terça-feira, 1 de agosto de 2023

Review: Cirith Ungol – I’m Alive (2019)

 



Formada na cidade de Ventura, na California, em 1971, o Cirith Ungol é uma das bandas pioneiras do power metal norte-americano. Trazendo letras baseadas principalmente em histórias de espada e feitiçaria, a banda estreou uma década após o seu nascimento, com o disco Frost and Fire (1981). A década de 1980 ainda rendeu mais dois álbuns para o grupo: King of the Dead (1984) e One Foot in Hell (1986), ambos equilibrando a sonoridade power com experimentos que aproximaram o som do Cirith Ungol do doom metal. Os caras se separaram no final de 1991 – ano em que saiu seu quarto trabalho, Paradise Lost – e retornaram apenas em 2016. Esse retorno rendeu mais um disco de inéditas, Forever Black, lançado neste estranho e esquisito ano de 2020.

Contanto atualmente com três integrantes de seu período clássico – o vocalista Tim Baker, o guitarrista Greg Lindstrom e o baterista Robert Garven -, o quinteto tem ainda Jim Barraza na guitarra e Jarvis Leatherby no baixo.

É essa formação que está em I´m Alive, box com dois DVDs e dois CDs ao vivo lançado pela Hellion Records no Brasil e que é um presente para os fãs da banda e pra quem curte o metal dos anos 1980. O material foi lançado em outubro de 2019 pela Metal Blade na Europa e nos Estados Unidos e traz o Cirith Ungol retornando de forma triunfante. Ao todo são 22 faixas gravadas ao vivo nos festivais Up the Hammers (Grécia) e Hammers of Doom (Alemanha) em 2017. Já o DVD traz ambos os shows presentes nos CDs, só que no formato em vídeo, além de faixas gravadas Rock Hard Festival, na Alemanha, em 2018, e um documentário em quatro capítulos, cada um deles focado nos quatro primeiros álbuns da banda: Frost and Fire (1981), King of the Dead (1984), One Foot in Hell (1986) e Paradise Lost (1991).

Musicalmente, o som do Cirith Ungol é aquele metal de uma época mais simples e ingênua, rico em riffs e refrãos e sem um apelo tão técnico como o que estamos acostumados a encontrar nas bandas atuais. É um som mais solto, mais vivo e pulsante, onde percebe-se a paixão da banda pelas músicas que está entregando para o público. Há reminiscências com os conterrâneos e contemporâneos do Riot, assim como a onipresente influência de Black Sabbath, principalmente nas faixas mais doom e cadenciadas, como “Chaos Rising” e “Fallen Idols”.

O box da Hellion faz jus à história da banda, com acabamento gráfico excelente. Aliás, a gavadora paulista relançou todos os discos e também o novo álbum da banda norte-americana, então se você é fã é hora de turbinar a sua coleção com esses novas edições. 




Review: Vulcano – Eye in Hell (2020)

 


Nome dos mais clássicos e influentes do metal brasileiro, além de um dos pioneiros do som extremo no Brasil, o Vulcano está com um novo álbum nas ruas. Eye in Hell é primeiro trabalho da banda natural de Santos em quatro anos, desde XIV (2016). O disco foi lançado no dia 13 de março, bem no início da quarentena, o que alterou completamente os planos do grupo. Mas, mesmo que os caras não possam fazer shows para promover o trabalho, nós, fãs, podemos curtir o som tranquilamente. E posso garantir que vale a pena.

 

Eye in Hell vem com treze músicas em quarenta e dois minutos, todas transitando entre uma amálgama de elementos de death, black e thrash metal. As influências de Possessed, Slayer, Venom e outros ícones do lado mais violento do metal estão presentes, e dividem espaço com a experiência de anos e anos de palco e turnês. Isso se traduz em um som extremamente efetivo, em canções construídas com arranjos onde cada movimento funciona e leve ao banging imediato. Essa sensação já fica clara na música de abertura, “Bride of Satan”, que inicia como um death e no meio tem um riff que é puro thrash metal dos anos 1980.

 

Formado atualmente por Luiz Carlos Louzada (vocal, na banda desde 2010), Zhema Rodero (guitarrista, fundador e líder), Gerson Fajardo (guitarra, na banda desde 2016), Carlos Diaz (baixo, integou o grupo entre 2004 e 2012, retornando em 2016) e Bruno Conrado (bateria, entrou no quinteto em 2019), o Vulcano mostra que está vivo e ainda tem muito o que dizer. Músicas como “Struggling Besides Satan” soam mais black metal old school, enquanto “Sinister Road” traz a banda explorando bases mais grooveadas. Já “Mysteries of the Black Book” é bem thrash das antigas e uma das melhores do álbum. “Inferno” é outro destaque, assim como a supersônica “When the Day Falls” e a pesadíssima música que batiza o disco.

 

O saldo geral é um álbum cativante, principalmente para quem acompanhou a banda ao longo dos anos e sabe do peso que o Vulcano tem na história do metal brasileiro. Vivendo um momento produtivo e criativo, a gang de Zhema merece toda atenção, espaço e elogios por entregar um disco tão forte e consistente como Eye in Hell após décadas de carreira.



Review: Gotthard - #13 (2020)


Tem horas em que você só quer ouvir um bom disco de rock. E com toda essa situação que estamos vivendo essa sensação é ainda mais frequente, ajudando a acalmar a alma e confortar a vida enquanto esperamos tudo passar. Esse é o sentimento após escutar #13, novo álbum da banda suíça Gotthard: canções que nos auxiliam a superar os dias e que queremos ouvir novamente para reviver o que elas nos fazem sentir.

 

Depois desse primeiro parágrafo meio lúdico e esotérico, vamos aos fatos: o Gotthard é uma das principais referências do hard rock contemporâneo, e desde que foi formada, em 1992, a banda sempre se destacou com seus belos discos. A morte repentina do vocalista Steve Lee em um acidente de moto em 2010 fez o quinteto se reconstruir, e desde então Nic Maeder assumiu o posto de frontman. #13 é o quarto álbum dessa segunda fase da carreira do Gotthard, sucedendo Firebirth (2012), Bang! (2014) e Silver (2017).

 

Com uma formação estável desde sempre – Leo Leoni (guitarra), Freddy Scherer (guitarra), Marc Lynn (baixo) e Hena Habegger (bateria), além de Marder na voz, piano e ocasional guitarras e violões -, o Gotthard entrega um disco forte e maduro em #13. Ainda que o estilo tocado pela banda possa soar sem profundidade e derivativo em mãos sem talento, os suíços mostram mais uma vez que o buraco é mais embaixo e entregam um senhor álbum de hard rock. Há influências mais clássicas, momentos mais festivos, canções pegajosas, baladas, riffs fortes – enfim, todos os ingredientes que um bom disco de hard deve ter.

 

Entre as músicas destaque para “Missteria” (parceria da banda com Francis Rossi, vocalista e guitarrista do lendário Status Quo), “10.000 Faces”, “Another Last Time”, “Better Than Love”, “Save the Date”, “Man on a Mission” e o peso da excelente “No Time to Cry”, além da belíssima versão para “S.O.S.”, do ABBA, que aqui se transformou em uma senhora balada hard com grande interpretação de Nic Maeder.

 

A má impressão deixada pelos discos recentes é deixada para trás com esse novo álbum. Finalmente o Gotthard parece ter feito as pazes com os seus melhores momentos. #13 é um belo disco de hard rock e que irá permanecer nos seus ouvidos por um longo tempo.

 


 

Review: Phil Campbell – Old Lions Still Road (2019)

 



Ainda que maioria dos fãs associe a guitarra do Motörhead ao falecido “Fast” Eddie Clarke, Phil Campbell foi o principal parceiro de Lemmy no instrumento. Aliás, não só isso: Campbell foi também o integrante que permaneceu por mais anos no Motörhead, atrás apenas do lendário vocalista e baixista. Foram 31 anos derramando riffs em um dos trios mais icônicos e amados do rock.

Com a morte de Lemmy na véspera do Natal de 2015, Phil Campbell e Mikkey Dee decidiram seguir com suas carreiras, porém de maneiras diferentes. Enquanto o baterista do Motörhead assumiu o posto no Scorpions e deu um gás sensacional para a lendária banda alemã, Phil seguiu carreira solo. Primeiro, gravou um EP e um álbum ao lado dos filhos no Phil Campbell and the Bastards Sons. Na sequência, lançou em 2019 a sua estreia solo, Old Lions Still Roar, que foi lançado no Brasil em 2020 pela Shinigami Records.

O disco vem com dez faixas e traz uma longa lista de convidados. Participam do disco Rob Halford, Alice Cooper, Danko Jones, Dee Snider, Whitfield Crane (do Ugly Kid Joe) e outros, com cada um dos convidados assumindo os vocais em uma das canções. Além disso, a parte instrumental conta com a presença ilustre de Mick Mars, Joe Satriani e Chris Fehn (do Slipknot). Já dá pra imaginar que o resultado ficou legal, né?

A abertura se dá com a surpreendente “Rocking Chair”, balada acústica com grandes vocais de Leon Stanford. Halford entrega a conhecida majestade em “Straight Up”, e é muito legal ouvir o Metal God cantar de modo mais rasgado uma canção que não tem nada a ver com o que estamos acostumados no Judas Priest, já que a faixa é um rockão bem Motörhead. Ben Ward, do Orange Goblin, brilha em “Faith in Fire”, pesada, arrastada e uma das melhores do CD. Alice Cooper é o destaque em “Swing It”, canção que Campbell parece ter feito sob medida para o vocalista. Nev MacDonald, do Skin, solta o seu belo timbre em “Left for Dead”, baladaça que remete aos discos solo de Zakk Wylde. O peso volta a dar o tom em “Walk the Talk”, com a dupla Danko Jones e Nick Oliveri (ex-baixista do Queens of the Stone Age). Dee Snider dá um brilho todo especial ao rock puro que contagia os ouvidos já nos primeiros acordes de “These Old Boots”, enquanto Whitfield Crane marca presença na boa “Dancing Dogs”. O disco se encaminha para o seu final com a linda “Dead Roses”, com Benji Webbe, vocal da banda galesa Skindred, entregando uma interpretação repleta de feeling em uma das mais belas baladas dos últimos anos. Fechando o álbum, Phil Campbell e Joe Satriani derramam doses enormes de sentimento na instrumental e quase atmosférica “Tears from a Glass Eye”.

Old Lions Still Roar é um disco muito bom, e não se esperaria algo diferente de alguém com o currículo de Campbell. Variado e sólido, mostra que o guitarrista ainda tem muito a entregar e dizer aos fãs.

Se você gosta de rock, ouça e compre.



Adamo - Adamo (LP 1964)




Adamo – Adamo (LP Pathe Marconi - 2 C 062-23385,1964), edição francesa.
Salvatore Adamo, também conhecido simplesmente como Adamo, é um cantor francófono ítalo-belga nascido em Comiso, Itália no dia 1 de Novembro de 1943. 
Adamo nasceu no seio de uma família pobre com sete filhos. Estudou numa escola religiosa de educação rígida. O sonho dos seus pais era oferecer-lhe um futuro glorioso.
Aluno consciencioso e solitário, Adamo revelou um grande dom para o canto. Adolescente, participou num concurso radiofónico em que ganhou o 1º prémio. Ao mesmo tempo gravou o 1º disco, sem sucesso. Desanimado pensou retomar os estudos. Seguindo o conselho do pai, António, um mineiro, Adamo tomou o caminho da capital para tentar a sua sorte.Assessorado pelo pai bateu sem cessar às portas das editoras e assinou por fim um contrato.
Em 1963, lançou "Sans toi, ma mie", o seu primeiro sucesso, seguido de "Tombe la neige", "Vous permettez, Monsieur", "Les filles du bord de mer", "Mes mains sur tes hanches", "La nuit", "Inch'Allah" e "C'est ma vie".
Cantor popular por Excelência, Adamo seduziu o público em França e no estrangeiro. Ele é idolatrado no Japão e os seus concertos tinham milhares de espectadores em todos os países do mundo.
Artista emérito e trabalhador esforçado, Adamo não poupou esforços, e passou o essencial do seu tempo nas estradas, entre dois concertos. Restabelecido de um grave enfarte que teve em 1984, Adamo publicou, em 1992, Rêveur de fonds, um novo álbum que foi objecto de críticas elogiosas. Confortado por esta popularidade reencontrada, lançou em 1994 C’est ma vie, um disco ao vivo, recordação de uma série de concertos no Casino de Paris e título do seu disco de 1975.
Em 1995, editou "La vie comme elle passe", um álbum introspectivo, muito intimista, seguido, em 1998, de Regards.
Artista apaixonado, Adamo seguiu a carreira sem se preocupar com modas e tendências. Ele provou que apesar disso a sua popularidade se mantém intocável. Ao fim de quarenta anos de carreira publicou Les Mots de L’âme em 2002, um álbum com os seus grandes sucessos. Em 2004 foi a vez do CD e DVD Zanzibar, em 2007 publica o CD La Part de L'ange em 2008, o CD Le Bal des Gens bien (duetos), em 2010, o CD De Toi à Moi.

Fonte: Wikipedia


Faixas / Track List: 

1. Tombe La Neige
2. Crier Ton Nom
3. Sans Toi Ma Mie
4. Car Je Veux
5. Amour Perdu
6. Fais-toi Croquemort
7. Vous Permetttez Monsieur
8. N'est-ce Pas Merveilleux
9. En Blue Jeans Et Blouson D'cuir
10. Dans Le Vert De Ses Yeux
11. Laissons Dire
12. J'aime Une Fleur

Tombe La Neige – Adamo (letra/lyrics): 

Tombe la neige 
Tu ne viendras pas ce soir 
Tombe la neige 
Et mon coeur s'habille de noir 
Ce soyeux cortège 
Tout en larmes blanches 
L'oiseau sur la branche 
Pleure le sortilège 

Tu ne viendras pas ce soir 
Me crie mon désespoir 
Mais tombe la neige 
Impassible manège 

Tombe la neige 
Tu ne viendras pas ce soir 
Tombe la neige 
Tout est blanc de désespoir 
Triste certitude 
Le froid et l'absence 
Cet odieux silence 
Blanche solitude 

Tu ne viendras pas ce soir 
Me crie mon désespoir 
Mais tombe la neige 
Impassible manège






ROCK ART

 


10 Discos Essenciais: Tri Angle Records

 


Criado em 2010, por Robin Carolan, o Tri Angle Records talvez seja um dos selos mais influentes que surgiram nos últimos anos. Com sede dividida entre Londres e Nova Iorque, e casa de alguns dos projetos mais inventivos da produção eletrônica, a gravadora serviu de base para o fortalecimento de artistas como Clams Casino, The Haxan Cloak, Forest Swords, Balam Acab, Holy Other e outros importantes nomes que vão do cloud rap à witch house, do pop etéreo à música de vanguarda. São produtores, compositores e instrumentistas que acabaram se relacionando com outros representantes da indústria, como Kanye West, Björk e Massive Attack, ampliando os domínios do coletivo. Com o fim das atividades do selo, que também apresentou nomes como AlunaGeorge, Adult Jazz e oOoOO, apresento dez obras essenciais que definem parte da identidade criativa e caráter provocativo do catálogo que contou com curadoria sempre meticulosa de Carolan.


How To Dress Well
Love Remains (2010, Lefse Records, Tri Angle)

Não importa quantas vezes ouça as canções de Love Remains: há sempre algo novo a ser desvendado pelo ouvinte. Primeiro trabalho de estúdio de Tom Krell como How To Dress Well, o registro concebido de forma totalmente caseira, estabelece no uso de pequenas microfonias, vozes etéreas e ambientações melancólicas a base para uma obra que perverte de maneira explícita uma serie de elementos típicos do R&B. São versos consumidos pela saudade, reflexões sobre um amigo suicida e instantes de profunda entrega sentimental, conceito reforçado em algumas das principais faixas do disco. Canções como a atmosférica Ready For The World, com suas reverberações empoeiradas, You Won’t Need Me Where I’m Goin e Walking This Dumb, gravada ao vivo, em que Krell vai do romantismo agridoce de nomes como Janet Jackson ao bedroom pop de Ariel Pink. Um verdadeiro delírio.

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Clams Casino
Rainforest (2011, Tri Angle)

Texturas submersas, vozes granuladas e batidas inexatas, tortas. Em Rainforest, Michael Volpe não apenas preserva tudo aquilo que havia testado em parceria com diferentes nomes do rap norte-americano, como Lil B, Mac Miller e A$AP Rocky, como sutilmente amplia a essência delirante dos primeiros registros autorais como Clams Casino. Deliciosamente lisérgico, conceito reforçado logo na psicodélica imagem de capa do disco, o trabalho de apenas cinco faixas convida o ouvinte a se perder em um território onde realidade e ilusão se confundem a todo instante. São músicas como a introdutória NaturalDrowning e Gorilla, em que Volpi parece brincar com a colisão dos elementos de forma propositadamente confusa, jogando com a interpretação do público até o último instante do trabalho. Um lento desvendar de ideias, ruídos e melodias sujas que viriam a orientar toda a sequência de obras produzidas pelo artista pelos próximos anos, vide a bem-recebida série Instrumentals.

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Balam Acab
Wander / Wonder (2011, Tri Angle Records)

Wander / Wonder é um disco feito para que o ouvinte se perca dentro dele. Primeiro álbum de Alec Koone como Balam Acab, o registro de essência atmosféricas, melodias submersas e delicadas paisagens instrumentais faz de cada composição a passagem para um território mágico. É como se o produtor norte-americano convidasse a olhar por entre a brecha azulada que estampa a imagem de capa do disco. Canções que se entregam ao cloud rap de nomes como Clams Casino e AraabMuzik, porém, estabelecem no uso de emanações psicodélicas a passagem para um universo próprio de Koone. Perfeita representação desse resultado está nas ambientações aquáticas, orquestrações e batida distorcidas de Expect, canção que encolhe e cresce a todo instante, apontando a direção conceitual seguida pelo artista em outras criações no decorrer da obra, como Motion e a melancólica Oh, Why.

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Evian Christ
Kings and Them (2012, Tri Angle Records)

Fortemente influenciado pela produção eletrônica dos anos 1990 e os trabalhos de J Dilla, Joshua Leary ganhou bastante destaque quando algumas de suas criações, lançadas sob o título de Evian Christ, começaram a circular em diferentes publicações. Depois de receber um e-mail de Robin Carolan, fundador da Tri Angle Records, o jovem produtor decidiu assinar um contrato com o selo para o lançamento do primeiro registro de inéditas da carreira, a coletânea Kings and Them. Entre músicas como MYD, Thrown Like Jacks e Drip, o artista transita em meio a composições de essência atmosféricas e faixas marcadas pela força das batidas, conceito que viria a se repetir em outros lançamentos de Leary. Recebido de forma positiva, Kings and Them ainda serviria para aproximar Evian Christ de Kanye West, Tinashe, Danny Brown e outros nomes importantes do mundo da música.

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Holy Other
Held (2012, Tri Angle Records)

Original da região de Manchester, na Inglaterra, porém, residente em Berlim, na Alemanha, David Ainley fez das próprias vivências a base para o trabalho como Holy Other. Nascido do cruzamento entre as ambientações soturnas da cena inglesa e o experimentalismo eletrônico da produção germânica, Held, primeiro álbum de estúdio do artista, transita por entre gêneros e experiências conceitualmente distintas como estímulo para a formação de cada nova composição. São oscilações sintéticas que tratam da voz como um importante componente criativo, estrutura que aponta para o R&B fragmentado de Burial, porém, encontra no som enevoado do produtor britânico a passagem para um novo território criativo. Exemplo disso está em preciosidades como Nothing HereInpouring e toda a sequência de faixas que ampliam o repertório originalmente entregue durante o lançamento do antecessor With U (2011), um dos grandes exemplares da witch house.

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The Haxan Cloak
Excavation (2013, Tri Angle Records)

Aterrorizante! Assim pode ser resumido o trabalho de Bobby Krlic em Excavation. Segundo álbum de estúdio do produtor britânico como The Haxan Cloak, o registro preserva a essência fantasmagórica do projeto que o antecede, porém, encontra no uso de ambientações metálicas, ruídos e quebras bruscas a passagem para uma obra ainda mais desafiadora. Exemplo disso está na própria faixa-título do disco, canção em que utiliza do corte seco de uma faca como importante componente rítmico. São camadas instrumentais que parecem pensadas para sufocar o ouvinte, conceito que dialoga diretamente com a ftografia de capa do trabalho, com um cabo retorcido, emulando a imagem de uma forca. É dentro desse ambiente de formas inexatas que Krlic orienta a experiência do público até a derradeira The Drop. Canções que parecem saídas de algum filme de terror, estrutura que seria reforçada anos mais tarde, na trilha sonora de Midsommar (2019), uma das grandes obras do diretor Ari Aster.

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Forest Swords
Engravings (2013, Tri Angle Records)

Matthew Barnes já havia dado uma boa mostra do próprio trabalho com o lançamento do detalhista Dagger Paths EP (2010), entretanto, foi com a chegada de Engravings, três anos mais tarde, que o produtor britânico de fato mostrou a que veio. Entre reverberações atmosféricas que utilizam de elementos do dub, o artista inglês entrega ao público uma obra que exige ser desvendada. São verdadeiros labirintos instrumentais que mudam de direção a todo instante, sem pressa, estrutura que vai do uso de ritmos tribais, melodias extraídas de diferentes culturas e vozes retalhadas, como um complemento à base ruidosa detalhada pelo músico. Exemplo disso está na versão para Thor’s Stone, de Lee Scratch Perry, The Weight of Gold Friend, You Will Never Learn, canções que preservam o uso de texturas e ambientações inexatas do registro anterior, porém, encontram na inserção das guitarras e batidas sempre destacadas um importante componente de transformação.

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serpentwithfeet
Soil
 (2018, Tri Angle Records / Secretly Canadian)

Marcado pela forte dramaticidade e profunda entrega de Josiah Wise, Soil, estreia do músico estadunidense como serpentwithfeet, encontra em desilusões amorosas, romances e conflitos vividos pelo próprio artista um estímulo para a formação dos versos. Instantes em que o compositor norte-americano vai da celebração, como em Bless Ur Heart (“Obrigado por me mostrar como ser gentil / Eu tenho coragem de compartilhar seu amor corajosamente“), à doce melancolia, caso de Seedless (“Eu amo rastejar, mas você está se quebrando / Posso fazer sua refeição favorita antes de sair?”), de forma sempre sensível. Um turbilhão emocional que passa pela obra de veteranas como Nina Simone e ANOHNI, porém, estabelece no uso de melodias fragmentadas e pequenas orquestrações um indicativo claro da identidade artística de Wise.

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Lotic
Power
 (2018, Tri Angle Records)

Em atuação desde o início da década de 2010, J’Kerian Morgan, a Lotic, fez da criativa desconstrução da própria identidade artística a base para cada novo registro autoral. São trabalhos como Damsel In Distress (2014) e Heterocetera (2015), em que vai do uso de abstrações eletrônicas ao mais completo experimentalismo, estrutura que alcança sua melhor forma nas canções de Power. Primeiro álbum de estúdio da artista criado em Huston, no Texas, porém, residente em Berlin, o disco passeia por diferentes campos da música sem necessariamente abraçar um gênero ou sonoridade específica. O resultado desse direcionamento insano está na entrega de músicas como The Warp and the Weft, Love and Light e a anárquica Bulletproof, canção que convida o ouvinte a se perder em um território de pequenas incertezas, batidas e formas sempre inexatas. Caos transformado em música.

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Vessel
Queen of Golden Dogs
 (2018, Tri Angle Records)

Conhecido pela entrega de obras sempre desafiadoras, como Order of Noise (2012) e Punish, Honey (2014), Sebastian Gainsborough fez do terceiro álbum de estúdio como Vessel, Queen of Golden Dogs, um de seus registros mais inventivos. Diferente dos antigos trabalhos, centrados no uso de temas eletrônicos e uso fragmentado das batidas, o produto inglês decidiu mergulhar no uso de estruturas orgânicas, vozes e orquestrações pontuais, estrutura que se revela de maneira inexata em cada uma das nove composições que recheiam o disco. Do momento em que tem início, em Fantasma (For Jasmine), até alcançar a derradeira Sand Tar Man Star (For Aurellia), perceba como Gainsborough vai das pistas à música de vanguarda sem necessariamente perder o controle da própria criação, como se tudo fizesse parte de uma obra viva, estranha e deliciosamente mutável.


Destaque

Autoramas

  Banda formada no Rio de Janeiro, em 1997, por Gabriel Thomaz na guitarra, Nervoso na bateria e Simone no baixo, com a ideia de fazer ...