Ao quarto disco, Angus & Julia Stone editam as suas canções com um filtro soalheiro de Instagram. Snow é uma colecção agradável de 12 temas de folk orelhuda e sensível. Contudo, é tudo menos memorável.
Tirar uma fotografia bonita, de um lusco-fusco qualquer junto ao mar, e partilhá-la no Instagram com um filtro veranil rende sempre. Cai bem à vista e ao polegar, que toca prontamente no coraçãozinho que dá like. Mas é apenas isso, nada mais, seguimos com o nosso habitual scroll. Nunca mais nos lembraremos de querer voltar àquela fotografia.
O mesmo se aplica a Snow, o quarto disco dos irmãos australianos Angus & Julia Stone. Pegando na fórmula que os levou ao sucesso em 2010, com a folk sensível e orelhuda de Down the Way, onde constam os grande sucessos da banda como “Big Jet Plane” e “Santa Monica Dream”, o duo australiano tenta repeti-la, mas aplica-lhe instrumentos eléctricos e um filtro HYPEBEAST da VCSO Cam, cheio de contraste e saturação. Contudo, o grupo acaba por editar 12 clichés agradáveis e (muito) pouco memoráveis.
A começar pelos singles, “Snow” e “Chateau”. Enquanto apreciador do género da “folk fofinha” dos dedilhados, foram uma primeira excelente audição. Os “lalalas” e “ohohoh” dos respectivos refrões, acompanhados pela progressão soalheira de acordes, tão dreamy quanto a dos Beach House, estão mergulhados em reverb e ficam na cabeça. São verdadeiros earworms. Até o pizzicato dos violinos no início de “Chateau” surpreende, sendo um elemento incomum no catálogo dos australianos.
No entanto, bastou um mês para estas canções fugirem da minha memória. O Verão levou-os para o lobo esquecível do meu cérebro e fiquei sozinho com a “minha” Semper Femina Laura Marling, que dentro do mesmo género nunca me abandonou em 2017. Talvez o meu subconsciente os tenha confundido com o Matt Corby, a Lyla Foy ou o segundo disco dos Daughter, que também convivem no mesmo hemisfério cerebral.
Reitero: costumo gostar de “folk fofinha”. O problema das canções deste género é que, apesar de serem facilmente agradáveis, raras são aquelas que trilham uma nova abordagem, que as torne interessantes. Seja pelas palavras ou pela música, o novo disco de Angus & Julia Stone repete as mesmas lengalengas: os crescendos, a melancolia amorosa contada na primeira pessoa e o efeito pop com guitarras folk.
Apesar de dormentes ao coração, as canções são engraçadas e falam todas sobre amor jovem, que “não tem nada a perder”, tal como se ouve em “Chateau”. Em “Sylvester Stallone”, Julia Stone pondera ter uma relação proibida – “Just stay where you are. It’s bad and I know it. But I feel like I should”. Em “My House Your House”, os irmãos falam sobre arriscar num relacionamento falhado – ”You have to fall apart to really please someone. Maybe this is where we belong”.
Três anos depois do álbum homónimo, o terceiro disco, os Angus & Julia Stone não perderam o seu estado de graça – mas não o renovaram. Permanecem os discos do duo australiano que marcaram a cena indie pop no início desta década.
Contudo, não se pode dizer que este seja um disco mau. Foi bom enquanto durou. Mas conseguiria viver sem ele.
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