Como Tom Petty disparou em todas as frentes, enfrentou a poderosa indústria discográfica e saiu vencedor.

Pegando na expressão de um tal Almirante Farragut, que liderou a marinha dos Yankees durante a guerra civil americana – “Damn the Torpedoes…Full Speed Ahead” – os Heartbreakers atiravam-se forte e feio contra a sua nova casa editorial, a poderosa MCA.

A sua antiga Shelter Records, tinha acabado de ser vendida o que fez com que os direitos do catálogo da banda de “American Girl” e outros transitassem para a MCA.

Porém o rebelde sulista Petty não gostou de ser um mero pacote no negócio e tentou por todos os meios boicotar a entrada da sua banda no catálogo dos novos patrões. A primeira coisa que fez legalmente foi declarar a sua insolvência financeira pessoal no sentido de se libertar do contrato. Depois convenceu a MCA de que só voltaria a gravar se estes lhe entregassem de bandeja um novo contrato discográfico mais vantajoso e com maior liberdade artística sob o selo da indie Backstreet, outra companhia subsidiária do grupo.

Fazer isto nos dias de hoje já é como ir ali ao café buscar uns donuts para trazer para o escritório. Mas em 1979, no tempo em que meia dúzia de executivos sentados no topo de meia dúzia de escritórios de meia dúzia mega-editoras ditavam as regras do mercado e ficavam com 99% dos lucros de um disco de um artista, a conversa piava de outra forma.

A MTV ainda era uma miragem, a internet seria algo saído de um filme de ficção de científica, o download era algo inimaginável quanto mais as redes sociais, mas Petty foi dos primeiros a perceber o que era a integridade artística e o que ela poderia fazer contra o lucro ganancioso da indústria.

Foi no meio deste turbilhão burocrático que um dos mais brilhantes fenómenos rock n’ roll (a par de Springsteen e Patti Smith) saídos do legado musical dos Byrds, Bob Dylan e Neil Young, mas transportados temporalmente para uma década governada pela ética do punk e da new wave, começou a gravar nos Sound Studios em Van Nuys, arredores de Los Angeles.

Com o reputado e exigente produtor Jimmy Iovine ao leme do projecto, os Heartbreakers foram buscar forças e inspiração ao fundo do poço para entregarem o disco mais brilhante do seu longo catálogo.

Espremidos até ao tutano, nota-se que ao terceiro disco estavam maduros o suficiente para escrever canções extremamente eficazes como “Here Come My Girl”, tão imediatas como “Even the Losers” ou até mais arrojadas como “Shadow of a Doubt”.

Mas nada suplanta a entrada inicial de “Refugee”, uma das melhores canções rock de sempre, com um brilhante trabalho dos capatazes de Petty: Benmont Tench (teclas) e Mike Campbell (guitarra). Sem estes dois, a carreira do vocalista talvez nunca tivesse descolado dos pântanos da Florida. Também convém esquecer o papel dinâmico da dupla rítmica constituída pelo baterista Stan Lynch e o baixista Ron Blair. Com estes 5 tudo era possível. rock, pop, punk, blues, soul, country e uma pitada de folk, estava cá tudo. Poucos são os capazes de condensar estes elementos num som com marca própria. Mas por esta altura, os Heartbreakers sabiam e faziam o que queriam das suas canções como o picante “Don’t Do Me Like That” ou a balada “You Tell Me” ou o desvairado “What Are You Doin’ in My Life?”.

A fechar o baile, “Louisiana Rain”, uma canção em que Petty volta às suas origens sulistas onde é inevitável que haja um ligeiro aroma a country.

Com estes “torpedos” todos, carregados de boa música, não admira que passados quase 40 anos, o disco ainda soe bastante fresco, vital e enérgico, sendo cotado por muitos como o “topo da montanha” musical da máquina de rock n’ roll que eram Tom Petty & The Heartbreakers.