terça-feira, 2 de agosto de 2022

Joan Baez: a lenda viva que concilia a música com o ativismo

 

Joan Baez: a lenda viva que concilia a música com o ativismo


O lado ativista de Joan Baez mostrou-se de várias formas, mas resumia-se num só objetivo: promover a paz. Polémica e contrapoder, Baez já viveu o suficiente para ver nascer astros e vê-los cair. Ao longo dos anos, tem-se mantido na categoria de lenda, posição de que ela própria está consciente. Tudo começou nos anos 60.

De menina a estrela folkJoan Baez nasceu no ano de 1941. O pai trabalhava na UNESCO e, como resultado, ela era obrigada a viajar de cidade em cidade, de país em país. Durante a infância e adolescência, a família Baez viveu em Inglaterra, França, Suíça, Canadá e Iraque. A diversidade cultural com que foi contactando viria a determinar a visão do mundo da futura artista que, lentamente, começava a despertar para assuntos como os direitos civis ou o combate à violência.

A carreia musical começou no inicio dos anos 60, em conjunto com a irmã mais velha, com quem normalmente costumava compor. O sucesso foi praticamente imediato: Joan Baez destacava-se pela voz soprano e pelo violão de que se fazia acompanhar. Em 1963, Joan já era uma das artistas mais famosas e acarinhadas dos Estados Unidos da América.

Foi também no início da década que se deu o envolvimento com Bob Dylan. O artista, que dava os primeiros passos, chamou a atenção de Baez, na altura já em ascensão ao título de Rainha do Folk. Inicialmente interessado pela irmã, Dylan acabou por se apaixonar por Baez, muito devido à pressão mediática, dizem. Independentemente do motivo, os jovens mantiveram-se juntos e a união transpareceu na música.

Anos mais tarde, a relação começou a deteriorar-se graças àquilo que Joan Baez considerou uma frieza desnecessária por parte de Dylan, assim como por divergências políticas que se acentuaram. De acordo com a filha do cantor, citada pelo Daily Mail, Dylan recusou casar-se com Baez porque ela era tão controladora quanto ele, e porque o jovem  não queria competir musicalmente com a namorada.

Entretanto muito se especulou na imprensa sobre os reais motivos da separação. Numa entrevista recente em que Dylan foi assunto, Baez optou por uma posição mais resguardada. Quando questionada se os dois ainda mantinham contacto, a cantora e ativista respondeu com um sorriso, dizendo que “é impossível alguém manter-se em contacto com Bob Dylan“.

O humor que mostrou na reposta esteve sempre presente ao longo do seu trabalho. Ao mesmo jornal, a cantora falou com naturalidade, referindo uma pergunta caricata sobre a a vida pessoal muito mediatizada. Além de Bob Dylan, Baez envolveu-se com o jornalista e manifestante, David Victor Harris, com quem partilhou várias causas, e com o fundador da Apple, Steve Jobs.

“Uma vez uma jornalista australiana ligou-me e disse: «alguma vez lhe ocorreu que é a única mulher no mundo que viu tanto Steve Jobs como Bob Dylan nus?» Respondi-lhe: «mas nunca ao mesmo tempo»”, contou bem-humorada.

As muitas causas de Joan Baez

A longa carreira musical de Joan Baez tem originais, mas é de covers que se faz a maior parte do seu trabalho. Diamond & Rust, que escreveu em novembro de 1974, será provavelmente o seu original mais conhecido. A discografia conta com um total de 32 discos e 15 compilações e dela fazem partes grandes clássicos, como The Night hey Drove Old Dixie Down e House of the Rising Sun.

De ascendência metade hispânica, metade escocesa, Joan Baez começou no folk, mas com o tempo foi abraçando outros géneros, do pop ao country, passando até pelo gospel. Críticos dizem que a atividade política terá, em certa medida, comprometido o sucesso como cantora, desviando as atenções de Baez para as causas e não para as músicas. Mas quais as (muitas) causas a que a cantora esteve associada? Apresentamos abaixo algumas das mais importantes.

Movimento pelos Direitos Civis

Mesmo antes de se tornar conhecida, Baez já era ativista. Na década de 50 ouviu pela primeira vez um discurso de Martin Luther King Jr. Pouco depois, os dois tornaram-se amigos e Baez começou a participar em várias manifestações do Movimento pelos Direitos Civis. Quando tinha 17 anos, cometeu o seu primeiro ato de desobediência, recusando-se a abandonar o liceu de Palo Alto. Mais tarde, como cantora, continuou a apoiar o movimento com temas icónicos como We Shall Overcome.

Guerra do Vietname

Na segunda metade do século XX, a investida dos Estados Unidos da América contra o Vietname levantou várias vozes que se opunham à violência. Joan Baez foi uma delas: a jovem chegou inclusive a ser presa duas vezes por tentar bloquear as forças armadas, em Oakland. No natal de 1972, Baez fez parte de uma delegação de paz que viajou até ao Vietname do Norte para entregar cartas aos prisoneiros de guerra norte-americanos. No meio da viagem, foi apanhada pelo Christmas Bombing.

Direitos humanos

Na década de 70, Joan Baez desempenhou um papel importante no apoio à criação da secção norte-americana da Amnistia Internacional. Mais tarde, graças à experiência no Vietname, a cantora decidiu fundar um grupo pela igualdade e contra a opressão, chamado Humanitas International. Desde então, o trabalho na área dos Direitos Humanos valeu-lhe vários prémios. Baez também viajou por vários países, intervindo em momentos importantes da História, como o Massacre de Tiananmen, em Pequim.

Oposição à pena de morte

Em 2005, Baez cantou Swing Low, Sweet Chariot durante uma manifestação contra a pena de morte. Em causa estava a execução de Stanley Williams, o líder de um gangue afro-americano de Los Angeles, famoso por ter escrito várias obras contra a violência no tempo em que esteve na prisão. Apesar do esforço, o protesto de nada serviu, uma vez que Williams acabou por ser morto, em 2005, com uma injeção letal.

Pobreza

Em 2006, Baez juntou-se a um grupo de manifestantes que protestavam contra o despejo dos agricultores comunitários da South Central Farm, em Los Angeles. A cantora passou a noite no topo de uma árvore e cantou temas do seu álbum em espanhol Gracias a la Vida.

Direitos dos homossexuais

A luta pelos direitos LGBT tem se mantido ao longo dos anos. Em 1978, Joan Baez participou num concerto contra a Iniciativa Briggs, cujo objetivo era impedir homossexuais de ensinar nas escolas do estado da Califórnia. Desde então, a artista participou em várias marchas LGBT, sendo que, em 1977, dedicou uma canção à comunidade: Blowin’ Away.

Estes são apenas alguns dos acontecimentos que marcam o ativismo da artista que usou a canção como arma. Pouco consensual, a Joan Baez cresceu em influência para se tornar numa das mais poderosas e importante mulheres do passado e da atualidade.


O punk folk popular de Frank Turner

 

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O punk folk popular de Frank Turner

Encontrar a identificação musical nem sempre é um processo rápido e instantâneo para os músicos. Frank Turner é um exemplo disso, pois iniciou o seu caminho no post hardcore e depois adaptou-se ao folk punk. Actualmente, o cantor britânico de 35 anos vive um momento privilegiado e de prestígio no mundo musical, resultado de uma grande mudança ao longo dos anos.

Com seis discos lançados, Turner já tem um percurso solo de respeito. De todos esses discos, ele foi nomeado para 13 prémios, e venceu três — inclui dois AIM Awards, que ganhou em 2011. Um ano depois, lançou o seu terceiro DVD, no Estádio de Wembley, na Inglaterra. Também participou de um show na cerimônia dos Jogos Olímpicos de 2012.

O sucesso de Turner veio após um início completamente diferente. Ele iniciou seu percurso como vocalista da banda Million Dead, que tinha como principal género o post hardcore. O cantor passou cinco anos junto com o grupo, antes de separar-se em 2005.

Turner trocou o som pesado do Million Dead por um ritmo mais calmo na carreira solo, através do folk punk. O início de carreira com o post hardcore foi resultado de um estilo de vida forte, segundo Turner. “Passava a maior parte do tempo a dormir onde conseguia, a andar pelas ruas e em busca de uma identificação”.

O cantor revelou ao site Phoenix New Times que a mudança para a carreira solo foi um passo importante também na vida. “Eu tentei achar meu conforto, o que é algo muito importante quando se é um artista.”

Turner não considera apenas o género musical folk punk em suas canções, pois também usa de influências de diversos géneros. “Eu não passo muito tempo a me definir, em termos de estilo, pois utilizo vários. As pessoas usam o termo folk punk demasiado, e acho que faz sentido”, comenta o cantor.

Os últimos dois discos de Turner foram muito bem aprovados. Tape Deck Heart (2013) e Positive Songs for Negative People (2015) chegaram ao segundo lugar entre os sucessos do Reino Unido. Tape Deck Heart foi o mais elogiado, e ganhou a boa avaliação de 76 em 100 no site Metacritic.

Em 2013, a música Recovery, do disco Tape Deck Heart, atingiu a primeira colocação nos Estados Unidos no género de músicas alternativas para adultos. Relembre este sucesso dos últimos anos.

O sucesso recente do cantor resulta em muitos shows, e Turner tem um calendário musical agitado nos próximos meses. Em tour com o seu último disco, Positive Songs for Negative People, ele está actualmente nos Estados Unidos e no próximo mês estará na França, onde se apresentará em cidades relevantes, como Mónaco. Embora seja pequenina, a capital monegasta é uma das cidades mais ricas do mundo e proporciona diferentes formas de entretenimento todos os anos – daí fazer sentido o show dele neste sítio em específico.

“Actualmente, uma das coisas que eu mais orgulho é o facto de que nós temos um incrível alcance. As pessoas trazem os seus familiares aos shows. Há jovens de todos os cabelos nos shows, ao lado de pessoas mais velhas. É música para as pessoas, música para todos”, afirma Turner.

Créditos: Allston Pudding

Em seu calendário oficial de shows não há visitas a Portugal em 2017. De toda sorte, aos 35 anos, Turner ainda tem muito tempo para seguir-se a destacar no cenário internacional com seu género musical diversificado do punk folk e, talvez, apresentar-se no país algum dia.

Desde 2011, Turner lança discos a cada dois anos.


Leslie Feist: a irreverência feminista sem temores

 

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Leslie Feist: a irreverência feminista sem temores

Com uma voz única e um estilo muito próprio, Leslie Feist – mais conhecida simplesmente pelo seu apelido – regressa com um novo trabalho musical após um hiatus de 6 anos. A artista canadense, que divide o seu tempo entre a carreira a solo e como membro da banda Broken Social Scene, não nos apresentava novos temas musicais desde o seu álbum de 2011, Metal, que tinha sido já bastante aplaudido pela crítica.

Pleasure, de 2017, prometeu trazer a artista de novo para as luzes da ribalta. No entanto, antes de falarmos um pouco mais sobre este trabalho da artista, decidimos relembrar um pouco da sua história e da carreira que a colocou na posição onde se encontra hoje.

É no dia 13 de fevereiro de 1976 que nasce Leslie Feist, aquela que viria a ser uma das artistas mais proeminentes do cenário pop rock da música canadense. A aptidão pelas artes, e o interesse para tal, foi cultivado pelo próprio ofício dos pais. Mesmo que não estivessem ligados ao ramo da música, os pais trabalhavam em artes plásticas: o pai, pintor abstrato-expressionista e professor no Colégio de Arte de Alberta e a mãe, que estudou cerâmica e exerce esse talento.

Os primeiros anos de vida de Feist não foram propriamente os mais calmos: o divórcio dos pais acabou por resultar em algumas mudanças de residência. Com o irmão, Ben, Feist muda-se com a mãe para Regina, em Saskatchewa, e mais tarde para Calgary, em Alberta. Neste período, frequenta a escola como qualquer outra criança e adolescente e vai descobrindo paixão por duas coisas: a escrita e a música. Inicialmente, uma das suas aspirações passava mesmo pelo jornalismo. No entanto, o bichicho da música era alimentado também pouco a pouco à medida que ia participando em coros de música.

A decisão de uma carreira musical começa-se a tornar mais definida ainda em 1991 quando, com apenas 15 anos, Feist funda uma banda punk a que chama de Placebo (não, não é a mesma Placebo que bem conhecemos de Inglaterra) mas sim uma pequena banda de Calgary, constituída por alguns colegas da escola e amigos locais. Ainda que o trabalho desta Placebo não se tenha tornado conhecido, valeu-lhes algumas vitórias, nomeadamente uma vitória numa batalha de bandas local e a abertura de um concerto dos Ramone.

Após cinco anos a fazer tour, Feist decide, no entanto, dar uma pausa à música para recuperar a voz e se dedicar a novos projetos. Da pequena vila de Calgary mudou-se para Toronto, em 1998, onde, com a sua guitarra, consegue um lugar na banda By Divine Right. Nesse mesmo ano lança ainda o seu álbum de estreia solo, Monarch (Lay Your Jewelled Head Down).

Em 2000, Feist muda-se para um apartamento na Queen Street West, em Toronto, tendo como colega de casa Merrill Nisker, que integrava a banda de electro-punk Peaches. É esta amizade com Nisker que lhe abre alguns convites futuros: é vocalista convidada em The Teaches of Peaches e conhece aqui Gonzales, com quem vive os dois anos que se seguem, em Berlim, e onde escreve algumas das canções que surgem mais tarde em Let It Die.

Durante o seu período na Europa colabora com os noruegueses Kings of Convenience, no albúm Riot On a Empty Street e entra ainda no álbum dos de The New Deal, intitulado Gone Gone Gone e ainda no trabalho dos Apostle of Hustle, o álbum Folkloric Feel de 2004. No entanto, este período não foi apenas para gravar álbuns de outras bandas: é entre 2002 e 2003 que grava o seu segundo álbum a solo, Let It Die, em Paris.

Feist: o sucesso de Let It Die

Let It Die era completamente diferente de tudo o que Feist tinha feito até então, combinando  jazz, bossa nova e indie rock, tendo sido aclamado como um dos melhores álbuns pop canadenses de 2004. O facto do single “Mushaboom” ter feito parte de um anúncio para um perfume da Lacoste ajudou imenso a promover o trabalho da artista.

No inicio de 2006, Feist voltou à Europa para gravar o álbum sucessor de Let It Die com Gonzales, Mocky, Jamie Lidell e Renaud Letang. Um álbum de misturas e colaborações, chamado Open Seasons que foi lançado a 18 de Abril em 2006 no Canadá.

O terceiro álbum a solo de FeistThe Reminder, foi lançado em 2007 e levou a artista numa tour mundial para promover o seu trabalho. Em 2011, chega então o álbum Metals, que referimos no início deste artigo e que uma vez mais prova ser um ponto marcante na carreira da artista, valendo-lhe o Polaris Prize.

Metals foi o seu disco que alcançou os lugares mais cimeiros dos tops de vendas, entrando diretamente para o n.º 9 da tabela da Billboad. Foi eleito Álbum do Ano pelo New York Times, venceu o Polariz Prize e quatro Juno Awards. Até à data, Feist já venceu mais de 3 milhões de discos em todo o mundo e ultrapassou os 500 milhões de streams.

Pleasure:  de Feist chega 6 anos depois

Em 2017, seis anos depois do seu último álbum, chega ao mercado o novo trabalho de Feist: Pleasure.

Pleasure assume-se como uma reflexão sobre segredos e vergonha, solidão e ternura, carinho e fadiga e é, no fundo, um estudo sobre autoconsciência. Este que é o quarto álbum da cantautora canadiana Leslie Feist, Pleasure parte do naturalismo de Metals, e surge como o seu trabalho mais desafiante e expansivo até à data. E apesar de cada álbum que lança se distinguir do seu antecessor, Pleasure mostra a mais extraordinária profundidade da arte da cantora, nomeada já por quatro vezes para os Grammy.

Gravado ao longo de três meses, entre Stinston Beach, Nova Iorque e Paris, Pleasure foi coproduzido por Feist com os colaboradores de longa data Renaud Letang e Mocky. Além de reafirmar Feist como uma guitarrista inventiva, o álbum aborda uma voz sempre em mudança que se alia a arranjos esparsos e crus.


Fleet Foxes em busca da identidade na natureza da Música

 

Fleet Foxes em busca da identidade na natureza da Música

Ainda que influenciados pelo country-rock americano e pelo folk-rock britânico, os Fleet Foxes mostraram-se, desde o seu início em 2008, capazes de fazer algo realmente especial com essa mistura de estilos e influências.

Recebida com entusiasmo pela crítica e pelo público, a banda rapidamente chamou a atenção das editoras e lançou “Sun Giant EP” que antecedeu alguns meses antes o autointitulado álbum de estreia.

Nesse registo único, a banda formada por Robin Pecknold (vocalista e guitarrista), Skyler Skjelset (guitarrista), Casey Wescott (teclista), Christian Wargo (baixista) e Morgan Henderson (multi-instrumentista e percussionista) obteve um impacto profundo no cenário musical internacional, com entrada em inúmeras listas de “Best of”, incluindo as de publicações como a Rolling Stone ou a Pitchfork.

Depois o disco “Helplessness Blues”, de 2011, expandiu o som exuberante do grupo de Seattle e foi novamente louvado pelos críticos, com uma nomeação para “Melhor Álbum Folk” nos Grammy.

Uma aclamação acompanhada pela dedicação do público, com a banda a acumular milhões de seguidores um pouco por todo o mundo.

 

Por tudo isso foi bastante inesperado o rumo do grupo em 2012, quando Robin Pecknold (vocalista, guitarrista e compositor) afastou-se da banda, revelando a sua vontade de desistir da música.

Perante a crise de identidade, o músico deixou Seattle, inscreveu-se num curso de carpintaria, seguido de um curso de Humanidades na faculdade. Temeu-se o pior com o silêncio a prolongar-se até 2016, quando foi revelado que após o período de afastamento, o grupo estava de regresso ao estúdio.

Crack-Up”, o tão aguardado terceiro álbum, chegou seis anos após o lançamento de “Helplessness Blues” e foi gravado em vários locais dos Estados Unidos.

É provavelmente o registo mais complexo da banda até agora, com composições e letras densas, embora sem abafar as harmonias cintilantes que já são a marca registada do grupo

Destaque

Autoramas

  Banda formada no Rio de Janeiro, em 1997, por Gabriel Thomaz na guitarra, Nervoso na bateria e Simone no baixo, com a ideia de fazer ...