Resenha
A Deeper Understanding
Álbum de The War On Drugs
2017
CD/LP
O quarto álbum de estúdio do projeto The War On Drugs de Adam Granduciel desde o título já apresenta seu objetivo. Trata-se de um conhecimento íntimo e profundo, daquilo que está lá dentro, mas também é a jornada até lá. E não poderia ter sido melhor... "Up All Night" abre o disco com um batida descontraída e até despretensiosa. Ainda assim, ela vai crescendo e apresentando muitos elementos que estarão presentes em outras faixas. "Pain" é o primeiro grande momento do álbum. A faixa abre com um excelente riff de guitarra, introduzir as paisagens musicais para os demais instrumentos criarem um ambiente incrível onde Granduciel irá colocar suas letras e sua voz. A letra fala diretamente do "profunda compreensão" que intitula o álbum. Após um longo período de depressão clínica que o vocalista passou durante a gravação e turnê do álbum "Lost in the Dream" (2014), Granduciel expõe toda sua dor, assim como toda a compreensão que teve durante o enfrentamento desse árdua jornada. "Holding On" continua na mesma potência e grandiosidade da faixa anterior. Sem esconder as influências oitentistas, Adam Granduciel em muito soa como um Bruce Springsteen. Isso poderia ser um erro, mas o compositor entende como colocar e respeitar essas influências. Com um trabalho impecável dos demais músicos, a jornada de compreensão atinge incríveis momentos nessa faixa, com uma batida extremamente envolvente e um crescimento poderoso até seu final. "Strangest Thing" é a faixa mais Dire Straits do álbum, o que é ótimo. Parecendo sair diretamente do lendário "Brothers in Arms" (1985), existe um equilíbrio excelente entre as guitarras elétricas e o órgão Hammond, possibilitando que mais uma vez Granduciel possa colocar suas letras e voz, lembrando o estilo de Mark Knofler, de maneira belíssima, dessa vez tratando sobre momentos estranhos entre a beleza e a dor. Os solos de guitarra que entram entre as estrofes só elevam toda a atmosfera. "Knocked Down" é um intervalo na intensidade do álbum, mas sem perder sua qualidade. Aqui temos uma canção mais soturna, discreta e compassada, uma balada moderna bastante sólida. "Nothing to Find" retorna a explosão de Holding On e eleva em sua máxima potência. A batida da faixa é extremamente cativante e, mesmo que sem querer, nos veremos dançando com ela. As diversas camadas de instrumentos vão se apresentando intensamente, sem jamais perder a sintonia. De sintetizadores, violões, guitarras e até gaita, tudo está exatamente em seu perfeito lugar. Destaque para o belíssimo videoclipe produzido pela banda para acompanhar essa linda canção. "Thinking of a Place" é a faixa mais longa do álbum e sua obra-prima. Com 11 minutos e 10 segundos de duração, trata-se de uma viagem sonora que Adam Granduciel nos entrega entre atos construídos em ótimas interpretações de cada um dos instrumentos por parte dos músicos do The War on Drugs.Um perfeito exemplo de rock progressivo que surgiu nos últimos anos. Poderia escrever mais sobre a faixa, mas deixo que os leitores descubram a experiência dela ao ouvi-la. "In Chains" é Bruce Springsteen um pouco mais comedido. Excelente faixa, condensando tudo que ouvimos de bom durante o álbum. "Clean Living" e "You Don't Have to Go" encerram a jornada. São o fechamento da porta ou o fim da estrada que pegamos ouvindo "A Deeper Understanding" pelo rádio do carro. Premiado com o Grammy Award de Melhor Álbum de Rock de 2017, a obra não merece menos. Em 10 faixas, Adam Granduciel e seu The War On Drugs chegam na maturidade, mesclando com eficiência todas as referências do Heartland Rock, da Americana, de Bob Dylan a Mark Knofler, da década de 80 e do progrock, contribuindo com personalidade e muita musicalidade. Ouvimos guitarras, baixos, bateria, Mellotron, o famoso Wurlitzer, gaita, sintetizadores, saxofones e muito mais, em harmonia impressionante.