
Esperávamos mais e melhor deste regresso dos Orchestral Manoeuvres In The Dark. Mas Andy McCluskey e Paul Humphreys não nos fizeram a vontade, seguindo um caminho que não lhes assenta bem.
A declaração é simples e redige-se em poucas palavras: prometo solenemente não entrar por caminhos onde a nostalgia possa imperar, uma vez que isso adulteraria a lucidez conveniente e necessária para textos deste tipo. Mas não será fácil, julgo eu. É que ouvir, e depois escrever, sobre o novo disco dos Orchestral Manoeuvres In The Dark, banda que aprendi a ter em muito boa conta desde o seu primeiro longa duração (Orchestral Manoeuvres In The Dark, 1980), não é tarefa singela. No entanto, e talvez por isso mesmo, não me escuso ao desafio, e avanço para a redação final com a consciência de que o passado foi lá atrás, passe a brincadeira com outra banda histórica, esta mais caseira do que a inglesa agora mencionada. O álbum é fresquíssimo e dá pelo nome de The Punishment of Luxury e apresenta-se em vários formatos: edição standard em cd; em cd e dvd Deluxe Edition; vinil; dois cds, dvd, vinil e livro em edição limitada, assim como nas usuais plataformas digitais. Uma autêntica luxúria, portanto. Sinal dos tempos, em que a variedade e o espalhafato tantas vezes escondem a pouca espessura do conteúdo em venda. É um pouco esse o caso vertente, infelizmente. Ainda mal.
Punishment of Luxury divide-se em duas partes distintas. Ou seja, dispara em caminhos opostos, um apostando no fulgor ensolarado da pop mais descarada (mas também mais inconsequente), outro aproximando-se de uma zona melódica mais sombria e com melhores resultados finais. Assim, julgar aquilo que se ouve no álbum, revelará sempre um lado mais adocicado (mas bastante mais amargoso ao nosso ouvido) e um outro mais cinzento, embora bem mais rico em identidade e brilho. O que pode parecer paradoxal, postas as coisas nos termos escolhidos, é na realidade a verdade maior do disco: o que aparenta, não é e o que não parece acaba por ser o que realmente importa e faz a diferença. Vamos por partes, então.
“The Punishment of Luxury”, tema de abertura do disco e canção-single escolhida como primeira amostra do mais recente trabalho dos Orchestral Manoeuvres In The Dark, é uma aposta que se percebe, embora nos pareça uma peça mediana, sobre a qual recai uma espécie de duran duranização que bem poderia ser evitada. Os OMD nunca tiveram grandes semelhanças com os homens de “Girls on Film”, e por isso soa a falso esse encosto a um registo que carece de identidade própria. Noutras canções é igualmente evidente algumas aproximações aos Kraftwerk, por exemplo, mas sem a mestria dos magos alemães. É o que acontece, a momentos, com “Isotype” ou “Robot Man”. Em ambas, o típico som da dupla Andy McCluskey e Paul Humphreys, que aprendi a reverenciar ao longo da década de oitenta, está praticamente ausente. Basta ouvir as referidas faixas, assim como “As We Open, So We Close” para que se possa perceber bem o que vos digo. Assim se conclui que o lado mais dancável e pop do álbum nunca me fará mexer as ancas e os pés com evidente agrado.
Por outro lado, e referindo-me à parcela mais sombria e suculenta de The Punishment of Luxury, há bons temas que é justo mencionar. “What Have We Done”, desde logo, mas também “Precision & Decay” (canção demasiadamente curta), “Kiss Kiss Kiss, Bang Bang Bang” e “Ghost Star”, talvez a melhor de todas. No entanto, nenhuma das doze faixas do álbum atinge sequer um terço da excelência de temas antigos e históricos da banda, como “Messages”, “Souvenir” ou “Joan of Arc (Made of Orleans)”.
Os Orchestral Manoeuvres In The Dark parecem ter querido apostar em fazer um bom par de hits com este The Punishment of Luxury. Admito que possam ter conseguido os seus intentos, mas falharam em relação aos meus ouvidos. Como se percebe melhor agora, nem mesmo a nostalgia que sinto quando um novo disco da banda surge, é suficiente para uma melhor apreciação deste recente longa duração. O próximo será melhor, seguramente. Resta esperar.
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