Filho de pais com raízes mexicanas e irlandesas, com primeira etapa de vida na sua São Francisco natal, Jess Sylvester, ou Marinero se olharmos para as capas dos seus discos, é um bom exemplo de como a geografia do local onde a música desponta pode influenciar as ideias. Desde cedo deixou os ecos da identidade latina bem evidentes entre canções ora cantadas em inglês ora em espanhol. Ao evoluir de “Topico de Cancer” (2019) para “Hella Love” (2021) curiosamente lançou mais olhares e sonhos mais a sul, juntando a uma linguagem indie com afinidades ao soft rock e a terrenos dream pop alguns condimentos mais “tropicais”, como por exemplo o travo bossa de “Trough The Fog”. Mas entretanto a sua vida levou-o a mudar de casa. E uns quilómetros mais a Sul, em Los Angeles, encontrou novos estímulos, referências e afinidades que, agora, fazem de “La La La” o mais cativante dos títulos de uma discografia ainda em construção.

Os elementos que demarcaram a identidade de Marinero entre os seus dois primeiros álbuns mantém-se presentes e evidentes. Porém, na terra dos Beach Boys, as heranças do mítico grupo que nasceu em Hawthorne (na região suburbana de Los Angeles) juntam-se à paleta de cores com as quais aqui nascem as canções de perfil mais doce e suave, onde a costela soft rock e um apelo por uma certa pop barroca (afinal Van Dyke Parks andou também por ali) como se sente, discretamente, em “The Mistery of Mari Jane” ou “Sea Changes”. Porém, os ares de Los Angeles estão longe de mostrar um caminho único na direção dos manos Wilson, primo e amigos. E, desde a proximidade de Hollywood (em “Cinema Lover”, que sugere ecos mexicanos ou no episódio de sabor lounge, em “Hollywood Ten”) ou de uma ainda mais visível presença das raízes latinas (ora na salsa que invade “Taquero” ou na vinheta “Cha Cha Cha”), às teclas à la Manzarek (Doors, portanto) em “Die Again Yesterday” (canção que traduz de forma magistral os desejos, bem concretizados, de uma cenografia mais elaborada que marca o disco), o terceiro álbum de Marinero respira os ares e a luz da cidade, assim como os cruzamentos de culturas que ali moram.
O disco cujo título vinca desde logo o novo mapa em volta de Marinero, sublinha mais do que nunca as ambições cénicas de canções que já se adivinhavam nos discos anteriores mas que só agora, sob os contrastes entre músculo e filigrana de arranjos de dimensão orquestral, atingem um patamar capaz de lhe proporcionar outra visibilidade. Claramente um disco a descobrir.
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