Tomando influências de Dream Theater, Haken, Between The Buried And Me, Devin Townsend e provavelmente Porcupine Tree e Riverside, Liberation Clarifies é um projeto solo fundado em 2022 pelo músico mexicano Betel Miguel (nascido em 2003); que também é responsável pela composição, letra, produção, pós-produção e interpretação de todos os instrumentos que podem ser vistos nos 3 lançamentos que fez até agora: “Crystal Chains” (single de estreia – 2022), “The Dystopian City (single – 2022) e “Bond of Two Lives” (single – 2023); os dois últimos teoricamente referindo-se a prévias de um próximo LP de estreia sob o nome “UFABYX”. A sua abordagem estética, pelo menos até agora, oscila entre as cores excêntricas do metal progressivo, do rock progressivo e do art rock, que a partir de uma visão contemporânea, por sua vez, criam pontos de encontro com flashes de synthwave, música eletrónica, djent e rock melódico.Bond of Two Lives ”, publicado em 16 de novembro deste ano, é o trabalho mais recente do mexicano, que se faz presente com sons etéreos em um blend synth-prog key – o que me leva a pensar em uma trilha sonora de metal reimaginada para Stranger Things. -, apresenta-se como uma carta descritiva precisa para entender aquela fusão sutil entre metal e rock progressivo em uma paleta de djent.
O single, por sua vez, é aquele que apesar de sua duração razoável (5:08 minutos) se constrói em si como se fosse um díptico entre o instrumental e o vocal, apontando nos primeiros minutos seu caráter puramente instrumental em onde o virtuosismo das mudanças temporais que é sempre belo de ouvir no subgênero assume o protagonismo, desenhando de repente conjuntos com o que seria o segundo momento, cuja emergência e incorporação de vozes atrai o músico emergente numa conversa mediada por uma sugestiva virada e , aliás, por um dos seus mais claros níveis de especialização em cada componente que executa, incluindo voz, guitarra, baixo, bateria e sintetizadores... e à medida que a peça chega ao fim acompanhada por uma amostra de voz de noticiário, deixando aquela intuição perturbadora que indica a abertura de tal futuro trabalho completo.
“Bond of Two Lives” é, certamente e talvez, uma composição ligeiramente menos sofisticada que as suas antecessoras, e que, relativamente ao ponto de viragem, dá maior ênfase às vestimentas introspectivas e melancólicas em que o progressista costuma acomodar-se. E embora tanto aqui como em seus outros trabalhos ele seja muito influenciado pelo selo de língua inglesa - aliás, ele canta em inglês -, dificultando a identificação de sua origem mexicana apenas por ouvi-lo, com apenas 20 anos e com O indubitável gênio inato Betel Miguel de De qualquer forma, rapidamente conseguiu se separar de seu extenso catálogo de referências artísticas para exibir uma identidade promissora que orgulha o futuro do rock ou metal progressivo.
Em Novembro de 1964, o single "Leader of the Pack" do Shangri-Las alcançou o primeiro lugar na Billboard Hot 100 dos EUA (28 de novembro)
O single é uma das canções mais conhecidas do grupo, bem como um exemplo cultural popular de uma "canção de tragédia adolescente", que era um estilo de balada na música popular que atingiu o pico de popularidade no final dos anos 1950 e início dos anos 1960.
Nas paradas, alcançou o 1º lugar nos EUA e na Nova Zelândia, o 3º lugar no Reino Unido e o Canadá, o 17º lugar na África do Sul e o 39º lugar na Austrália.
Em 2021, a Rolling Stone classificou a música entre as 500 melhores músicas de todos os tempos, na 315ª posição.
A Billboard nomeou a música em 9º lugar em sua lista das 100 melhores músicas de grupos femininos de todos os tempos. Em 2019, a música foi incluída no Rock and Roll Hall of Fame na categoria de novos singles criada em 2018.
Em Dezembro de 1980, o single “One Step Ahead” do Split Enz estreou nas paradas australianas em 67º lugar (1º de dezembro).
A faixa do LP “Waiata” (também conhecida como “Corroborree”) alcançou o 5º lugar na Austrália, o 6º lugar na Nova Zelândia e até o 17º lugar no Canadá.
Em documentário para a Rádio Nova Zelândia, o compositor Neil Finn expressou surpresa com o sucesso da música, afirmando que "não tem refrão adequado".
O videoclipe da música também foi um dos primeiros exibidos na MTV.
Passados mais de 30 anos, continuamos a precisar de falar de Tracy Chapman, e do excelente disco que nos deixou.
Nos anos oitenta acreditava-se piamente que a música podia salvar o mundo – entre Live Aid, “We Are the World”, “Do They Know It’s Christmas?”, a missão de ajudar os pobres de África era o tema quente na agenda, tipo o aquecimento global da altura. Sendo os maiores influencers os músicos, nada como concertos massivos, transmitidos para todos os cantos do mundo (ou vá, todos os cantos que tivessem televisão) para potenciar o impacto e fazer passar a mensagem e a importância de lutarmos por um mundo melhor. Nada errado nisso, obviamente, mas olhando para trás é fácil concluir que tudo não passou de uma bonita ilusão.
Já mais perto do final da década, este formato foi também utilizado para um acto claramente político – pressionar a libertação de Nelson Mandela. Utilizando-se como ocasião o festejo do 70º aniversário do ícone maior do continente africano, foi organizado um concerto num estádio de Wembley lotado e transmissão para 600 milhões de pessoas, com um cartaz cheio de nomes sonantes como Sting, Phil Collins, Bee Gees, Bryan Adams, Joe Cocker, Peter Gabriel, Whitney Houston, Dire Straits, entre muitos outros. Lá pelo meio, apareceu uma tal de Tracy Chapman, só ela e sua guitarra. As imagens falam por si – Tracy, que andou durante anos a tocar por ruas e pequenos cafés em Cambridge, Massachusetts, estava completamente fora da sua zona de conforto. Ainda assim, e após um curto set de 3 músicas, foi chamada novamente para substituir o que seria a aparição surpresa de Stevie Wonder e a sua simplicidade foi conquistadora. Este álbum, homónimo, que tinha sido lançado apenas dois meses antes, disparou no top de vendas e é hoje um dos mais vendidos de sempre, com cerca de 20 milhões de cópias.
É difícil explicar as razões por trás da sucesso de Tracy Chapman no longíquo ano de 1988 – a indústria era rainha e senhora do panorama musical e terá sido um glitch no sistema a permitir que uma rapariga negra, sozinha com a sua guitarra e a falar de temas vividos pelas margens da sociedade chegasse ao mainstream. Em boa hora chegou e em boa hora conquistou com a única coisa que no fundo interessa – a qualidade musical. Quiçá pelo traquejo ganho nas ruas, Chapman moldou um disco bastante despido, cru, sem artifícios, indo assim em sentido perfeitamente contrário ao que existia no mercado. Falando do dia a dia de pessoas reais, das suas dificuldades e sonhos impossíveis (“The life I’ve always wanted/I guess I’ll never have/I’ll be working for somebody else/Until I’m in my grave”), do ambiente onde cresceu em bairros segregados de grandes cidades americanas (It won’t do no good to call/The police always come late/If they come at all”), do racismo (“Choose sides/Run for your life/Tonight the riots begin/On the back streets of America/They killed the dream of America”) chegou ao coração de um vasto público.
Hoje, passados que estão mais de 30 anos, e sem nunca ter-se aproximado minimamente nos anos subsequentes do seu álbum de estreia, Chapman é vista com um certo desdém. Injusto a meu ver, porque um disco que tem músicas como “Talkin’ bout a Revolution” (a esperança, sempre a esperança num futuro melhor), “Fast Car” (portento de narração de uma vida possível, tão próxima mas ao mesmo tempo tão distante), “Baby Can I Hold You Tonight” não merece ser menosprezado. Pela pertinência e pela actualidade que ainda se pode encontrar em Tracy Chapman. Talvez não tivéssemos uma Lauryn Hill (e outras mais à frente) não fosse pelas portas abertas por Chapman e só isso é de um valor inquestionável.
Bruce Springsteen tem 69 anos e é uma fraude com um truque de magia.
Durante anos cantou a vida nada fabulosa dos americanos: trabalhadores a transbordar de sonhos por cumprir, miúdos que casam cedo e que ainda mais prontamente perdem a chama, desempregados de longa duração que não conseguem pagar a hipoteca de uma modesta casa. Esta é a realidade da América de Bruce Springsteen, mas não é a sua realidade. “Nunca tive um trabalho honesto em toda a minha vida. Nunca fiz trabalho pesado. Nunca trabalhei das 9h às 17h. Nunca trabalhei cinco dias por semana até agora… Não gosto! Nunca pus os pés dentro de uma fábrica, mas foi isso a única coisa sobre a qual escrevi. À vossa frente está um homem que teve um imenso e absurdo sucesso escrevendo acerca daquilo que nunca teve a mínima experiência pessoal.” É assim que o músico se apresenta no concerto Springsteen on Broadway e quem leu a sua biografia sabe que esta é uma meia verdade.
É verdade que Springsteen nunca trabalhou nas obras. Não foi um corredor de rua (na verdade só aprendeu a conduzir dois anos antes de escrever a excecional “Racing in the Street”). Na verdade, as únicas experiências pessoais que teve só deram material para os extraordinários três primeiros discos da sua carreira. Álbuns onde se cantava sobre amores adolescentes, serenatas feitas a miúdas que até nem eram nada feias, ou sobre a vida de um jovem a passear no equivalente de Nova Jérsia ao Cais do Sodré.
Mas a partir de 1978 as canções de Springsteen mudaram. Já não eram apenas sobre rebeldia juvenil e amores difíceis. Os temas olhavam para as vidas árduas dos norte-americanos, o dia a dia daqueles que falharam o sonho americano. Começava o artifício em Springsteen, o homem começou a contar a história do seu país, dos seus conterrâneos, as pessoas que conhecia e que sentia que era seu dever ajudar. Entre estas personagens que quis cantar, estava o seu pai o homem que odiou e que amou e a quem quis imitar toda a vida. E talvez o pai do homem que escreveu “My Home Town” nunca tenha estado tão presente num disco como neste Western Stars, de Junho de 2019.
Springsteen contava em Born to Run (a autobiografia) que o seu pai tinha umas pernas enormes e parecidas com troncos, calçava botas pesadas e gostava de ir para o bar local beber até mais não. Era um homem reservado com os filhos e que tinha dificuldade em abrir-se. Um norte-americano médio que passou ao lado da revolução do flower power e que desdenhava a cultura popular. E Bruce desdenhava-o a ele. Mas ao crescer e conhecer centenas de pessoas diferentes começou a entender o pai e a fazer as pazes com este. Lembrava, no concerto da Broadway, um sonho que tivera em que saía do palco, se sentava numa das cadeiras da frente, ao lado do pai, e que se ficava a ver a atuar com a E-Street Band. Depois inclinava-se para o velhote e apontava para o jovem musculado, de cabelo aos caracóis, barba desalinhada e brinco a saltar no palco. “Está a ver pai? Aquele tipo no palco? É assim que eu o vejo.”
Imaginamos o pai de Springsteen, sentado na cozinha a ouvir Glenn Campbell e Harry Nilson e são esses músicos que Springsteen invoca neste Western Stars. Nas treze canções do disco, Bruce é muito menos Roy Orbison e muito mais uma estrela decadente do country. E são essas as melhores estrelas de country.
Ao longo de 50 minutos, Springsteen vai desfiando personagens, quase sempre em estrada, quase sempre falhadas, quase sempre reais. E existe também carinho por estas personagens na entrega que o músico faz. Na primeira canção, “Hitch Hikin’”, a personagem principal segue pela estrada, “following the weather and the wind”, apanhando uma boleia ocasional. E nessas boleias encontra velhas personagens suas: o casal “grávido de esperanças” (“The River”), um condutor de camiões (“Open All Night”) e um tipo orgulhoso da potência do seu carro (“Racing in the Street”). A entrega de Springsteen parece carregar essa mesma nostalgia de quem vai encontrando velhos amigos pelo caminho e fica feliz com isso.
E se “Glory Days” é um dos grandes hinos de Springsteen, “Western Stars” é a versão adulta dessa mesma canção. Nela, o homem de 69 anos leva o ouvinte a um qualquer set onde se grava um anúncio. Um ex-cowboy (que podia perfeitamente ser o Mikey Rourke d’O Wrestler) prepara-se para mostrar a sua satisfação com aquele “little blue pill”. O ritmo intermitente da guitarra acústica, complementado pelo uivar do oboé e da slide guitar e o pulsar bem demarcado do baixo conferem um fatalismo maior à entrega dolente e magnífica de Springsteen. Até que chegados ao fim do terceiro refrão se levanta uma parede de cordas, como que alimentada por aquele tal comprimido prometido no início da canção, preparando o caminho para o verso central. “Once I was shot by John Wayne/ Yeah, it was toward the end / That one scene has brought me up a thousand drinks / Set me up and I’ll tell it for you, friend”, canta Springsteen num tom de crooner que relembra os bons velhos tempos de glória de ter contracenado com o mais famoso actor norte-americano.
Auxiliado por dezenas de músicos que bebem mais da tradição country do que do rock, Springsteen puxa dos galões de estrela velha e tem orquestrações de cordas e de trompa dignos de um Glen Campbell com brinco na orelha esquerda e bronzeado artificial. E se em algumas canções como “Drive Fast (The Stuntman)” ou “Sundown” a adição da E-Street Band faria bem aos temas, dando-lhes uma maior pujança, a verdade é que estas orquestrações assentam que nem uma luva ao Springsteen de 69 anos.
Ouça-se por exemplo “Hello Sunshine” e percebe-se rapidamente que o piano repicado, a bateria contida e omnipresente e as orquestrações de viola de arco, violino e violoncelo permitiram a Springsteen ter tido um enorme sucesso a cantar baladas de amor country, não se tivesse agarrado ao mais barulhento dos rock and rolls.
Lembro-me da primeira vez que tive contacto com o Bruce Springsteen. Foi com o videoclipe de “Born in the USA”, transmitido na SIC Gold (entre outras canções, passava muito a “Forever Young” dos Alphaville). Não gostei daquele tipo com bandolete na cabeça, um casaco de gosto duvidoso e calças de ganga justa (mas gostei dos Alphaville…).
Mais tarde, já com os meus 12 anos comecei a descobrir os Jimi Hendrix, Queen e Led Zeppelins desta vida. E voltei a ver este homem na televisão. De novo “Born in the USA” e, tal como Ronald Reagan, não entendi a canção, só ouvi mesmo o refrão. Mas tudo mudou. O Bruce tornou-se lentamente num ser que admirava e cuja música devorei. Ouvi, li e escrevi sobre ele. Andei meses com uma cassete do Boss no carro. Quis descobrir a América profunda e decidi que um dia vou percorrê-la. Quando o fizer, levo Western Stars para ouvir ao atravessar Nashville.