sábado, 8 de março de 2025

Tina Turner “Queen of Rock and Roll”

 Começou cedo, a apanhar algodão, ainda em menina, com a família, no Tennessee, onde nasceu (em Brownsville), em 1939. Ainda muito jovem trabalhou como empregada doméstica e enfermeira. Cantava na igreja e foi de um encontro com Ike Turner (considerado como o autor da primeira canção de rock’n’roll, em 1951), que o seu caminho profissional a levou definitivamente à música. Em conjunto com Ike criou um projeto comum que encheu salas e foi gerando uma discografia. Mas a vida doméstica longe de pacífica, com frequentes e repetidos episódios de violência física e psicológica que a própria descreveria mais tarde na autobiografia “I Tina” acabou por ditar o fim da dupla. E a partir de 1978, Tina Turner, que tinha já editado dois primeiros álbuns a solo antes do fim da parceria com Ike, tomou definitivamente o seu caminho nas mãos. 

Mas os primeiros tempos a solo não são fáceis. E o seu quarto álbum a solo, “Love Explosion”, em 1979, acaba por ter vendas tão discretas que a editora termina então o relacionamento com a cantora. Não desiste. Canta em clubes e salões de baile. Por essa altura é convidada por Rod Stewart para com ele cantar “Hot Legs” no Saturday Night Live. Pouco depois faz as primeiras partes da digressão americana dos Rolling Stones em 1981. E é levada a estúdio por Martyn Ware e Ian Craig Marsh (dos Heaven 17 e da British Electric Foundation) para interpretar uma versão de “Ball Of Confusion” (que surge no álbum coletivo “Music Of Quality and Distinction”, em 1982). Com eles volta a trabalhar pouco depois, chamando-os, já sob um novo contrato com a Capitol, para produzir a gravação de uma versão de “Let’s Stay Together” (1983), um clássico de Al Green, single que trepa até ao número um da tabela de música dança da Billboard e atinge o número 6 no Reino Unido, seduzindo muitos outros mercados europeus. Este seria o primeiro passo que a levaria a um patamar de sucesso como nunca antes tinha conhecido, e que teve o seu primeiro alicerce no magnífico e incrivelmente bem sucedido “Private Dancer”, editado em 1984.

O início desta etapa do percurso de Tina Turner, que arrancou em 1975, a conquista do sucesso global entre 1983 e 84 e os muitos feitos que depois a cantora juntou à sua discografia até ao momento em que resolveu sair de cena, são a matéria prima para aquela que é a mais extensa antologia da sua obra a solo e que, sem surpresas, se apresenta com o título “Queen of Rock and Roll”.

Entre três discos no formato de CD e cinco na versão em vinil, em caixas cujos booklets trazem valor acrescentado, contando a história de cada uma das canções aqui reunidas em pequenos textos aos quais se junta um outro, de Bryan Adams, com quem Tina contracena num dos episódios aqui recordados: “It’s Only Love”. O alinhamento, com 55 canções, sugere um percurso cronologicamente ordenado entre “Whole Lotta Love” (versão do clássico dos Led Zeppelin e “Acid Queen”, ambos de 1975 e a remistura, por Kygo, de “What’s Love Got to Do With It”, de 2020. Os temas reunidos correspondem a singles editados mas, tal como cautelosamente a informação no sticker da capa refere, estamos perante um “best of” e não uma “integral” dos lançamentos a 45 rotações. De facto ficam de fora alguns singles com edições locais, como “Under My Thumb” (1975) editado na Austrália, “I Want to Take You Higher” (1976) que surgiu neste formato na Alemanha e EUA ou o “Come Together” (com “I Want To Take You Higher” na outra face, também de 1976), editado em Portugal… Estão contudo aqui os episódios com dimensão internacional que, de certa forma, definem a discografia canónica de uma carreira que, mesmo nestes momentos difíceis, atingira já uma dimensão mundial nos dias do percurso partilhado com Ike, estatuto que seria retomado e, de resto, amplificado, depois de “Private Dancer”.

Não faltam assim as canções que deram visibilidade planetária às canções deste álbum de 1984, assim como as extraídas dos sucessores “Break Every Rule” (1986), “Foreign Affair” (1989) e “Wildest Dreams” (1996). Entre estes colossos de popularidade foram surgindo parcerias, algumas delas gravadas ao vivo, que geraram singles assinados a meias com David Bowie, Bryan Adams, Eric Clapton, Rod Stewart, Barry White, Elisa ou Eros Ramazotti, e ainda edições em single de novas versões (ao vivo ou remisturadas) de alguns clássicos da dupla Ike & Tina, entre os quais, inevitavelmente “River Deep Mountain High” que assinalou, na sua edição original em 1966, um momento de afirmação de personalidade da cantora perante o domínio criativo habitualmente exercido por Ike. O olhar panorâmico fica bem servido. Pela frente há ainda espaço para mais abordagens com detalhe a juntar às que, nos últimos anos, permitiram olhar para os tempos em volta dos álbuns “Private Dancer”, “Break Every Rule” ou “Foreign Affair”.



Sem comentários:

Enviar um comentário

Destaque

Candi Staton – Back to My Roots (2025)

  Em janeiro de 2025, a Americana Music Association concedeu ao "ícone lendário do soul" Candi Staton seu maior prêmio, um Interna...