terça-feira, 1 de agosto de 2023
Review: Cirith Ungol – I’m Alive (2019)
Review: Vulcano – Eye in Hell (2020)
Eye in Hell vem com treze músicas em quarenta e dois minutos, todas transitando entre uma amálgama de elementos de death, black e thrash metal. As influências de Possessed, Slayer, Venom e outros ícones do lado mais violento do metal estão presentes, e dividem espaço com a experiência de anos e anos de palco e turnês. Isso se traduz em um som extremamente efetivo, em canções construídas com arranjos onde cada movimento funciona e leve ao banging imediato. Essa sensação já fica clara na música de abertura, “Bride of Satan”, que inicia como um death e no meio tem um riff que é puro thrash metal dos anos 1980.
Formado atualmente por Luiz Carlos Louzada (vocal, na banda desde 2010), Zhema Rodero (guitarrista, fundador e líder), Gerson Fajardo (guitarra, na banda desde 2016), Carlos Diaz (baixo, integou o grupo entre 2004 e 2012, retornando em 2016) e Bruno Conrado (bateria, entrou no quinteto em 2019), o Vulcano mostra que está vivo e ainda tem muito o que dizer. Músicas como “Struggling Besides Satan” soam mais black metal old school, enquanto “Sinister Road” traz a banda explorando bases mais grooveadas. Já “Mysteries of the Black Book” é bem thrash das antigas e uma das melhores do álbum. “Inferno” é outro destaque, assim como a supersônica “When the Day Falls” e a pesadíssima música que batiza o disco.
O saldo geral é um álbum cativante, principalmente para quem acompanhou a banda ao longo dos anos e sabe do peso que o Vulcano tem na história do metal brasileiro. Vivendo um momento produtivo e criativo, a gang de Zhema merece toda atenção, espaço e elogios por entregar um disco tão forte e consistente como Eye in Hell após décadas de carreira.
Review: Gotthard - #13 (2020)
Depois desse primeiro parágrafo meio lúdico e esotérico, vamos aos fatos: o Gotthard é uma das principais referências do hard rock contemporâneo, e desde que foi formada, em 1992, a banda sempre se destacou com seus belos discos. A morte repentina do vocalista Steve Lee em um acidente de moto em 2010 fez o quinteto se reconstruir, e desde então Nic Maeder assumiu o posto de frontman. #13 é o quarto álbum dessa segunda fase da carreira do Gotthard, sucedendo Firebirth (2012), Bang! (2014) e Silver (2017).
Com uma formação estável desde sempre – Leo Leoni (guitarra), Freddy Scherer (guitarra), Marc Lynn (baixo) e Hena Habegger (bateria), além de Marder na voz, piano e ocasional guitarras e violões -, o Gotthard entrega um disco forte e maduro em #13. Ainda que o estilo tocado pela banda possa soar sem profundidade e derivativo em mãos sem talento, os suíços mostram mais uma vez que o buraco é mais embaixo e entregam um senhor álbum de hard rock. Há influências mais clássicas, momentos mais festivos, canções pegajosas, baladas, riffs fortes – enfim, todos os ingredientes que um bom disco de hard deve ter.
Entre as músicas destaque para “Missteria” (parceria da banda com Francis Rossi, vocalista e guitarrista do lendário Status Quo), “10.000 Faces”, “Another Last Time”, “Better Than Love”, “Save the Date”, “Man on a Mission” e o peso da excelente “No Time to Cry”, além da belíssima versão para “S.O.S.”, do ABBA, que aqui se transformou em uma senhora balada hard com grande interpretação de Nic Maeder.
A má impressão deixada pelos discos recentes é deixada para trás com esse novo álbum. Finalmente o Gotthard parece ter feito as pazes com os seus melhores momentos. #13 é um belo disco de hard rock e que irá permanecer nos seus ouvidos por um longo tempo.
Review: Phil Campbell – Old Lions Still Road (2019)
Adamo - Adamo (LP 1964)
10 Discos Essenciais: Tri Angle Records
Criado em 2010, por Robin Carolan, o Tri Angle Records talvez seja um dos selos mais influentes que surgiram nos últimos anos. Com sede dividida entre Londres e Nova Iorque, e casa de alguns dos projetos mais inventivos da produção eletrônica, a gravadora serviu de base para o fortalecimento de artistas como Clams Casino, The Haxan Cloak, Forest Swords, Balam Acab, Holy Other e outros importantes nomes que vão do cloud rap à witch house, do pop etéreo à música de vanguarda. São produtores, compositores e instrumentistas que acabaram se relacionando com outros representantes da indústria, como Kanye West, Björk e Massive Attack, ampliando os domínios do coletivo. Com o fim das atividades do selo, que também apresentou nomes como AlunaGeorge, Adult Jazz e oOoOO, apresento dez obras essenciais que definem parte da identidade criativa e caráter provocativo do catálogo que contou com curadoria sempre meticulosa de Carolan.
How To Dress Well
Love Remains (2010, Lefse Records, Tri Angle)
Não importa quantas vezes ouça as canções de Love Remains: há sempre algo novo a ser desvendado pelo ouvinte. Primeiro trabalho de estúdio de Tom Krell como How To Dress Well, o registro concebido de forma totalmente caseira, estabelece no uso de pequenas microfonias, vozes etéreas e ambientações melancólicas a base para uma obra que perverte de maneira explícita uma serie de elementos típicos do R&B. São versos consumidos pela saudade, reflexões sobre um amigo suicida e instantes de profunda entrega sentimental, conceito reforçado em algumas das principais faixas do disco. Canções como a atmosférica Ready For The World, com suas reverberações empoeiradas, You Won’t Need Me Where I’m Goin e Walking This Dumb, gravada ao vivo, em que Krell vai do romantismo agridoce de nomes como Janet Jackson ao bedroom pop de Ariel Pink. Um verdadeiro delírio.
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Clams Casino
Rainforest (2011, Tri Angle)
Texturas submersas, vozes granuladas e batidas inexatas, tortas. Em Rainforest, Michael Volpe não apenas preserva tudo aquilo que havia testado em parceria com diferentes nomes do rap norte-americano, como Lil B, Mac Miller e A$AP Rocky, como sutilmente amplia a essência delirante dos primeiros registros autorais como Clams Casino. Deliciosamente lisérgico, conceito reforçado logo na psicodélica imagem de capa do disco, o trabalho de apenas cinco faixas convida o ouvinte a se perder em um território onde realidade e ilusão se confundem a todo instante. São músicas como a introdutória Natural, Drowning e Gorilla, em que Volpi parece brincar com a colisão dos elementos de forma propositadamente confusa, jogando com a interpretação do público até o último instante do trabalho. Um lento desvendar de ideias, ruídos e melodias sujas que viriam a orientar toda a sequência de obras produzidas pelo artista pelos próximos anos, vide a bem-recebida série Instrumentals.
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Balam Acab
Wander / Wonder (2011, Tri Angle Records)
Wander / Wonder é um disco feito para que o ouvinte se perca dentro dele. Primeiro álbum de Alec Koone como Balam Acab, o registro de essência atmosféricas, melodias submersas e delicadas paisagens instrumentais faz de cada composição a passagem para um território mágico. É como se o produtor norte-americano convidasse a olhar por entre a brecha azulada que estampa a imagem de capa do disco. Canções que se entregam ao cloud rap de nomes como Clams Casino e AraabMuzik, porém, estabelecem no uso de emanações psicodélicas a passagem para um universo próprio de Koone. Perfeita representação desse resultado está nas ambientações aquáticas, orquestrações e batida distorcidas de Expect, canção que encolhe e cresce a todo instante, apontando a direção conceitual seguida pelo artista em outras criações no decorrer da obra, como Motion e a melancólica Oh, Why.
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Evian Christ
Kings and Them (2012, Tri Angle Records)
Fortemente influenciado pela produção eletrônica dos anos 1990 e os trabalhos de J Dilla, Joshua Leary ganhou bastante destaque quando algumas de suas criações, lançadas sob o título de Evian Christ, começaram a circular em diferentes publicações. Depois de receber um e-mail de Robin Carolan, fundador da Tri Angle Records, o jovem produtor decidiu assinar um contrato com o selo para o lançamento do primeiro registro de inéditas da carreira, a coletânea Kings and Them. Entre músicas como MYD, Thrown Like Jacks e Drip, o artista transita em meio a composições de essência atmosféricas e faixas marcadas pela força das batidas, conceito que viria a se repetir em outros lançamentos de Leary. Recebido de forma positiva, Kings and Them ainda serviria para aproximar Evian Christ de Kanye West, Tinashe, Danny Brown e outros nomes importantes do mundo da música.
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Holy Other
Held (2012, Tri Angle Records)
Original da região de Manchester, na Inglaterra, porém, residente em Berlim, na Alemanha, David Ainley fez das próprias vivências a base para o trabalho como Holy Other. Nascido do cruzamento entre as ambientações soturnas da cena inglesa e o experimentalismo eletrônico da produção germânica, Held, primeiro álbum de estúdio do artista, transita por entre gêneros e experiências conceitualmente distintas como estímulo para a formação de cada nova composição. São oscilações sintéticas que tratam da voz como um importante componente criativo, estrutura que aponta para o R&B fragmentado de Burial, porém, encontra no som enevoado do produtor britânico a passagem para um novo território criativo. Exemplo disso está em preciosidades como Nothing Here, Inpouring e toda a sequência de faixas que ampliam o repertório originalmente entregue durante o lançamento do antecessor With U (2011), um dos grandes exemplares da witch house.
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The Haxan Cloak
Excavation (2013, Tri Angle Records)
Aterrorizante! Assim pode ser resumido o trabalho de Bobby Krlic em Excavation. Segundo álbum de estúdio do produtor britânico como The Haxan Cloak, o registro preserva a essência fantasmagórica do projeto que o antecede, porém, encontra no uso de ambientações metálicas, ruídos e quebras bruscas a passagem para uma obra ainda mais desafiadora. Exemplo disso está na própria faixa-título do disco, canção em que utiliza do corte seco de uma faca como importante componente rítmico. São camadas instrumentais que parecem pensadas para sufocar o ouvinte, conceito que dialoga diretamente com a ftografia de capa do trabalho, com um cabo retorcido, emulando a imagem de uma forca. É dentro desse ambiente de formas inexatas que Krlic orienta a experiência do público até a derradeira The Drop. Canções que parecem saídas de algum filme de terror, estrutura que seria reforçada anos mais tarde, na trilha sonora de Midsommar (2019), uma das grandes obras do diretor Ari Aster.
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Forest Swords
Engravings (2013, Tri Angle Records)
Matthew Barnes já havia dado uma boa mostra do próprio trabalho com o lançamento do detalhista Dagger Paths EP (2010), entretanto, foi com a chegada de Engravings, três anos mais tarde, que o produtor britânico de fato mostrou a que veio. Entre reverberações atmosféricas que utilizam de elementos do dub, o artista inglês entrega ao público uma obra que exige ser desvendada. São verdadeiros labirintos instrumentais que mudam de direção a todo instante, sem pressa, estrutura que vai do uso de ritmos tribais, melodias extraídas de diferentes culturas e vozes retalhadas, como um complemento à base ruidosa detalhada pelo músico. Exemplo disso está na versão para Thor’s Stone, de Lee Scratch Perry, The Weight of Gold e Friend, You Will Never Learn, canções que preservam o uso de texturas e ambientações inexatas do registro anterior, porém, encontram na inserção das guitarras e batidas sempre destacadas um importante componente de transformação.
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serpentwithfeet
Soil (2018, Tri Angle Records / Secretly Canadian)
Marcado pela forte dramaticidade e profunda entrega de Josiah Wise, Soil, estreia do músico estadunidense como serpentwithfeet, encontra em desilusões amorosas, romances e conflitos vividos pelo próprio artista um estímulo para a formação dos versos. Instantes em que o compositor norte-americano vai da celebração, como em Bless Ur Heart (“Obrigado por me mostrar como ser gentil / Eu tenho coragem de compartilhar seu amor corajosamente“), à doce melancolia, caso de Seedless (“Eu amo rastejar, mas você está se quebrando / Posso fazer sua refeição favorita antes de sair?”), de forma sempre sensível. Um turbilhão emocional que passa pela obra de veteranas como Nina Simone e ANOHNI, porém, estabelece no uso de melodias fragmentadas e pequenas orquestrações um indicativo claro da identidade artística de Wise.
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Lotic
Power (2018, Tri Angle Records)
Em atuação desde o início da década de 2010, J’Kerian Morgan, a Lotic, fez da criativa desconstrução da própria identidade artística a base para cada novo registro autoral. São trabalhos como Damsel In Distress (2014) e Heterocetera (2015), em que vai do uso de abstrações eletrônicas ao mais completo experimentalismo, estrutura que alcança sua melhor forma nas canções de Power. Primeiro álbum de estúdio da artista criado em Huston, no Texas, porém, residente em Berlin, o disco passeia por diferentes campos da música sem necessariamente abraçar um gênero ou sonoridade específica. O resultado desse direcionamento insano está na entrega de músicas como The Warp and the Weft, Love and Light e a anárquica Bulletproof, canção que convida o ouvinte a se perder em um território de pequenas incertezas, batidas e formas sempre inexatas. Caos transformado em música.
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Vessel
Queen of Golden Dogs (2018, Tri Angle Records)
Conhecido pela entrega de obras sempre desafiadoras, como Order of Noise (2012) e Punish, Honey (2014), Sebastian Gainsborough fez do terceiro álbum de estúdio como Vessel, Queen of Golden Dogs, um de seus registros mais inventivos. Diferente dos antigos trabalhos, centrados no uso de temas eletrônicos e uso fragmentado das batidas, o produto inglês decidiu mergulhar no uso de estruturas orgânicas, vozes e orquestrações pontuais, estrutura que se revela de maneira inexata em cada uma das nove composições que recheiam o disco. Do momento em que tem início, em Fantasma (For Jasmine), até alcançar a derradeira Sand Tar Man Star (For Aurellia), perceba como Gainsborough vai das pistas à música de vanguarda sem necessariamente perder o controle da própria criação, como se tudo fizesse parte de uma obra viva, estranha e deliciosamente mutável.
Destaque
Autoramas
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