quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

Blur “Live at Wembley Stadium”

 A “culpa” foi do concerto! Podia começar assim a história de “The Ballad of Darren”, o maravilhoso álbum que, em 2023, os Blur juntaram a uma discografia que, assim sendo, não teve como derradeiro episódio criativo o menor “The Magic Whip”, de 2015. Na verdade a história dos Blur depois do “fim” cada vez vai sendo uma narrativa mais fragmentada e repleta de pequenas e grandes histórias já que, após a notícia da separação que chegou depois de “Think Tank” (criado a três, com a ausência do guiattarista Graham Coxon), houve um álbum ao vivo documentando um pontual reencontro em palco em Londres em julho de 2009 (“All the People: Blur Live at Hyde Park”), dois novos singles (“Fool’s Day” em 2010 e “Under The Westway”/“The Puritan” em 2011) e, depois, mais um momento ao vivo, desta vez motivado pelas olimpíadas organizadas na capital britânica em 2012 (“Parklive”).

Nos últimos anos, contudo, os percursos dos quatro músicos fazia-se com cada um no seu caminho. Damon Albarn dividia o seu tempo entre discos com os Gorillaz, com o coletivo The Good The Bad and The Queen e outros gravados a solo. Graham Coxon gravava música para cinema, criava um novo projeto (The Weave) e assinava colaborações (uma delas com os Duran Duran em “Future Past”). Dave Rowntree estreava-se a solo, em 2023, com “Radio Songs”. E Alex James, depois de uma etapa focada na escrita, avançava por um novo caminho como produtor de queijo. A ideia de uma nova reunião, desta vez no estádio de Wembley, seria momento para reencontrar velhas canções, às quais se juntavam dois inéditos: “St. Charles Square”, que evocava ecos mais angulosos dos Blur dos noventas e o mais polido “The Narcissist”… A coisa correu tão bem, em dose dupla a 8 e 9 de julho de 2023, ao que se seguiu algo talvez inesperado: Damon Albarn apresentara aos colegas canções para um eventual álbum de reunião que tinha vindo a ser gravado e surgia nos escaparates poucas semanas após os concertos no estádio de Wermbley, cativando entusiasmos e acompanhando com mais algumas novidades uma digressão que se seguiu.

Um ano após este histórico regresso aos palcos em Londres, eis que surge um novo disco ao vivo, seguindo assim a lógica que tem acrescentado títulos semelhantes à discografia dos Blur que, salvo um histórico “Live at The Budokan” (1996), tem os seus demais títulos ao vivo nascidos em episódios de grandes reuniões em 2009, 2012 e, agora, 2023. Tal como a digressão depois comprovou frente aos muitos que aderiram ao desafio de novo encontro com os Blur, encontramos aqui uma banda segura, focada, orgulhosa da sua identidade e historial, num alinhamento que, salvo os dois cartões de visita que depois figurariam no álbum “The Ballad of Darren”, corre por todo o percurso, desfilando os seus grandes clássicos, dando a Graham Coxon o microfone em “Coffe and TV” e chamando a palco Phil Daniels (em “Parklife”, em cuja gravação original colaborou) e o London Community Gospel Choir em “Tender”, garantindo a grandiosidade que um coro deu a esta canção que serviu de single de apresentação do álbum “13”, ema 1999). Deixando de fora referências a “The Magic Whip” (o que por si só traduz o modo como os próprios Blur encaram este episódio da sua discografia), gravado perante uma multidão de 90 mil pessoas, o álbum traduz uma ideia de “best of” criado ao vivo, juntando aquelas camadas de entusiasmo adicional vindas tanto do palco como da plateia, que caracterizam o modo como, ao longo dos anos, fomos contactando, entre concertos e festivais, com uma das maiores bandas que, apesar da extensão da sua obra, associamos sobretudo à história pop/rock dos anos 90. Londres, como a própria imagem da capa sugere, terá sido inesquecível. Agora ficamos com um retrato, para escutar, do que ali aconteceu.

“Live At Wembley Stadium”, dos Blur, está disponível em formatos 2CD e 3LP e também nas plataformas de streaming, numa edição da Parlophone. Há ainda uma versão, com alinhamento encurtado, com 2LP. 



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