quarta-feira, 3 de julho de 2024

Review: Europe - The Final Countdown 30th Anniversary Show – Live at the Roundhouse (2017)

 


Lançado em maio de 1986, The Final Countdown, terceiro disco do Europe, é um dos mais emblemáticos álbuns do glam/hair metal. Apesar de sueca, a banda conseguiu traduzir com perfeição o clima do hard californiano, imprimiu a sua identidade e deu ao mundo um dos maiores hinos do estilo, a mais do que clássica e altamente reconhecível música título.

Celebrando os trinta anos do disco, o Europe realizou uma turnê em 2016 e 2017 apresentando o álbum na íntegra, além de diversas outras músicas de sua extensa carreira. É o registro dessa tour que temos em The Final Countdown 30th Anniversary Show – Live at the Roundhouse, box que a Hellion Records acaba de lançar no Brasil. A caixa, que contém 2 CDs e 1 DVD, saiu lá fora em 2017 e é um verdadeiro presente para os fãs. O quinteto formado por Joey Tempest (vocal), John Norum (guitarra), Mic Michaeli (teclado), John Levén (baixo) e Ian Haugland (bateria), todos excelentes músicos, entrega uma performance irretocável.

O primeiro disco traz músicas que atestam a mudança de sonoridade pela qual o Europe passou desde que retornou à atividade no início dos anos 2000, fase iniciada com Start from the Dark (2004). Ou seja: um hard rock mais clássico e que não esconde a influência de grandes ícones dos anos 1970, em contraste com o clima mais festivo presente nos discos registrados na primeira metade da carreira do grupo. O tracklist privilegia músicas de War of Kings (2015), que estava sendo promovido na época, e traz uma pegada que colocará um sorriso no rosto de quem curte um hard com bela interação entre guitarra e teclados, na linha do Deep Purple. Ao mesmo tempo, o clima oriental de “Rainbow Bridge” alinha-se com as com as experimentações de Jimmy Page e Robert Plant pela música do outro lado do mundo.

Já o disco dois vem o álbum The Final Countdown na íntegra, para delírio do público. A interação com a plateia é nitidamente maior, com vários trechos onde a audiência entoa melodias e canta os refrãos a plenos pulmões. Um fato interessante é que a banda atualiza a pegada dessas faixas para a sua proposta atual, tocando-as com mais maturidade e inserindo nuances instrumentais que as tornam ainda mais fortes. Isso sem falar de Tempest, que nos anos recentes passou a explorar os timbres mais graves de sua voz e canta dessa maneira.

O material conta também com um DVD com as 23 músicas presentes nos dois CDs gravadas no palco do The Roundhouse, com direção, produção e edição de Patric Ullaeus, um dos principais diretores de videoclipes de metal e hard rock da atualidade. Não consegui avaliar essa parte porque não tenho mais player de DVD/Blu-ray, mas vendo os clipes desse show no YouTube percebe-se que a qualidade sentida no áudio foi mantida também na parte de vídeo.

A edição da Hellion vem em um box digipack dobrável e produzido em papel de alta qualidade, além de um belo encarte com vinte e cinco páginas cheio de fotos e informações.

The Final Countdown 30th Anniversary Show – Live at the Roudhouse é um item obrigatório para fãs do Europe e uma belíssima aquisição para a coleção de quem gosta de hard rock. Vale demais!



Review: Maestrick – Espresso Della Vita: Solare (2018)

 


Sou um cara fora de moda. Pra começar, ainda compro CDs. E, veja só: costumo ouvi-los em casa, ao invés de deixá-los apenas expostos na estante. Tem outra coisa que também faço e não vejo muito por aí: não elogio uma banda brasileira só por ela ser brasileira. Não acredito que o corporativismo e o relativismo sejam o caminho para a construção de uma cena cada vez mais criativa, relevante e forte aqui no Brasil. No meu modo de ver, isso deve ser feito de outra maneira: com bandas criativas, que pensem fora da caixa e que, por isso mesmo, merecem todo espaço possível para divulgação de seus trabalhos.

Esse é o caso do Maestrick. Formado em 2004 em São José do Rio Preto, o grupo – que conta atualmente com Fabio Caldeira (vocal, teclado e piano), Renato Somera (baixo e voz gutural) e Heitor Matos (bateria) -, lançou no final de 2018 o seu segundo álbum, Espresso Della Vita: Solare, que acabou de chegar em minhas mãos. O disco é o sucessor de Unpuzzle! (2011) e mostra uma clara evolução em relação à estreia. Adair Daufembach responde pela guitarra (e também pela produção, ao lado da banda) e Rubinho Silva pelos violões, em participações especiais.

O Maestrick abriu o leque em Espresso Della Vita: Solare. A sonoridade, que já dava pistas de querer romper os limites do prog metal, aqui faz isso sem cerimônias. A inclusão de elementos de música brasileira, como a viola que introduz “Rooster Race”, ganha a companhia de uma melodia que é o mais puro som de Liverpool na deliciosa “Daily View”. E as experimentações seguem por todo o trabalho, mostrando uma inquietação criativa muito positiva. Orquestrações e camas de teclados discretas pontuam a maioria das músicas, enquanto melodias e pontes que não escondem a influência do Queen aparecem aqui e acolá, como demonstra “Keep Trying”.

A veia prog surge forte na grandiosa “The Seed”, com rupturas de dinâmicas e andamentos quebrados bem na escola mais ortodoxa do gênero. Os belos coros que introduzem e encerram a canção são outro destaque naquela que é, provavelmente, a música mais progressiva do disco, superando os 15 minutos de duração e com lindas passagens instrumentais (aliás, a melodia de piano que surge na parte final me lembrou de maneira sutil a arrepiante “Tubular Bells”, de Mike Oldfield, presente na trilha do filme O Exorcista, de 1973). Este é o alicerce central do disco.

A grandiosidade de “The Seed” é quebrada por “Far West”, bem mais direta e com um trecho central em que a banda traz a música circense para a ordem do dia. Em “Penitência” o grupo canta em português uma espécie de repente prog metal sensacional, mostrando mais uma vez o quanto a presença de ritmos regionais e de um tempero étnico são caminhos sempre bem-vindos para destacar uma banda. Uma música linda! Essa abordagem é retomada em “Hijos De La Tierra”, com a letra trazendo trechos em espanhol e inglês.

O CD vem em um belo digipack feito da maneira que deve ser feito, e não como algumas gravadoras brasileiras tem produzido ultimamente, como a vergonhosa edição nacional do último álbum do Ghost, Prequelle, por exemplo, cujo digipack parece feito de papel sulfite. Aqui a coisa é outra, com papel de alta qualidade, impressão excelente e um longo encarte de 23 páginas com todas as letras e ilustrações exclusivas para cada uma delas. Vale mencionar que a Som do Darma (empresa de agenciamento e assessoria de imprensa) e a Die Hard (loja de discos de São Paulo) ajudaram a viabilizar o projeto.

Espresso Della Vita: Solare é um trabalho riquíssimo, com uma pluralidade musical desconcertante e onde o Maestrick faz questão de mostrar que consegue trilhar pelos mais variados caminhos, porém sem nunca fazer essas escolhas soarem pedantes ou desnecessárias. Um álbum muito bonito e acima da maioria do que se produz aqui no Brasil, com um resultado final que mais uma vez impressiona e mostra o quanto essa banda é incrível.

Um disco assim dá vontade de elogiar por dias e merece todos os aplausos possíveis, tendo ele sido gravado por uma banda brasileira ou não.





Review: Iron Fire – Beyond the Void (2019)

 


Formado em 1995, o trio Iron Fire chega ao seu décimo disco em Beyond the Void, lançado na Europa em março e disponibilizado no Brasil pela Hellion Records. O trabalho traz a banda de Martin Steene (vocal e baixo), Kirk Backarach (guitarra) e Gunnar Olsen (bateria) em doze músicas de puro power metal.

A pegada do Iron Fire é muito mais agressiva do que a visão que o público em geral possui do gênero, que aqui no Brasil é chamado também de metal melódico. Os dinamarqueses tem muito foco no “power” do termo, e isso se traduz em uma agressividade sempre presente, riffs pesados e vocais mais graves. A influência principal é o Judas Priest, sem dúvida, com a devida modernização para uma pegada mais atual.

As faixas são bem feitas, e mesmo não trazendo grandes inovações ou abordagens diferenciadas para o estilo, agradam o fã do gênero pela entrega que a banda demonstra. A melodia aliada ao peso é uma fórmula que sempre funciona, e em Beyond the Void o Iron Fire usa essa receita com precisão, resultando em um CD que agradará quem curte um metal mais tradicional.

Vale destacar o belo trabalho gráfico da edição nacional, tanto pela impressão quanto pela qualidade do papel, com direito a um encarte de 20 páginas com todas as letras e informações sobre a banda.

Beyond the Void é um disco extremamente agradável para quem é fã das nuances mais tradicionais do heavy metal, e agradará em cheio quem curte nomes como Primal Fear e assemelhados.



Kikagaku Moyo – Masana Temples (2018)

 

Medeiros/Lucas – Sol de Março (2018)

 

Jacco Gardner – Somnium (2018)


Morphine – Cure for Pain (1993)

 

Destaque

Utopia - Utopia (1969)

  Utopia foi uma banda bem obscura vindos da Califórnia, gravaram apenas um disco no ano de 1969, e depois disso sumiram do mapa sem deixar ...