Tim Darcy, vocalista e líder dos canadianos Ought, resolveu gravar projectos que foi deixando de parte, juntando-os para o seu primeiro disco a solo e o resultado é melhor que a soma das suas partes.

Natural de Montreal, Tim Darcy apresentou-se ao mundo através da sua banda, os Ought. O quarteto pós-punk está reunido desde 2011, altura em que os membros da banda canadiana começaram a viver juntos no mesmo local onde gravavam os seus primeiros sons. O seu EP de estreia, New Calm, acabaria por ser lançado no ano seguinte.

Galvanizados pelos grandes protestos no Quebeque, os Ought editariam os seus primeiros discos de longa duração, More Than Any Other Day, de 2014 e Sun Coming Down, apenas um ano depois, com o intuito de libertarem os seus sentimentos criados pelo assistir in loco ao decorrer daqueles eventos.

Em 2017, o registo é outro. Enquanto líder dos Ought,  Tim Darcy (anteriormente conhecido por Tim Beeler) sempre fez lembrar David Byrne ou Isaac Brock, vocalista dos Modest Mouse. Já em Saturday Night, seu primeiro disco a solo, Darcy vai à procura de outro tipo som. Uma espécie de viagem pela história do rock alternativo mas num registo mais lo-fi.

Gravado em Toronto, em vez da sua tradicional Montreal, Saturday Night encontra um Tim Darcy mais introspectivo, com um som menos abrasivo e menos rápido do que era anteriormente ouvido nos Ought. Com isto não se pense que este é um disco acústico singer-songwriter. Nele encontramos influências de Lou Reed ou até, imagine-se, Roy Orbison.

“Tall Glass of Water,” a música que abre o disco é, certamente, a faixa mais acessível de Saturday Night. Uma mistura do college rock dos R.E.M com a atitude de um Lou Reed, tornaram-na num dos hinos de 2017.

O disco, composto por dez faixas, todas com um mundo muito próprio, algumas até de difícil digestão, fazem de Tim Darcy um compositor mais versátil do que esperado com os Ought. “Joan Pt 1, 2” é exemplo disso mesmo. Uma viagem pelo rock de garagem apimentado com uma dose de psicadelismo negro.

Mudamos de rumo em “You Felt Comfort” com um rock mais directo e crú enquanto logo de seguida chega-nos o primeio momento Roy Orbison do disco com “Still Waking Up”.

Passando por músicas mais instrumentais e experimentais até ao fim do disco, o que nos fica na cabeça é que Tim Darcy não teve medo de arriscar. Pegou em todas as suas ideias perdidas e decidiu misturá-las num disco que teria muitas possibilidades de dar errado. No entanto, mais do que um tema a unir as canções, o que as une é a atitude e a sua alma errática.

Saturday Night, não sendo um disco expectional, acaba por ser uma boa estreia a solo de um músico que se sente confortável em terrenos que outros teriam muita dificuldade em navegar.