Já estrela no rock alternativo e embalado por Odelay e Mutations, até hoje tidos como dois dos seus melhores discos, imagina-se a angústia. E agora, o que fazer?

Em 1999, já Beck se mostrara bem acima da concorrência, já mais que assentara os alicerces para a carreira que nunca deixou de solidificar e os riscos seriam sempre mais à reputação que a qualquer outra coisa. Talvez por isso, Beck voltou a lançar-se fora de pé. Afinal até tinha avisado, logo após o lançamento de Mutations em entrevista à Rolling Stone, que o disco seguinte seria um “disco de festa, com sons burros, canções burras e letras burras”.

Em Midnite Vultures, o senhor de “Loser” instala uma festa e nem se preocupa em ser levado a sério. A música de arranque, serve de aviso – “Sexx Laws”, as que promete mudar e onde se assume como um ‘full grown man”, mas nem por isso com medo de chorar. Há mais, “Mixed Bizness” e “Hollywood Freaks”, roçam a paródia, mas nem por isso deixam de ter, bem marcado, o cunho de Beck. Em “Broken Train”, a elasticidade sonora, torna-se ainda mais evidente e chegando a “Peaches and Cream” e “Debra”, o tom é mesmo de homenagem a Prince.

Há letras sobre menage à trois, aventuras de uma noite só e sobre os excessos e as futilidades das estrelas norte-americanas, mas a mais importante mensagem de Midnite Vultures passou despercebida. À época, ouviu-se um disco inesperado, não necessariamente bom, pouco coerente com o trabalho até então apresentado, apalhaçado até. Hoje tudo é mais claro. Midnite Vultures tinha um aviso sério – Beck nunca seria um artista normal, carta dentro de um baralho, o caminho que ali ainda nem a meio chegara seria próximo dos maiores dos camaleões, ali perto, eventualmente como nenhum outro da sua geração, de Lou Reed, David Bowie ou Prince.