Inspirado no seu nome por uma mulher asiática, Aja é um dos melhores exemplos da fusão entre jazz e rock.

A 5 de julho de 1974, no Santa Monica Civic Auditorium, os Steely Dan encerravam as suas atividades enquanto banda ao vivo. Para Walter Becker e Donald Fagen, mentores do projeto desde 1971, os seus sonhos musicais residiam num estúdio e não na estrada.

A banda original, que contava com os préstimos do baterista Jim Hodder e dos guitarristas Danny Diaz e Jeff “Skunk” Baxter” desfez-se e o duo original continuou o seu percurso singular. Mais jazz do que rock, mais funk do que blues, mais pop do que soul. Os Steely Dan publicaram entre 1975 e 1976, Katy Lied e The Royal Scam. Discos arrojados que prepararam o caminho para que aparecesse em 1977, o disco maior das suas carreiras: Aja.

Editado a 23 de Setembro de 1977, Aja contava com a dupla maravilha (Becker e Fagen) inspiradíssima na composição de canções e com um batalhão de “tubarões do estúdio” para embelezarem o disco.

Aparecem aqui nomes importantes do jazz/fusão como Larry Carlton ou Lee Ritenour (nas guitarras), os bateristas Steve Gadd e Jim Keltner e para abrilhantar as vozes secundárias, nomes do cenário pop/rock como Michael McDonald (The Doobie Brothers), Timothy B. Schmit (Eagles), Clydie King e Vanetta Fields que cantaram para toda a gente desde os Rolling Stones até Bob Dylan.

O disco abre com o “Black Cow”. Subtileza pop com laivos de jazz e uma batida funk. Um som muito bem produzido pelo habitual Gary Katz. O “ouvinte” está em casa. Não há aqui grandes truques. É apenas um conjunto de bons músicos a tocarem música simples, mas que ao mesmo tempo soa a complexa e arrojada.

A viagem segue com o tema que empresta o título ao disco. O tema foi inspirado numa mulher coreana que Fagen conheceu chamada “Aja”. Inclui os talentos do saxofonista Wayne Shorter, nome maior da cena jazz. Não é certamente uma brincadeira de miúdos no parque, mas esta canção com quase oito minutos de duração tem qualquer coisa de misterioso, mas que no final soa sempre a algo feito com muita mestria e classe.

Aliás – classe – é um dos adjetivos que classifica o som dos Steely Dan deste período. “Deacon Blues” não é exceção. A canção é sobre os sonhos e aspirações de um músico de jazz “on the road”…” Learn to work the saxophone…I play just what I feel…Drink Scotch whiskey all night long…And die behind the wheel”.

E com as vozes de Michael McDonald bem inseridas, o lado B do antigo vinil abre com “Peg”. Curiosamente o single de maior sucesso do disco pisca um olho à soul embora firmemente plantada em território jazz. O mesmo se aplica a “Home at Last” e a “I Got the News” onde o grupo vai em velocidade cruzeiro aplicando as mesmas fórmulas dos temas anteriores.

E para o fim, talvez a melhor música do disco (a par de “Black Cow” e “Aja”), “Josie” é Steely Dan no seu melhor: jazz, pop e rock em uníssono. Uma amena confraternização de estilos que talvez só seria possível num disco de Zappa. Mas aqui com contornos muito mais “user-friendly”.

Depois disto, os Steely Dan tornaram-se uns gigantes da indústria. Aja chegou a ser quíntupla platina só nos EUA. Mas a inspiração deste calibre, nunca mais seria a mesma. Acabariam por regressar à estrada em 1993 e periodicamente aos discos entre 2000 e 2003.

Tragicamente, em setembro de 2017, Walter Becker faleceu, deixando Donald Fagen a sós com o nome da banda. Este acabou por referir que iria continuar a tocar sob a bandeira Steely Dan nos tempos vindouros.