CRONICA - DON FELDER | The Vault – Fifty Years Of Music (2025)

 

Guitarrista talentoso e compositor frequentemente inspirado, Don Felder produziu relativamente pouco ao longo de sua carreira. Foi apenas mais tarde que o ex-Eagle reviveu uma carreira solo que nunca havia existido de fato até então. Diferentemente de seus dois álbuns anteriores, * The Vault* é único, pois o guitarrista mergulhou em seus arquivos de demos para gravar adequadamente aquelas que considerava mais valiosas. Assim, 50 anos de composições são resumidos nessas onze faixas, embora poucas sejam anteriores à década de 1990. Isso significa que Felder não foi muito prolífico como compositor, ou que a maioria de suas demos não estava totalmente desenvolvida? Provavelmente um pouco de ambos. De qualquer forma, aqueles que esperavam encontrar faixas rejeitadas por Henley e Frey durante o auge de suas carreiras ficarão desapontados.

De fato, apenas "Move One" data dos anos 70, mais precisamente de 1974, ano em que ele entrou para os Eagles. É uma pena que não tenha sido incluída no álbum * On The Border * (onde o guitarrista foi apenas um músico convidado), pois poderia facilmente ter substituído faixas menos empolgantes do que essa cativante canção de rock. Obviamente, gravada hoje com a nata dos músicos de estúdio dos anos 80 e 90 (incluindo Gregg Bissonette e Brian Tichy na bateria, Nathan East e Matt Bissonette no baixo, e David Paich e Greg Phillinganes nos teclados), é claro que não soaria como nos anos 70. Mesmo assim, não podemos negar o prazer dessa canção de rock melódica, descontraída e cativante que não revoluciona nada, mas acerta em cheio. O principal defeito da faixa, assim como no álbum anterior, são os vocais de Felder, tão processados ​​que soam sintéticos. É uma pena, porque o resto da produção (e especialmente as guitarras com timbre quente) soa muito bem. 

A faixa mais recente (2024), "Free At Last", é uma música AOR refinada com um ritmo disco sutil e muito eficaz. Ela se encaixaria perfeitamente em um álbum do Night Flight Orchestra, especialmente com seu refrão simultaneamente melancólico e cativante. O rock descontraído, quase como uma balada, de "Hollywood Victim" teria facilmente encontrado seu lugar em um álbum dos Eagles, se eles não tivessem se separado em 1984. Composta apenas um ano após o lançamento de seu primeiro álbum solo, infelizmente não estará neste. Composta em 1992, "Last All Night" ainda reflete fortemente as influências do rock dos anos 80 e é uma faixa fácil de bater o pé. A voz de Joseph Williams é facilmente reconhecível nos vocais de apoio. O primeiro deslize vem com "Digital World", uma faixa reggae que evoca mais as praias de Miami do que as da Jamaica. É uma pena que a participação de Steve Lukather seja justamente nessa música reggae para ricos, mesmo que seu solo seja o elemento mais satisfatório da faixa.

Uma ode um tanto desajeitada à sua parceira, mais jovem que seus próprios filhos, a recente "I Like The Things You Do" acerta em cheio no estilo rock melódico, e embora a linha vocal seja talvez um pouco simplista demais, ainda assim é eficaz. Outra canção de 1992, "All Girls Love To Dance", parece ter sido composta pensando em Don Henley. De fato, poderia ter sido um sucesso para o vocalista dos Eagles, que adotou um estilo semelhante nos anos 80. Novamente, você vai bater o pé no ritmo, os teclados estão bem colocados e a guitarra (tanto a rítmica quanto a solo) é deliciosa. Até mesmo os vocais sintetizados de Felder soam menos estridentes aqui. A única crítica são os vocais de apoio, às vezes excessivamente intrusivos (aqueles "we love it"s fora de hora eram desnecessários e sobrecarregam a letra). A balada suave "Together Forever", de 1991, está muito no espírito daquelas canções leves e açucaradas da primeira metade dos anos 90. Seal teria se sentido em casa ali. Dado o som rock marcante do álbum, não vamos reclamar muito; era necessário oferecer algo para satisfazer os fãs dos Eagles que preferem baladas.

A inclusão de "Heavy Metal" é mais surpreendente, visto que a faixa já havia saído da fase de demo e se tornado parte da trilha sonora do filme homônimo (e, aliás, a única música do guitarrista a alcançar o Top 50). Talvez porque simplesmente não estivesse em nenhum de seus álbuns? Embora esta nova versão não seja ruim, ostentando uma produção mais moderna e um som mais pesado, não se pode dizer que seja essencial, já que, de resto, segue a original completamente. E pelo menos em 1981, Felder não usava efeitos digitais em sua voz. Composta em 2001, ano de sua saída dos Eagles, "Let Me Down Easy" é uma balada folk-rock que teria se encaixado perfeitamente em sua antiga banda. Consciente de que a música merecia uma interpretação vocal mais expansiva, Felder cedeu o lugar à cantora sueca Nina Kinert, que entregou uma performance de primeira linha, ainda que um tanto convencional (mas perfeitamente adequada ao estilo da canção). O álbum terminou suavemente com a faixa instrumental acústica "Blue Skies", acompanhada pelo Orchis Quartet, uma peça composta em 2016 que serviu como um lembrete de que Felder possui um toque igualmente refinado tanto em instrumentos acústicos quanto elétricos. 

Embora não seja o álbum do ano, The Vault é um sólido disco de rock melódico que certamente agradará aos fãs do gênero. Apesar de algumas escolhas de produção, particularmente o tratamento vocal (especialmente o de Felder, mas também os vocais de apoio em alguns momentos), que impedem o álbum de atingir o nível de entusiasmo que poderia ter alcançado, é comum ouvi-lo com grande prazer. Em um momento em que os Eagles se dedicam a turnês sem paixão, beirando o plágio, é o guitarrista em desgraça que merece nossa atenção. Isso serve como um lembrete de que seu papel no sucesso dos Eagles foi tudo menos insignificante, ao contrário do que alguns querem nos fazer acreditar. 

Títulos:
1. Move On
2. Free At Last
3. Hollywood Victim
4. Last All Night
5. Digital World (com Steve Lukather)
6. I Like The Things You Do
7. All Girls Love To Dance
8. Together Forever
9. Heavy Metal
10. Let Me Down Easy (com Nina Kinert)
11. Blue Skies (com Orchid Quartet)

Músicos:
Don Felder: Vocal, guitarra;
Nathan East: Baixo;
Matt Bissonette: Baixo (2);
David Paich: Teclados, vocais de apoio;
Greg Phillinganes: Teclados;
Brian Tichy: Bateria;
Gregg Bissonette: Bateria (1, 2) ;
Chad Cromwell: Bateria (9);
Jim Keltner: Bateria (10);
Todd Sucherman (6)

Produzido por: Don Felder e Julian Chan