on Bach, que tinha encantado Stanley Kubrick, e que havia gerado uma colaboração para a banda sonora de A Laranja Mecânica, tinha-se transformado num título de referência entre as obras pioneiras da música eletrónica. Em 1980 tinha voltado a colaborar com Kubrick, desta vez na banda sonora de Shining. Tron, todavia, parecia guardar todos os ingredientes (sobretudo os que permitiriam criar visões de futuro) para acrescentar um episódio tão marcante à obra de Wendy Carlos como o fora a criação da música de A Laranja Mecânica.
O trabalho de composição envolveu uma primeira colaboração entre Wendy Carlos e Annemarie Franklin, explorando sintetizadores analógicos e digitais, mas conheceu uma intervenção direta por parte da Dieney, que insistiu na presença da London Phliharmonic Orchestra para a gravação das sequências não eletrónicas. Wendy Carlos reconheceria, mais tarde, uma insatisfação com o trabalho da orquestra. A sua opção teria antes sido a utilização de um novo sintetizador digital. De resto, a criação de uma música orquestral com recurso a máquinas seria o principal foco de Digital Moonscapes, um álbum que editaria pela CBS dois anos depois.
A intervenção da Disney na montagem final do filme deixou de fora alguma da música de Wendy Carlos que, todavia, estava já registada e fixada na banda sonora editada em disco pela CBS em 1982. Além da música de Wendy Carlos a banda sonora apresenta Only Solutions, dos Journey, que escutamos no filme (e que nada tem a ver com o mood que a restante música depois sugere).
O disco teve uma edição original em 1982 e só chegou a CD vinte anos depois, tendo sido então necessário um processo de restauro digital para recuperar as gravações originais. Mais recentemente a música de Tron teve uma nova edição em vinil.
Para a sequela, Tron Legacy, de 2010, a composição da banda sonora foi atribuída aos Daft Punk. A música de Wendy Carlos foi então referida pela dupla francesa como tendo representado uma das referências para este seu trabalho.
Um dos marcos do cinema de ficção-científica dos oitentas, Tron (Steven Lisberger, 1982) revelava uma história vivida entre o mundo real e o virtual, numa altura em que os computadores começavam aos poucos a entrar no quotidiano (então ainda mais no mundo do trabalho que no espaço da casa).
Importante esforço pioneiro na área da animação digital, Tron cruzava lugares e objectos criados por computador com imagens reais, estabelecendo através da linguagem visual (e sonora também) uma imediata separação entre o espaço da vida real e o mundo dos computadores entre os quais evolui a acção.
Em traços largos, Tron revela a odisseia de um programador, autor de jogos de sucesso (Flynn, interpretado por Jeff Bridges), a quem a autoria das patentes foi “roubada”, obrigando-o a viver das moedas que todos os dias entram nas máquinas da sua sala de jogos vídeo. Um programa de controlo (que entretanto tiraniza o mundo virtual) desvia-o do mundo real para o espaço digital. E aí, entre programas rebeldes à nova ordem, o “utilizador” que veio do outro mundo luta pela restauração da liberdade…
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