Uma metade da famosa dupla dos Everly Brothers Phil Everly faleceu neste dia em 2014 (3 de janeiro)
quarta-feira, 3 de janeiro de 2024
Uma metade da famosa dupla dos Everly Brothers Phil Everly faleceu neste dia em 2014 (3 de janeiro)
Uma metade da famosa dupla dos Everly Brothers Phil Everly faleceu neste dia em 2014 (3 de janeiro)
Em Janeiro de 1976, o single de Bob Dylan "Hurricane" alcançou o #33 na Billboard Hot 100 dos EUA (3 de janeiro)
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Neste dia, em 1986, o single de Wang Chung "Everybody Have Fun Tonight" atingiu o pico no 2o lugar na Billboard Hot 100 dos EUA
Neste dia, em 1986, o single de Wang Chung "Everybody Have Fun Tonight" atingiu o pico no 2o lugar na Billboard Hot 100 dos EUA (3 de janeiro)
Mattiel – Satis Factory (2019)
Tiramos já isto do caminho, Mattiel soa a bandas fixes. Várias. Todas com raízes nos anos 60, 70, 80, o que faz de Satis Factory uma viagem pelo rock com pinta retro.
Que este início não engane ninguém, Mattiel Brown tem a sua própria identidade e estilo, porque um disco que nos faz lembrar boas influências do rock é sempre muito mais do que apenas uma mistura de nomes e canções. Este segundo álbum da cantora de Atlanta é daqueles que agrada à primeira escuta e tem o dom de melhorar nas audições seguintes. Está lá um catálogo de bons gostos, de Lou Reed a Velvet Underground, de White Stripes e Courtney Barnett a Black Lips.
“Je Ne Me Connais Pas” leva uma roupagem rockabilly com o refrão em francês a transportar-nos obrigatoriamente até um filme da nouvelle vague, “Keep The Change” vai até ao rock-pista-de-dança-1980 e Anna Calvi, “Blisters” puxa ao country, “Berlin Weekend” podia ter saído de Horses de Patti Smith.
No geral Satis Factory tem o dom de nenhuma música soar a enchimento nem quebra de ritmo estranha. As canções são escritas com sentido de humor; em “Millionaire” Mattiel canta “Took a hundred years to get this microfone / Now I wanna sell everything I own” para chegar à conclusão “might as well be a Millionaire”. Já “Food For Thought” aborda a religião “Give me all your Money / And I’ll open up the pearly gates” e a já mencionada “Je Ne Me Connais Pas” é sobre a misoginia, (“Gonna marry myself and get a divorce / I’m gonna get kicked right off of my high horse”) e no videoclip faz troça do vídeo de “Blurred Lines”, de Pharrell e Robin Thicke.
A fechar o disco, “Long Division” faz tão bom trabalho como a primeira faixa do álbum, “Till The Moment Of Death”, que é uma mistura de influências com toques a canção de uma banda sonora de Tarantino. Não é de estranhar que Jack White tenha apadrinhado o primeiro trabalho de Mattiel. Ainda assim, Satis Factory é mais eficaz, mais enérgico e carismático, e soube aproveitar o disco anterior e dar um passo em frente na sonoridade e confiança.
Allah-Las – LAHS (2019)
A banda oriunda da sempre quente, psicadélica e misteriosa Los Angeles acaba de lançar o seu quarto álbum de originais, LAHS, e trancou-nos num tempo, num espaço e numa época que não são nossas. Bem-vindos à Califórnia dos 60 e dos 70.
Ouvir a música dos Allah-Las é uma boa maneira de pregar uma partida aos nossos ouvidos.
Assim que a voz (e a guitarra elétrica e pedalada) de Miles Michaud e os instrumentais de Matthew Correia (na bateria), Spencer Dunham (no baixo) e Pedrum Siadatian (também na guitarra e nos vocais) se juntam, somos transportados para as décadas douradas dos 60 e dos 70.
De repente, na nossa cabeça, estamos numa estrada de alcatrão derretido, encostados na porta de um cabriolet (hoje retro), com um cigarro na boca e sem um rumo nos pneus do carro. O nosso corpo, porém, permanece onde está – no metro, no comboio, no escritório, na biblioteca, em todo lado… menos num estado da Califórnia que se perdeu em rolos de câmara queimados pela luz solar.
A metafísica da música é um dos fenómenos mais misteriosos do universo.
Mas voltando à Califórnia, mais concretamente ao ano de 2008. Miles, Matthew, Spencer e Pedrum conheceram-se através de uns dos locais de culto musical mais importantes da indústria musical norte-americana, situado no coração da Sunset Boulevard: na Amoeba Music, a maior loja de discos independentes do mundo.
Na verdade, apenas Miles não era funcionário na Amoeba – os restantes membros da banda iam ganhando uns trocos trabalhando nesse paraíso de discos (…que sorte…), mas hoje em dia é como tivesse sido.
Os miúdos – na altura eram miúdos com guitarras nas mãos e poemas na garganta – começaram a tocar, a tocar, a tocar, enquanto se iam inspirando, inspirando, inspirando nas sonoridades mais marcantes da música rock-pop dessas décadas douradas e, apenas em 2011, lançaram a primeira canção de um projeto que já leva 11 anos às costas: “Catamaran/ Long Journey”, que será para sempre uma das maiores pérolas dos Allah-Las.
Os anos foram passando, os álbuns foram sendo lançados e reproduzidos e a banda, mantendo-se fiel a si mesma, nunca largou o «seu» éter musical. Os Allah-Las, talvez por pretenderem alcançar um tempo que já não volta e um espaço que se tornou uma memória turva – o dito «California Myth» -, permaneceram fiéis ao seu estilo musical que, na verdade, não é deles – é de quem o viveu e sentiu na pele.
Hoje em dia, em qualquer contexto criativo, os artistas parecem ser obrigados a perseguir sempre um novo rumo, sempre uma nova raiz criativa; se não seguem e se preferem ficar parados no tempo a recriar criações que há muito foram produzidas por outros artistas, são tomados como pouco «originais». Originalidade também é recriar épocas, sentimentos e momentos passados na mente de quem consome a obra artística. Criatividade também é recriar épocas, sentimentos e momentos passados na mente de quem consome a obra artística. Música também é recriar épocas, sentimentos e momentos passados na mente de quem consome a obra artística.
Os Allah-Las decidem, a cada trabalho que executam, recriar, através da sua música, uma época e uma ecossistema musical que já não volta. Mas não nos podemos esquecer que a metafísica da música é um dos fenómenos mais misteriosos do universo.
Em LAHS, voltamos a viajar no tempo. Já o tínhamos feito em 2012, com o LP Allah-Las. E em 2014, com o álbum Worship The Sun. E também em 2016, aquando do lançamento do terceiro projeto da banda, Calico Review.
Em 2019, voltamos a viajar no tempo e a estrada, quente e deserta, que os Allah-Las alcatroaram nos nossos ouvidos e na nossa cabeça tem 13 faixas, num total de 44 minutos.
Ainda assim, é importante referir que, em LAHS, a banda californiana refinou o seu som, notando-se uma, ainda que leve, evolução e transformação na musicalidade da banda, que parece agora mais própria e madura do que nunca. Assim, LAHS é, sem sombra de dúvida o trabalho mais original da banda de Miles Michaud.
Fumem esse cigarro e entrem no carro, porque temos um longo caminho a percorrer até chegarmos à praia.
O álbum começa com a faixa “Holding Pattern”, sendo uma faixa típica da banda californiana. Típica porque facilmente poderia incorporar os anteriores álbuns da banda, de tão característica que é. Sintam o calor seco da guitarra inicial em “Holding Pattern”.
No fim dos 4 minutos que compõe esta canção sentimos a boca seca e temos sede, mas água é algo que não existe no deserto da Califórnia, nem na musicalidade dos Allah-Las, que fizeram da faixa “Keeping Dry” a segunda do projeto.
A bateria de Matthew Correia em “Keeping Dry” é um dos bons momentos do álbum. Nessa canção, o poder está todo concentrado nos braços do baterista. É Matthew quem decide quando a faixa começa e quando é que a faixa acaba.
Seguem-se as faixas “In The Air” (uma autêntica viagem sonora) e a surpreendente “Prazer Em Conhecer”, que é cantada em português (do Brasil) – sim, na nossa língua. “Prazer Em Te Conhecer” é um dos melhores momentos do projeto. Apesar de tudo, cumpre referir que esta não é a primeira aventura dos Allah-Las pelo universo lexical português: em 2012, no álbum Allah-Las, a banda incluiu o instrumental “Ela Navega”, que foi então a primeira vez que a banda se entregou ao nosso maior tesouro, a língua portuguesa. Em “Prazer Em Te Conhecer” os instrumentais são relaxados e descontraídos; o mesmo dizemos sobre a letra da canção. Esta faixa é um casamento perfeito.
Em “Roco Ono”, faixa inteiramente instrumental, presenciamos o primeiro momento psicadélico do álbum – todos os segundos da canção são uma autêntica mistura de cores e sensações quentes e vívidas.
Seguem-se “Star” (que é uma continuação mais «slow» de “Roco Ono”, onde já se ouve a voz de Michaud), “Royal Blues” (que deixará Haruomi Hosono muito, muito orgulhoso – facilmente percebemos porquê…) e “Electricity” (nessa, devemos atentar nos vocais que sustentam a canção; se os tirássemos, a canção tornar-se-ia num corpo vazio, sem peso).
Os Allah-Las não conseguem produzir uma faixa que não tenha, na base, um instrumental espetacular; acertam sempre em cheio. “Light Yearly” é mais uma prova disso mesmo.
E “Polar Onion” também. Neste momento do álbum, a voz de Miles ganha uma profundidade ainda maior – o seu timbre fica, por momentos, mais profundo do que as águas do Pacífico. “Polar Onion” é uma das cabeças de cartaz de LAHS – talvez por isso tenha sido uma das primeiras faixas a ser lançada (junto com “Prazer Em Te Conhecer” e “In The Air”), sob a forma de single.
As derradeiras canções do projeto assumem uma existência mais calma, mais contemplativa, de certa forma. Estamos quase a chegar ao nosso destino: já vemos o mar, lá ao longe. O depósito está nas últimas e o Sol, que nos esteve sempre a comandar por cima das nossas cabeças, está agora a descansar e a preparar-se para desparecer no horizonte.
“On Our Way” é uma composição bonita, sendo talvez a canção que mais se aproxime da ideia de «balada». “On Our Way” é uma escolha, uma decisão que fazemos no final do dia – para onde vamos agora?… Para Houston?
“Houston” é a penúltima faixa do álbum e é a mais bela. Assume a forma de instrumental e, apesar da falta de palavras em toda a sua completude, esta pode ser a canção que mais nos diz ao longo do processo de audição de LAHS. É bonito quando apenas os instrumentos conversam connosco. Estamos 2 minutos e 13 segundos à conversa com eles, e cada um de nós tem uma conversa diferente – é a magia das composições instrumentais: as notas são iguais para todos os ouvidos, o sentimento delas extraído não.
E assim chegamos à última canção do álbum. “Pleasure”, onde é a vez do espanhol se fazer ouvir. Na última canção do projeto, reencontramos uma sonoridade aventureira e, de certa forma, divertida e cheia de luz, que tão bem marca o processo criativo dos Allah-Las.
LAHS é exatamente aquilo que estávamos à espera. Ainda assim, deixou-nos surpreendidos. Os Allah-Las, nunca deixando cair as suas influências, inovaram, experimentaram, criaram novos sons e, com isso, tiveram sucesso. LAHS é uma experiência refrescante que, para além de ser mais uma prova da qualidade musical dos intervenientes da banda, deixa claro que seguir incondicionalmente uma raiz de influências não nos faz escravos de um único caminho criativo – e neste caso musical.
Em LAHS, os Allah-Las mantiveram-se fiéis às suas influências. E, em LAHS, os Allah-Las inovaram.
Saiam do carro, de qualquer das formas já não temos mais gasolina.
Chegamos.
Não fazia ideia de que o azul do Pacífico era tão azul.
David Bruno – Miramar Confidencial (2019)
O primeiro disco surgiu do nada e despertou analogias a Serge Gainsbourg, este segundo, um ano depois, expande esse universo.
David Besteiro deixou, em 2018, de ser apenas uma das partes do Conjunto Corona e passou a autor a solo com “O Último Tango em Mafamude”, misturando a vida de bairro com o kitsch português da meia branca, a camisa larga aberta até ao peito e o casaco (blazer creme com quadrados verdes) a cheirar levemente a naftalina.
Em “Miramar Confidencial” assume-se mais neste universo. Aqui é Adriano, figura-tipo do português pato-bravo nos anos 90, inspirado em factos reais que pouco importam ao disco, porque a ficção pode ser muito mais interessante que a realidade. David Bruno assume o papel de construtor civil na zona litoral de Gaia e como este personagem recorda os bons anos 90, em que a construção se mistura com a estética de filmes de Steven Seagal.
Mais uma vez entre o pimba e o bom gosto, David Bruno nunca deixa resvalar a ironia e genuíno apreço por esse mundo para o foleiro.
O disco abre com um instrumental onde se destaca um recorrente sample de uma águia retirada a um filme de acção dos anos 90. Mais para a frente vamos voltar a encontrar este som no desenrolar da história. Também como no álbum anterior, tudo isto pode ser acompanhado pelos vídeos no youtube, numa espécie de experiência aumentada onde as referências à região, com bares, locais e até a partes da década, como os Jogos Sem Fronteiras, são quadros do mundo destes personagens.
“Com Contribuinte” é uma ode aos tempos em que o dinheiro abunda e este Adriano aproveita para meter jantares nas contas da empresa. O disco é entrecortado por pausas, onde várias figuras se queixam que o personagem é caloteiro. O tom é amigável de início, com Samuel Úria, e vai piorando ao longo da história/disco, nas outras pausas onde entram Fernando Alvim e Este Senhor (Bondage/Carlos Afonso) que já ameaça com advogados “Espírito Santo style”. O personagem é um burlão que quer uma vida melhor, com lagostim e vista para o mar, como se percebe em “Interveniente Acidental”. Esta faixa com participação de Mike El Nite é quando Adriano vai a tribunal como consequência de tentar “fazer pela vida” por si e pelo seu amor que não compreende o seu estilo de vida e que ele acaba eventualmente por desistir, a favor do trabalho e do dinheiro.
O disco está repleto de momentos cómicos como em “Aparthotel Céu Azul” onde se ouve “Toda a noite Safari cola e Curassã / trinco-te o miolo deixo-te a codeã”. A história é vaga o suficiente para preencher com a nossa imaginação, onde “prostitutas a vereadores” (frase em destaque no vídeo de “M0ita Fl0res”) convivem na discoteca Iodo, com tráficos de influências e a “máfia da construção”. Esta música, com a colaboração de Alferes Malheiro, pseudónimo de Hugo Oliveira, (mais conhecido por outro pseudónimo, Minus & MRDolly) tem o ónus de contar com as frases “Santamaria no auto-rádio o disco é de ouro” e “numa numa ei”, uma mescla de referências pop-pimba que serve de pano de fundo, tal como em “Serenata em Enxo1000” onde Adriano promete tocar “Eros Ramazzotti na viola”.
A guitarra de Marco Duarte, que já era presença fundamental no anterior disco, é aglutinadora e um dos sons mais recorrentes na narrativa; ao lado da voz dá-lhe a pinta necessária, entre solos cheios de eco ou notas que pontuam as canções. O maior defeito é a repetição em algumas músicas, que parecem por vezes semelhantes umas às outras, em andamento ou na repetição constante de uma frase. Este não é de todo algo que nos afaste do disco e fica a ideia de que falta pouco para Miramar Confidencial ser daqueles álbuns de antologia, uma obra de ficção onde vídeo, áudio e texto convivem para dar uma ideia da Gaia litoral nos anos 90, onde há projectos megalómanos de construção com 12 andares, piscina e área de lazer, construtores civis com Fiat Uno e BMW Brancos, Sapateira e Arroz de Tamboril. Um mundo que David Bruno sabe muito bem trabalhar, entre o parolo da meia branca e o irónico que a exibe, sem se perder nas referências e nas piadas, sempre com bom gosto como pano de fundo a contar a história.
Destaque
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