A última vez que um tão curto intervalo de tempo separou dois álbuns de estúdio dos Duran Duran foi quando, dois anos depois de “Thank You” (1995), um álbum feito com versões, chegou a cena “Medazzaland” (1997), disco que sobrou na pele um momento de relacionamento difícil com o público e, sobretudo, a editora de então, que inclusivamente acabou por lançar o disco apenas nos EUA, Canadá e Japão, obrigando aquele que foi talvez o melhor momento criativo da banda nos anos 90 a uma espera de longos anos até que, finalmente em 2022, conheceu um lançamento global. Dois anos depois de “Future Past”, álbum através dos qual os Duran Duran celebraram o seu 40º aniversário com um episódio de grande vitalidade em vez de uma operação de memória e nostalgia, as versões voltam a entrar em cena num disco que nasceu com uma velocidade invulgar por estes lados. Tudo começou num concerto especial (e temático) de Halloween que apresentaram a 31 de outubro de 2022. Ali recriaram velhas canções suas com temáticas relacionadas com as sombras, os fantasmas e outras marcas e figuras habituais nas noites das bruxas (uma delas oclássico “Nightboat” do álbum de estreia, para o qual foi criado um teledisco com zombies, antes ainda do “Thriller” de Michael Jackson), juntando à festa – e atenção que esta noção de coisa festiva é mesmo central a toda esta ideia – algumas versões de canções de nomes como Siouxsie & The Banshees, Rolling Stones, Cerrone ou Specials… Agora, um ano depois, o que a plateia de Las Vegas viveu naquela noite está reimaginado num álbum de estúdio, gravado a bom ritmo, no qual se assinala o reencontro com antigos companheiros (Andy Taylor, Warren Cuccurullo e Nile Rodgers), celebrando, em “família” um espaço com lastro na cultura popular anglo-saxónica mas que, apesar das tradições já inscritas no cinema, não tinha uma tradição na música. E assim nasceu o “disco de Halloween”…

O melhor de “Danse Macabre” (nome que evoca um tradição medieval e, na música, uma a peça orquestral de 1875 de Camille Saint Saëns mas sem qualquer ligação com o compositor francês) são as três canções originais que o grupo acabou por criar durante as sessões de gravação do álbum, uma delas (a melhor do disco) recebendo o seu título, nela refletindo-se, além de um cuidado labor cénico que sublinha os ambientes assombrados que o disco quer sugerir, mais um momento de assimilação vocal de ecos da cultura hip hop (o que não é inédito na obra do grupo), representando este uma das duas contribuições de Warren Cuccurullo neste álbum. “Black Moonlight”, por sua vez, relativa a pulsação pop com travo funk que atravessou já vários outros discos dos Duran Duran, reunindo aqui Andy Taylor e Nile Rodgers. “Confessions in the Afterlife” (onde se escuta Dom Brown, o guitarrista que nos últimos anos tem acompanhado a banda em palco) é uma canção mais sombria, mais lenta, na tradição das grandes baladas dos Duran Duran.
A estes episódios maiores – que confirmam o bom momento criativo que a banda vive já com mais de 40 anos de estrada – o álbum junta bons momentos nas novas visões criadas para “Psycho Killer” dos Talking Heads (com a colaboração da baixista Victoria DeAngelis, dos Maneskin), “Spellbound” de Siouxie and the Banshees, “Supernature” de Cerrone ou na inesperada leitura para “Burk a Friend”, de Billie Eilish (a única das versões de “Danse Macabre” que não integrava o concerto de Las Vegas). Está longe do fulgor destas a versão menor “Paint It Black” dos Rolling Stones, assim como parece algo equívoca a inclusão de “Ghost Town” dos Specials, que na origem não era exatamente coisa sobre fantasmas, mas antes um retrato realista e crítico de tempos de crise profunda que a sociedade britânica vivera na reta final dos anos 70, falando na verdade de desemprego, violência e do quotidiano nas franjas suburbanas das grandes cidades. Quanto às novas leituras, se o mashup de “Lonely In Your Nightmare” com “Super Freak” de Rick James sublinha a eficácia do tom festivo que têm apresentado regularmente em palco, já as novas abordagens a “Nightboat” (mais ambiental e fantasmática, mas menos musculada nas vitaminas pós-punk da canção de 1981), a “Love Voudou” (com nova grafia) e “Secret Oktober 31st” (com o mais belo lado B dos Duran Duran a perder as filigranas do trabalho para sintetizadores, apostando numa visão cénica diferente, mais pomposa e orquestral) não envergonham ninguém, mas em nenhum dos casos supera as propostas originais. De fora acabou “Shadows on Your Side”, canção do álbum de 1983 que passou pelo concerto em Las Vegas mas não chegou a “Danse Macabre”…
Convenhamos que o que aqui se partilha é um momento de festa e não o que um novo álbum de estúdio habitualmente desenha como forma de fixar mais uma etapa numa obra. E, mesmo aquém dos recentes “Future Past”, “Paper Gods” ou “All You Need Is Now” (discos que voltaram a elevar e manter alta a fasquia criativa do grupo), “Danse Macabre” não só responde ao desafio que nos coloca, como está uns valentes furos acima do muito mais desigual “Thank You”.
“Danse Macabre” dos Duran Duran está disponível em LP, CD e nas plataformas digitais, numa edição da Tape Modern/BMG.
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