Ao quarto disco, os MGMT regressam à acessibilidade pop da sua estreia, namorando com o mainstream electro dos anos 80. Podem não ser hoje tão relevantes, mas uma mancheia de canções pop quase perfeitas isso já ninguém nos pode tirar.

Gostamos dos MGMT. Uma banda que sempre fez apenas e somente o que lhes apeteceu. Recapitulemos o seu esquizofrénico percurso. Começaram nos píncaros com Oracular Spectacular. Os seus três singles assassinos – “Kids”, “Time to Pretend” e “Electric Feel” – foram, muito justamente, aclamados pelo público e pela crítica. O indie no século XXI não seria o mesmo sem o seu jorro de cor e exuberância.

Seria fácil para os MGMT repetirem esta fórmula mágica inicial. Não foi isso que decidiram fazer. Num olímpico manguito aos fãs e aos críticos, deram-nos Congratulations, um disco psicadélico encantador mas bizarro, sem qualquer single óbvio. Como se essa ousadia não fosse suficiente, decidiram aprofundar a sua atitude anti-pop no homónimo álbum seguinte, ainda mais psicadélico e introspectivo. Que o grosso da sua base de fãs original, festivaleiros com um período de atenção de mosquito, tenha perdido a paciência para os novos MGMT, entende-se. Que os críticos sucumbissem à mesma preguiça estética, é que temos mais dificuldade em compreender. Tão lamentável é o elitismo contra a acessibilidade pop, como o plebeísmo contra a boa música exigente.

Talvez cansados das forquilhas e archotes sempre em riste, os MGMT regressam agora à imediatez pop dos primeiros tempos, com bonitas melodias cup-a-soup e bombas-refrão a condizer. A linguagem é contudo bem distinta da do indie caleidoscópio de “Time to Pretend”. As coordenadas de Little Dark Age são outras, ternamente nostálgicas da synthpop dos anos 80. Em fugazes pormenores, são óbvias as piscadelas marotas a clássicos kitsch de então: o Bowie de “China Girl”, o OMD de “Souvenir”, a Madonna de “La Isla Bonita”; meros pontos de partida para vôos melódicos originais.

Algumas canções comovem-nos pela sua melancolia peganhenta dos domingos à tarde da nossa infância. Outras intrigam-nos pela sua falsa superficialidade, com dissonâncias e acordes sombrios a estalarem o verniz pop. O tema-título é a canção gótica que, por alguma estranha razão, Robert Smith se esqueceu de escrever. Apenas “One Thing Left to Try” desilude, fazendo apenas lembrar uma má canção dos Duran Duran.

Little Dark Age é uma amarga reflexão sobre o vazio da modernidade, uma espécie de OK Computer dos pequeninos. A ideia central é tão simples como convincente: coisas parvas como a obsessão pelo fitness e a azáfama das redes sociais servem apenas para esconder a nossa secreta solidão. Mas há sempre um sentido de humor – retorcido, é certo – que esconjura o negrume. Até a era sombria do título é pequenina, quase fofinha, perdendo assim o seu poder de nos assombrar. É preciso uma boa dose de optimismo para rebolar tão fundo na escuridão.

O único senão do álbum é o lastro que ensombra o século: a obsessão da pop moderna pelo seu próprio passado. Little Dark Age é demasiado retro para fazer o indie avançar. A sua nostalgia é paralisante.

Apesar de tudo, os MGMT oferecem-nos um belíssimo disco, como, aliás, sempre o fizeram. Ainda não foi desta que repetiram a relevância indie da sua estreia. Mas uma dezena de canções pop quase perfeitas já ninguém nos pode tirar. O suficiente para nos alumiar o caminho nesta nossa pequenina era sombria.