Nove anos após a separação dos Oasis e três discos a solo depois, Noel Gallagher continua em negação. A luta para se afastar do som da sua antiga banda revela-se infrutífera. Um mediador de conflitos familiares precisa-se.
Noel Gallagher sempre foi a grande cabeça dos Oasis, o criativo por detrás dos grandes êxitos da banda de Manchester. Uma espécie de polícia bom para o errante e arruaceiro irmão Liam. Mesmo que o ego de Noel fosse tão grande como o do mano mais novo.
Os Oasis nunca foram uma banda fácil. Entraram de rompante na cena musical pós-grunge com o seu grande disco de estreia, Definitely Maybe e entraram também no turbilhão da Britpop e consequente luta titânica com os Blur para o trono de melhor banda de terras de Sua Majestade. De 1994 até ao seu último disco de originais, Dig Out Your Soul, a banda mudou todos os restantes elementos. Só Noel e Liam foram a constante, o que é uma situação estranha visto serem eles os grandes motivadores de todos os problemas de maior que a banda enfrentou ao longo dos seus mais de vinte anos de carreira. Problemas com drogas, álcool, violência, entre outros comportamentos desviantes, fizeram com que os Oasis passassem a ser apenas amados no Reino Unido e Liam a ser considerado uma das pessoas mais odiadas no mundo.
Falar de Oasis é falar do relacionamento entre Noel e Liam. O primeiro, sempre mais polido e bem falante, o cérebro criativo da banda, enquanto o último apenas tinha um foco na vida: tornar-se o maior músico de rock n’ roll da história, desse por onde desse.
Durante meia década, os Oasis conseguiram chegar ao olimpo do rock. Morning Glory, com os seus singles “Wonderwall” e “Don’t Look Back in Anger” fizeram a banda de Manchester ser comparada aos eternos Beatles e Rolling Stones. Com o grande sucesso veio a grande responsabilidade e os irmãos Gallagher não souberam aguentar a pressão da fama. A relação errática entre Liam e Noel só se agravava com o abuso de álcool e drogas, e quem sofria com isso era a banda. O resultado, em forma de terceiro disco, foi o início do fim. Be Here Now sofre de todos esses excessos e marca o fim da estrada para a Britpop e, consequentemente, para a importância dos Oasis.
Paul “Bonehead” Arthurs e Paul “Guigsy” McGuigan, membros originais da banda e fiéis escudeiros dos irmãos Gallagher resolvem abandonar os Oasis. A pressão e loucura era demasiada. Andy Bell, ex-Ride, e Gem Archer seriam os seus substitutos. Embora estes tivessem trazido uma certa estabilidade para a banda, esta seria testada uma última vez antes da ruptura final. Em 2000, após o cancelamento de um concerto em Barcelona devido a uma lesão do seu baterista, Alan White, Liam, numa noite de copos com o resto da banda, passa das marcas e questiona se Noel será mesmo o pai de Anais, fruto da relação com a sua ex-mulher. Noel abandona a tour não sem antes deixar o lábio aberto ao seu irmão “querido”. Liam nunca pediu desculpas e Noel nunca o perdoou. A ferida ficou sempre aberta.
Avançando mais rapidamente na história, seguimos até 2009, após a banda já ter lançado Standing On The Shoulder of Giants, Heathen Chemistry, Don’t Believe The Truth e Dig Out Your Soul, tendo mudado de baterista pelo meio. Mais de 20 anos após a sua estreia, a banda de Manchester deixou de ser relevante. Soava obsoleta e datada, mesmo que os seus discos mais recentes mostrassem um som mais fresco e original (mesmo que fossem influências das suas bandas preferidas).
Não aguentando mais as discussões com Liam e o seu temperamento errático, Noel decide abandonar a banda, de vez, no meio de outra tour. Desta vez, e até ao momento, a decisão é final. Não mais os irmãos Gallagher tocaram juntos de novo e não se perspectiva um final feliz para esta situação, dado o ainda constante bate-boca, via imprensa, que um tem com o outro.
Com a separação, Liam virou-se para os restantes elementos dos Oasis e formou os Beady Eye. Lançaram dois discos competentes e acabaram por fechar portas. Eram apenas um sucedâneo da antiga banda. Faltava o toque essencial de Noel.
Curiosamente, a grande expectativa estava principalmente no que Noel acabaria por fazer. Ele que sempre foi a grande cabeça por detrás dos grandes hits dos Oasis. A maior parte das pessoas esperaria um disco mais acústico, na onda do MTV Unplugged, em que Noel acabaria por cantar sozinho devido a mais uma das birras de Liam. Esse concerto acústico foi uma das grandes provas de que Noel poderia ser capaz de aguentar o barco sozinho e, por vezes, até com mais qualidade do que com Liam ao seu lado.
À grande expectativa sucedeu a grande desilusão. Tanto o primeiro disco homónimo, de 2011, com os seus High Flying Birds, como o sucessor Chasing Yesterday (2015) não foram propriamente os álbuns que os fãs de Oasis esperariam. Aqui não encontraríamos uma “Masterplan” ou uma “Talk Tonite”, mas sim músicas algo desinspiradas.
Dois anos volvidos, e ao terceiro disco, Noel continua na senda de se afastar do som que lhe deu fama e que todos aguardam que volte. Demasiados efeitos e batidas, letras demasiado simples e poucos momentos ‘Noel’ fazem deste disco mais uma desilusão. E não por que Who Built The Moon? seja um disco mau, mas sim porque o Noel que todos queremos continua a esconder-se atrás destes High Flying Birds. O Noel de “Going Nowhere” ou “Half The World Away” nunca aceitaria gravar uma canção como “Holy Moutain”, que mais parece vinda de um disco de Vaccines. O Noel de “Live Forever” ou “Married With Children” nunca gravaria um “It’s A Beautiful World” ou um “She Taught Me How To Fly”, que faria com quem Liam lhe chamasse os nomes todos.
O curioso é que, em 2017, Liam também lançaria o seu primeiro disco a solo, abraçando o som que sempre foi seu. Não renegando o seu passado nem o seu destino. Já Noel continua a fugir dele a sete pés.
Passados nove anos após o último disco de Oasis, parece estar na hora de alguém fazer a ponte entre Liam e Noel e arranjar um conselheiro familiar. O tempo para um regresso é o certo. Estamos todos à espera…
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