sexta-feira, 23 de agosto de 2024

Ragpicker String Band - The Ragpicker String Band 2015

 

O bandolinista Rich DelGrosso, a guitarrista Mary Flower e o multi-instrumentista Martin Grosswendt ganharam muitos elogios por suas habilidades com as cordas. Juntos, eles receberam 9 indicações ao Blues Music Award, além de ótimas críticas e posições nos principais festivais do mundo. Eles dedilham, palhetam e fazem arcos juntos como a Ragpicker String Band — mas são suas harmonias de trio compactas que deslumbram especialmente.

















Discografias Comentadas: It’s A Beautiful Day

 

Discografias Comentadas: It’s A Beautiful Day
It’s a Beautiful Day: David LaFlamme, Pattie Santos, Mitchell Holman,
Val Fuentes, Hal Wagenet e Linda LaFlamme (1968)
Fundado em 1967, o grupo californiano It’s a Beautiful Day tornou-se um dos símbolos da segunda geração de grupos de San Francisco. A psicodelia de suas canções, as perfomances endiabradas de seus músicos nos palcos, e a crescente onda lisérgica do verão do amor, foram suficientes para tornar o It’s a Beautiful Day o maior expoente do novo cenário da música de San Francisco no final dos anos 60 e início dos 70, ao lado do Santana e após o estrondoso sucesso de grupos como Moby Grape, Jefferson Airplane e The Doors (considerados da primeira geração).
Porém, o sucesso do grupo não foi o suficiente para mantê-lo na ativa por muito tempo. Em apenas seis anos de vida, o grupo lançou quatro discos de estúdio e um álbum ao vivo, mas alterou momentos de instabilidade, que ocasionaram em diversas mudanças na sua formação, fazendo-o ser mais reconhecido por ser “a banda que gravou o tema original de Child in Time” (gravado pelo Deep Purple no álbum In Rock, de 1970) do que pelos méritos reais que o grupo possui.
Vamos então a curta mas deliciosa discografia do It’s A Beautiful Day.
 
It’s a Beautiful Day [1969]
Esse é um dos álbuns mais essenciais do flower-power californiano. Ele está no mesmo patamar de Cheap Thrills (Big Brother & The Holding Company) e Surrealistic Pillow (Jefferson Airplane). Nele, estão os maiores sucessos gravados pelo It’s a Beautiful Day. A canção que abre o LP, “White Bird“, é um marco do rock californiano. O casal David LaFlemme (violinos, voz) e Linda LaFlamme (teclados, voz), além de Pattie Smith (voz), Hal Wagenet (guitarras), Mitchell Holman (baixo, vocais) e Val Fuentes (bateria) criaram uma linda balada, com destaque para as passagens de violino e para as lindas vocalizações da dupla Pattie-David, além do órgão de Linda, que se sobressai na canção seguinte, a épica “Hot Summer Day“, uma espetacular balada latina comandada pelo baixo de Mitchell e pela harmônica de Bruce Steinberg. “Wasted Union Blues” traz a acidez típicamente californiana na guitarra de Hal, em um som que possui um ritmo alucinante. Outra bela canção encerra o lado A, “Girl With No Eyes”, agora com Linda fazendo um belo trabalho no cravo, tendo destaque novamente para o violino de David. O famoso riff que deu origem a “Child in Time” abre o lado B, na imortal “Bombay Calling“. As lindas notas orientais do violino são seguidas pela repetição das mesmas pelo órgão de Linda, de onde Hal surge com um vigoroso e efusivo solo de guitarra,  em uma fantástica faixa instrumental, repleta de duelos entre órgão e violino. “Bulgaria” é a mais intimista das canções, com um andamento soturno e ao mesmo tempo hipnotizante. Para encerrar, um delírio em foma de música, “Time Is”, com uma embalada sessão instrumental de abertura, que lembra músicas tradicionais russas, e com Linda se revelando uma espetacular tecladista. Admiradores de Jon Lord, ouçam e constatem por que o It’s A Beautiful Day era fonte de inspiração para o Purple. A canção encerra-se em um delirante free-jazz, com muita percussão e psicodelia, que fecha com chave de ouro o melhor álbum do grupo, e um dos melhores da história da Califórnia. A capa de It’s A Beautiful Day foi feita por George Hunter e pintada por Kent Holliseter, e foi eleita a vigésima quarta capa mais bonita de todos os tempos pela revista Rolling Stone.
Marrying Maiden [1970]
Os LaFlamme acabaram separando-se, e para o lugar de Linda, Fred Webb foi o contratado. Depois de um período conturbado, o grupo contou com a ajuda de Jerry Garcia (líder do Grateful Dead) e assim, gravou outro belo álbum. Marrying Maiden não tem a potência do álbum de estreia do grupo, mas destaca canções de muito bom gosto, e principalmente, revela outro talentoso tecladista, agora Webb. Jerry foi o responsável por tornar o som do grupo mais próximo do Southern Rock, e também sugeriu “a vingança” do It’s a Beautiful Day para o plágio que o Deep Purple havia feito com “Bombay Calling”. Logo na abertura do LP, a fantástica instrumental “Don and Dewey” provoca os britânicos, chupando sem-vergonha o riff da canção “Wring That Neck”, registrada no álbum do Deep Purple Book Of Taliesyn (1968). Um jazz rock fenomenal, mas que destoa bastante do resto do LP, o qual é mais leve, entre o Southern e o country, como pode ser comprovado na canção seguinte, a bonita “The Dolphins”. “Essence of Now” lembra The Mamas & The Papas, com as bonitas vocalizações de Pattie e David. Outra instrumental, “Hoedown”, é um country rock efervescente, com David solando de forma rápida e dançante, passando então para um solo de banjo feito por Jerry Garcia, que também é responsável pelo hilário solo de pedal steel guitar que vem na sequência.  A interessante “Soapstone Mountain” encerra o lado A, em uma suave canção, na linha de “Essence of Now”, com um refrão grudento e com Hal tocando de forma sublime. É nessa canção que a lisérgica guitarra de Hal dá as caras. “Waiting For The Sun” é uma rápida viajem lisérgica com vozes e um french-horn criando uma sonoridade muito estranha, seguida pela melosa “Let A Woman Flow“, um jazz suave, quase bossa-nova, com trechos cantados em espanhol. O jazz é retomado em “It Comes Right Down To You”, onde Jerry Garcia novamente participa com o pedal steel guitar e banjo, destacando nessa canção o clarinete de Richard Olsen. “Good Lovin'”, com um refrão grudentíssimo, resgata os ácidos acordes do primeiro álbum do grupo. A linda “Galileo”, com barulhos de vento e um dedilhado da guitarra seguidos por flautas, e a triste “Do You Remember The Sun”, que conta com um refrão marcante, encerram esse bom LP, que apesar de estar longe do LP de estreia, é uma ótima sequência para a carreira do grupo. A capa de Marrying Maiden é tão bonita quanto a de seu antecessor. Tendo o nome de A Joint Venture, a pintura foi construída por James William Redo III e Roberto Perez-Dias, e só fica relegada a segundo plano justamente pelo fato da capa do LP de estreia ser muito bela. Existe uma segunda capa que também é tão bonita quanto a original, mas que não é muito conhecida dos fãs da banda.
Choice Quality Stuff / Anytime [1971]
Depois de uma série de bem sucedidos shows, onde o grupo foi um dos destaques no Stamping Groung Festival da Holanda, em 1970, e do Festival de Bath, no mesmo ano, o grupo passa por uma nova reformulação, com Tom Fowler (baixo) e Bill Gregory (guitarra) substituindo Mitchell e Hal respectivamente. Porém, o clima entre os membros do grupo já não era o mesmo, principalmente David, que pensava em uma carreira solo, assim, gravam com o clima de fim de festa o chamado Disco do camelo. Dividido em duas partes, esse álbum caracteriza-se justamente de partes bem distintas. Choice Quality Stuff é pesado e bem trabalhado, abrindo com a fantástica “Creed of Love“, a qual possui um dos grandes refrões da carreira do grupo, além de um ótimo duelo entre Bill e David. “Bye Bye Baby” é um agitado blues que traz para o estúdio as improvisações que o grupo fazia ao vivo. “The Grand Camel Suite” mantém o bom nível, em uma ótima faixa instrumental que conta com uma cozinha bem southern rock. “No World For Glad” é próxima do hard setentista, e “Lady Love” é um funk psicodélico que lembra o Experience de Jimi Hendrix. Os membros do Santana Jose Chepito Areas (percussão), Coke Escovedo (percussão), e Gregg Rolie, (teclados) participam da faixa “Words”, uma paulada que não poderia deixar de lembrar as canções do Santana, com os vocais sensuais de Pattie se destacando, além do fantástico solo de Greg, encerrando o lado A com muito peso. Já Anytime é bem mais calmo. “Place Of Dreams” é uma canção sessentista, assim como a bonita instrumental “Oranges & Apples”, que conta com o trompete de Bill Atwood, o qual participa de “Anytime“, uma leve e dançante canção, na linha das canções de Janis Joplin com a Kosmic Blues Band, e que tem o ponto alto no solo de saxofone feito por Atwood. “Bitter Wine” trás de novo o pessoal do Santana, e o embalo é retomado em uma faixa que é cantada por Pattie e David juntos, encerrando o álbum com a ótima “Misery Loves Company”, com um fantástico solo de Bill. A engraçada capa com o camelo andando pelo deserto e se imaginando dirigindo um carrão entre vários parceiros de corcovas, foi feita por George Benett, e chegou a causar alguma polêmica nos EUA por apresentar os testículos do mamífero. O Disco do camelo foi o último a contar com David LaFlamme, que decidiu seguir carreira solo pouco depois do grupo lançar o bom ao vivo at Carnegie Hall (1972), mas não foi o último da discografia.

It’s a Beautiful Day … Today [1973]

Sem David, Patti, Val, Bill e Fred tocaram o barco com Bud Cockrell (baixo) e Greg Bloch (violino). Essa formação gravou o derradeiro álbum do grupo. O som do It’s a Beautiful Day mudou bastante, fugindo totalmente da psicodelia, e criando um espaço mais homogêneo para as vocalizações de Pattie, Bill e Bud, misturando bonitas baladas e canções mais dançantes. “Ain’t That Lovin’ You, Baby” é a canção que abre os trabalhos, com um cadenciado andamento, onde sem dúvida as vocalizações são o maior destaque, assim como o ótimo solo de Bill. “Child” é um triste blues, levado pelo piano e pelas tristes notas da guitarra, onde Pattie mostra todos os seus dotes vocais. “Down on the Bayou” é mais setentista, com um andamento swingado e dançante, tendo um ótimo solo de hammond. “Watching You, Watching Me” é uma canção cuja levada do baixo lembra “Ramble On”, do Led Zeppelin, porém sendo uma canção bem mais leve. O lado A encerra com a linda balada “Mississippi Delta”, levada  por piano, violino e uma emotiva interpretação vocal do grupo, com um clima bem sessentista.  A agitada “Ridin’ Thumb” destaca os vocais sensuais de Pattie Smith, sobre mais uma levada swingada do grupo, abrindo o lado B com bastante ritmo. O piano de “Mississippi Delta” volta a estar presente em outra linda canção, “Time”, um bluesão sensacional onde Fred mostra seu talento com o piano, enquanto “Lie to Me” retoma o andamento sessentista, com bonitas passagens vocais e também do piano. “Burning Low” é uma agitadíssima canção, onde a levada de baixo e piano, acompanhando as vocalizações de Pattie e Bill, dão um tempero pop ao som de … Today, que encerra-se com “Creator”, uma triste canção soul, que deixa a sensação de que o It’s a Beautiful Day podia entrar no novo mundo da música com bastante vigor, e com potencial para continuar na ativa por muitos anos.

Foto clássica na capa interna do primeiro álbum do grupo

Porém, o grupo acabou logo após o lançamento desse álbum. Algumas reuniões ocorreram nas décadas posteriores. Em 1989, Pattie faleceu em um acidente de carro. Fred Webb faleceu no ano seguinte e em 1997, David LaFlamme retornou com o grupo, porém apenas para apresentações, sem gravar nenhum disco de estúdio, mas apresentando aos novos e velhos fãs os clássicos que marcaram a carreira desse grande grupo, que mesmo em seu pequeno período na Terra, teve sua relevância destacada entre muitos nomes do rock, principalmente Ian Gillan, o qual em uma entrevista em 1990, afirmou que o grupo havia sido uma das maiores influências na Mark II do Deep Purple.

Discografias Comentadas: The Stooges

 Discografias Comentadas: The Stooges

Formado em Ann Harbour (Columbia, EUA), em 1967, o Stooges foi o embrião do que no futuro viria a ser o Punk Rock e seus consequentes desdobramentos. Figuras seminais da cena punk/hardcore como The Ramones, Black Flag, Sex Pistols, The Damned e mais algumas dezenas de grupos do estilo, além de grupos de outras vertentes (ainda que influenciadas pelo punk) como Red Hot Chili Peppers, Sonic Youth, Sisters of Mercy, Rage Against The Machine, Slayer, entre muitos outros prestaram e ainda prestam referência ao proto-punk da banda. Dotado de uma sonoridade crua e cortante, regada a uma dose generosa de cinismo e acidez lírica, o som do Stooges é absurdamente carismático e contagiante, cativando um grupo fiel de admiradores.

The Stooges [1969] 

Lançado em abril de 1969, o auto-intitulado primeiro disco dos “patetas” ja mostra a que veio: são menos de 35 minutos, mas cada segundo reduz a pó tudo que havia sido feito no Rock n Roll até então. As guitarras “motosserra” de Ron Asheton, mais a cozinha formada por seu irmão Scott Asheton (bateria) e Dave Alexander (baixo) pavimentam o caminho (im)perfeito para Iggy – de iguana – Stooge (depois Iggy Pop) – que já nessa época aterrorizava os mais incautos com sua performance absurdamente debochada – patrolar os ouvidos alheios com sua visão de mundo sem perspectivas.

A bolacha ja começa com um belo tapa na cara da apatia juvenil da época: “1969, OK/através da América/Outro ano pra você e pra mim/Outro ano sem nada pra fazer“. A próxima é mais um dos clássicos da banda (e do Rock n Roll), uma música de amor, evidentemente no estilo sujo, sarcástico e cínico dos caras,. Trata-se de “I Wanna Be Your Dog“, com seu riff de guitarra tão ácido quanto hipnótico e “ganchudo”, e sua letra urgente: “Agora estaremos cara a cara/e deitarei no meu lugar favorito/e agora quero ser seu cachorro“. Declaração de amor infalível para qualquer dama, convenhamos! A seguinte, “We Will Fall” é um épico claustrofóbico de mais de 10 minutos, espremendo carência de afeto por entre os dedos. Segue o disco, voltando à loucura proto-punk com “No Fun” um puta som, clássico absoluto dos caras, que vai nessa: “(…) Sem graça andar por aí/se sentindo do mesmo jeito/apavorado por outro dia“. As próximas, “Real Cool Time” (recorrente nos shows da posterior carreira solo de Iggy, “Ann“, “Not Right” e “Little Doll” seguem no mesmo nível altíssimo de qualidade. Altamente recomendado, “The Stooges” é fundamental em qualquer discografia de rock que se preze.


Fun House [1970] 

No ano seguinte ao debut, os 4 patetas (o mesmo lineup do álbum da estreia) de Columbia voltam a cuspir seu sua música irresistivelmente suja não despreparados (e também em sua crescente legião de fãs).

Fun House é o nome da barbaridade em questão. Basicamente uma sequência do disco anterior, lá estão os temas cortantes, sarcásticos e diretos do grupo. Assim como seu antecessor, não há destaques no sentido de que o disco é absurdamente coeso e estável, em sua anarquia sônica, por mais paradoxal que isso possa soar. Mesmo assim, algumas se tornaram clássicos idolatrados por gerações de rockeiros das mais diversas vertentes. Exemplo de “T.V. Eye” (outra tocada até hoje nos shows de Iggy), “Loose” e a faixa título. Outra paulada fundamental na prateleira de rockeiros e admiradores de música boa, Fun House ,apesar de curto, vale cada segundo.


Raw Power [1973] 

Logo após Fun House, os Stooges se separaram, principalmente devido aos (grandes) problemas com álcool de Alexander, e aos (enormes) problemas de Iggy com heroína. Esse último só não foi comer capim pela raiz por causa da intervenção do “camaleão” David Bowie, admirador de Osterberg e dos Stooges. Com o auxílio de Bowie, e contando com a produção do próprio e de Iggy Pop, os Stooges entram em estúdio para gravar Raw Power (sob a alcunha de “Iggy and the Stooges”). Outro puta disco, mas ironicamente, o menos cru (raw) até então. A maior diferença está não só na produção um pouco mais esmerada – que não prejudicou de forma alguma o som dos caras – mas também nas guitarras, uma vez que Ron Asheton substitui Dave Alexander no baixo, dando lugar a James Williamson, que já tinha à época certo nome como produtor. Utilizando-se de timbragens um pouco mais limpas e riffs menos anárquicos, Williamson levou o som dos Stooges a um patamar um pouco mais acessível (mas não pop – sem trocadilhos). Mesmo assim, Raw Power tem uma das canções mais representativas dos anos 70 no que tange a agressividade, a poderosa “Search And Destroy“. A face menos agressiva do “novo” Stooges se mostra em “Gimme Danger” uma semi-balada punk que também está cravada na história do gênero. As outras faixas do disco, apesar de nao terem a urgência nem o frescor das constantes nos dois discos anteriores, mantém o nível elevado de composição do grupo. Depois desse disco, a banda novamente se desfez. Iggy Pop seguiu uma carreira solo de sucesso (ainda que dando umas rateadas vergonhosas aqui e ali), James Williamson tocou com Iggy em alguns albums do cantor e continuaria sua carreira de produtor. Da parte dos irmãos Asheton , Ron tocaria com alguns outros grupos, incluindo aí passagens pelo New Order, e Scott passaria por várias bandas de pouca expressão. Por fim, Dave Alexander faleceria em 1975, vítima dos abusos de álcool.


The Weirdness [2007] 

34 anos depois de seu último disco de estúdio, acontece o inesperado retorno dos Stooges. Contando com quase a mesma formação dos dois primeiros discos, com Mike Watt (Minutemen, Firehose) no lugar do falecido Dave Alexander, The Weirdness parece ser, ao mesmo tempo, o Stooges dos anos 2000, e o disco que seria lançado em 1974 ou 1975 caso a banda não tivesse terminado naquela altura. Mesmo depois de 40 anos de carreira (com os integrantes na casa dos 60) os Stooges ainda mostram que têm muita lenha para queimar, e mostram uma cara de pau e um sarcasmo ímpar, deixando no chinelo muito moleque – e marmanjo – metido a punk e revoltado! Dificil lembrar de alguém lançando tijoladas como “You Can’t Have Friends” (“eu deveria acreditar em mel jorrando de pedras/eu deveria acreditar na humanidade, mas não!“) ou “My Idea of Fun” (“minha idéia de diversão/é matar todo mundo”). Todos os quarenta minutos do disco são dignos de respeito. E, se por um lado não estamos mais no final dos 60’s/começo dos 70’s, por outro, fica claro que, mesmo quarenta anos depois, os Stooges ainda têm muito gás! Ainda no final da primeira década do século XXI, fortes rumores davam conta de outro disco de inéditas. Rumores esses reforçados por declarações dos próprios integrantes. Infelizmente, Ron Asheton faleceu em janeiro de 2009, dificultando em muito a produção de material inédito por parte do grupo. Ainda que James Williamson possa vir a substituir Ron, a possibilidade é mínima, uma vez que a relação do mesmo com o restante do grupo parece não ser das melhores.

Stooges anos 2000: Ron Asheton, Iggy Pop e Scott Asheton.

Ainda que a carreira do grupo tenha definitivamente chegado ao fim, seu legado vai ficar cravado de forma irreversível em todo grupo que tenha, teve ou terá, influencia do puk rock do qual os Stooges foram, inegavelmente, os principais responsáveis por criar.


Crítica ao disco de Gavin Harrison & Antoine Fafard - 'Perpetual Mutations' (2024)

 Gavin Harrison e Antoine Fafard - 'Perpetual Mutations' (2024)

(26 de julho de 2024, Harmonic Heresy)

Gavin Harrison e Antoine Fafard - Mutações Perpétuas

Hoje é a vez de apresentar o novo trabalho da dupla GAVIN HARRISON e ANTOINE FAFARD , que se chama “ Perpetual Mutations ” e foi publicado no dia 26 de julho pelo selo Harmonic Heresy, muito recentemente, aliás.

O canadense-britânico FAFARD toca baixo elétrico e guitarra clássica, enquanto o britânico HARRISON toca bateria, marimba e percussão eletrônica neste álbum que segue por quatro anos o célebre “Chemical Reactions”. Como veremos pouco depois, há motivos para elogiar mil e uma vezes “Perpetual Mutations”, mas antes, recordemos que estas duas estrelas contaram com a colaboração de vários músicos que estiveram muito à altura da tarefa: Jean-Pierre Zanella (saxofone soprano), Dale Devoe (trombones e trompetes), Joasia Cieslak (violoncelo), Isadora Filipovic (violoncelo), Ally Storch (violino), Reinaldo Ocando (marimba e vibrafone), Pier Luigi Salami (piano acústico e elétrico) Fender Rhodes ), Roderigo Escalona (oboé) e Tadeusz Palosz (handpan e tambor de toras). Todo o material aqui contido foi composto por FAFARD, que também ficou responsável pelo design gráfico baseado na arte criada por Galina Timofeeva. As gravações ocorreram no estúdio Migrason em Montreal, Canadá, enquanto os processos subsequentes de mixagem e masterização foram realizados por Davide Sgualdini no Studio LaMorte em Cagliari, Itália; a mixagem específica das partes da bateria foi feita pelo próprio HARRISON. Bem, agora vamos dar uma olhada nos detalhes de “Perpetual Mutations”.

A dupla inicial de ‘Dark Wind’ e ‘Deadpan Euphoria’ marca os limites favoráveis ​​para o esquema de trabalho da dupla. O primeiro tema é agilmente inserido num ritmo sofisticado que permite ao desenvolvimento temático mostrar as suas cores essenciais através das exigentes variantes rítmicas. O sax e a bateria são as duas colunas nas quais todo o conjunto se apoia. O senhorio progressista personificado por 'Dark Wind' é simplesmente imparável e já se destaca como o ápice do repertório. Quanto a 'Deadpan Euphoria', é um refinado exercício de jazz-fusion onde a exibição de vibrações melancólicas se deixa levar placidamente pela abordagem melódica meditativa. As alternâncias entre violino, violoncelo e violão clássico no posicionamento no centro vital da instrumentação garantem a fluidez do lirismo predominante. 'Viral Information' é uma música bastante deslumbrante que se move cuidadosamente para a luminosidade jovial do discurso do jazz progressivo. Há espaço também para certas passagens mais sutis, que articulam recursos oportunos de diversidade à atmosfera geral. 'Objective Reality' leva o impacto do brilho do tema anterior para um terreno mais cadenciado, permitindo ao saxofone assumir a liderança no desenvolvimento temático enquanto a bateria cria mil e um ornamentos. 'Quiescent II' regressa diretamente à área do jazz-fusion que já foi explorada na faixa #2 e fá-lo com um dinamismo reativado e refrescante. Os tambores voam e se dissolvem numa sofisticação furiosa que refaz continuamente o senhorio estrutural sobre o qual o núcleo temático dá livre curso à sua graça sincera.* 'Plano Espontâneo', por sua vez, restaura sistematicamente os ritmos e atmosferas que marcaram o tema de abertura, acrescentando um toque extra de punch que vem a calhar com a forma um pouco mais concisa como a configuração melódica é realizada juntamente com os arranjos instrumentais. Acontece que é outro momento climático do álbum.

Quando chega a vez de 'Estrutura Pentalógica', a peça cumpre fielmente a premissa do seu título ao tocar com cadências centradas no andamento de 5/4. Com o lirismo arquitetónico do violino e os floreios sublimes do baixo, a peça assume uma eficaz aura aristocrática; Além disso, isso aumenta com a chegada de um exuberante solo de violão clássico cuja beleza exótica acrescenta uma boa dose de encantamento à peça como um todo. 'Solus Souls II' desce dos céus da exuberância patente para se instalar num terreno de delicada introversão onde prevalece o paradigma do jazz-fusion ao estilo de Corea e Hancock. Há um solo de baixo fabuloso que anima um pouco, mas não para romper com a aura contemplativa da composição, mas sim para ornamentar astuciosamente os espaços vazios momentaneamente abertos pelo piano, instrumento maioritariamente protagonista no roteiro de desenvolvimento temático. 'Safety Meeting' traz consigo o final do repertório e começa com um prólogo exaltado cujas vibrações suntuosas aproximam colateralmente o jazz de vanguarda, mas o corpo central, uma vez instalado, é marcado por um lirismo bem definido que, em parte, assemelha-se à espiritualidade contemplativa da peça anterior. É claro que seu colorido é mais opulento e o conjunto de intervenções metálicas funciona como fonte de ornamento e diálogo simultaneamente. Isto facilita a criação de um epílogo magnífico para a música e para o álbum. Como balanço final, é um trabalho muito bem feito, a dupla GAVIN HARRISON & ANTOINE FAFARD assinou uma excelente exposição de música progressiva para este ano de 2024: é uma celebração eufórica da perpetuidade do rock artístico.** Recomendado em 200 % (100% para cada crack de assinatura).

- Amostras de 'Perpetual Mutations':


PEROLAS DO ROCK N´ROLL - FREE JAZZ - MIN BUL - Same - 1970

 Projeto do guitarrista norueguês Terje Rypdal, o Min Bul era um trio formado por ele, o contabaixista Bjørnar Andresen e o baterista Espen Rud. O grupo teve vida muito curta: formou-se em 1970, lançando um disco no mesmo ano e no ano seguinte se desfez.

O som do trio liderado pela guitarra de Terje traz uma música altamente experimental para a época, muitas vezes áspero e ruidoso (como na faixa de abertura "I Cried A Million Tears Last Night") , em alguns momentos beirando o Avant-jazz.
Pérola altamente recomendada para fãs de free jazz!















Jazz Music Archives

Double Bass/Bass – Bjørnar Andresen
Drums – Espen Rud
Guitar, Soprano Saxophone – Terje Rypdal

1. I Cried A Million Tears Last Night 6:16
2. Invocation 6:10
3. Champagne Of Course 11:05
4. Ved Sørevatn 5:56
5. Nøtteliten 7:35
6. Strange Beauty 5:45





quinta-feira, 22 de agosto de 2024

PEROLAS DO ROCK N´ROLL- SPACE ROCK - AKASHA - Same - 1977




Obscura pérola norueguesa formada no norte do país, o Akasha lançou apenas um álbum em 1977 de apenas 1000 cópias, com uma produção "precária" no prédio da BAT Records no vilarejo de Kjøllefjord, sendo extremamente raro nos dias de hoje.
O som da banda no seu disco homônimo é dominado pelo space rock e progressivo eletrônico, um som viajante e obscuro. Passa por longas passagens instrumentais, principalmente de sintetizadores e mellotron, a guitarra distorcida também tem algumas bons momentos. As músicas são todas em inglês.
Pérola altamente recomendada para quem gosta do progressivo dominado pelos teclados e de space rock.





Sverre Svendsen - Vocal, Mellotron
Kjell Evensen - Bateria
Arild Andreasson - Baixo
Jens-Ivar Andreassen - Guitarra, Mellotron, sintetizadores, piano, orgão
Tor Johnny Hansen - Letras e vocal

1. Isle Of Kawi (11:05)
2. Bondage (6:20)
3. Regitativ (1:51)
4. Electronic Nightmare (2:16)
5. Death Hymn (5:17)
6. Light And Darkness (6:28)
7. The Trip (3:58)
8. Man of The Void (4:51)


Destaque

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