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It’s a Beautiful Day: David LaFlamme, Pattie Santos, Mitchell Holman, Val Fuentes, Hal Wagenet e Linda LaFlamme (1968) |
Fundado em 1967, o grupo californiano It’s a Beautiful Day tornou-se um dos símbolos da segunda geração de grupos de San Francisco. A psicodelia de suas canções, as perfomances endiabradas de seus músicos nos palcos, e a crescente onda lisérgica do verão do amor, foram suficientes para tornar o It’s a Beautiful Day o maior expoente do novo cenário da música de San Francisco no final dos anos 60 e início dos 70, ao lado do Santana e após o estrondoso sucesso de grupos como Moby Grape, Jefferson Airplane e The Doors (considerados da primeira geração).
Porém, o sucesso do grupo não foi o suficiente para mantê-lo na ativa por muito tempo. Em apenas seis anos de vida, o grupo lançou quatro discos de estúdio e um álbum ao vivo, mas alterou momentos de instabilidade, que ocasionaram em diversas mudanças na sua formação, fazendo-o ser mais reconhecido por ser “a banda que gravou o tema original de Child in Time” (gravado pelo Deep Purple no álbum In Rock, de 1970) do que pelos méritos reais que o grupo possui.
Vamos então a curta mas deliciosa discografia do It’s A Beautiful Day.
It’s a Beautiful Day [1969]
Esse é um dos álbuns mais essenciais do flower-power californiano. Ele está no mesmo patamar de
Cheap Thrills (Big Brother & The Holding Company) e
Surrealistic Pillow (Jefferson Airplane). Nele, estão os maiores sucessos gravados pelo It’s a Beautiful Day. A canção que abre o LP, “
White Bird“, é um marco do rock californiano. O casal David LaFlemme (violinos, voz) e Linda LaFlamme (teclados, voz), além de Pattie Smith (voz), Hal Wagenet (guitarras), Mitchell Holman (baixo, vocais) e Val Fuentes (bateria) criaram uma linda balada, com destaque para as passagens de violino e para as lindas vocalizações da dupla Pattie-David, além do órgão de Linda, que se sobressai na canção seguinte, a épica “
Hot Summer Day“, uma espetacular balada latina comandada pelo baixo de Mitchell e pela harmônica de Bruce Steinberg. “Wasted Union Blues” traz a acidez típicamente californiana na guitarra de Hal, em um som que possui um ritmo alucinante. Outra bela canção encerra o lado A, “Girl With No Eyes”, agora com Linda fazendo um belo trabalho no cravo, tendo destaque novamente para o violino de David. O famoso riff que deu origem a “Child in Time” abre o lado B, na imortal “
Bombay Calling“. As lindas notas orientais do violino são seguidas pela repetição das mesmas pelo órgão de Linda, de onde Hal surge com um vigoroso e efusivo solo de guitarra, em uma fantástica faixa instrumental, repleta de duelos entre órgão e violino. “Bulgaria” é a mais intimista das canções, com um andamento soturno e ao mesmo tempo hipnotizante. Para encerrar, um delírio em foma de música, “Time Is”, com uma embalada sessão instrumental de abertura, que lembra músicas tradicionais russas, e com Linda se revelando uma espetacular tecladista. Admiradores de Jon Lord, ouçam e constatem por que o It’s A Beautiful Day era fonte de inspiração para o Purple. A canção encerra-se em um delirante free-jazz, com muita percussão e psicodelia, que fecha com chave de ouro o melhor álbum do grupo, e um dos melhores da história da Califórnia. A capa de
It’s A Beautiful Day foi feita por George Hunter e pintada por Kent Holliseter, e foi eleita a vigésima quarta capa mais bonita de todos os tempos pela revista Rolling Stone.
Marrying Maiden [1970]
Os LaFlamme acabaram separando-se, e para o lugar de Linda, Fred Webb foi o contratado. Depois de um período conturbado, o grupo contou com a ajuda de Jerry Garcia (líder do Grateful Dead) e assim, gravou outro belo álbum.
Marrying Maiden não tem a potência do álbum de estreia do grupo, mas destaca canções de muito bom gosto, e principalmente, revela outro talentoso tecladista, agora Webb. Jerry foi o responsável por tornar o som do grupo mais próximo do Southern Rock, e também sugeriu “a vingança” do It’s a Beautiful Day para o plágio que o Deep Purple havia feito com “Bombay Calling”. Logo na abertura do LP, a fantástica instrumental “
Don and Dewey” provoca os britânicos, chupando sem-vergonha o riff da canção “Wring That Neck”, registrada no álbum do Deep Purple
Book Of Taliesyn (1968). Um jazz rock fenomenal, mas que destoa bastante do resto do LP, o qual é mais leve, entre o Southern e o country, como pode ser comprovado na canção seguinte, a bonita “The Dolphins”. “Essence of Now” lembra The Mamas & The Papas, com as bonitas vocalizações de Pattie e David. Outra instrumental, “Hoedown”, é um country rock efervescente, com David solando de forma rápida e dançante, passando então para um solo de banjo feito por Jerry Garcia, que também é responsável pelo hilário solo de pedal steel guitar que vem na sequência. A interessante “
Soapstone Mountain” encerra o lado A, em uma suave canção, na linha de “Essence of Now”, com um refrão grudento e com Hal tocando de forma sublime. É nessa canção que a lisérgica guitarra de Hal dá as caras. “Waiting For The Sun” é uma rápida viajem lisérgica com vozes e um french-horn criando uma sonoridade muito estranha, seguida pela melosa “
Let A Woman Flow“, um jazz suave, quase bossa-nova, com trechos cantados em espanhol. O jazz é retomado em “It Comes Right Down To You”, onde Jerry Garcia novamente participa com o pedal steel guitar e banjo, destacando nessa canção o clarinete de Richard Olsen. “Good Lovin'”, com um refrão grudentíssimo, resgata os ácidos acordes do primeiro álbum do grupo. A linda “Galileo”, com barulhos de vento e um dedilhado da guitarra seguidos por flautas, e a triste “Do You Remember The Sun”, que conta com um refrão marcante, encerram esse bom LP, que apesar de estar longe do LP de estreia, é uma ótima sequência para a carreira do grupo. A capa de
Marrying Maiden é tão bonita quanto a de seu antecessor. Tendo o nome de A Joint Venture, a pintura foi construída por James William Redo III e Roberto Perez-Dias, e só fica relegada a segundo plano justamente pelo fato da capa do LP de estreia ser muito bela. Existe uma segunda capa que também é tão bonita quanto a original, mas que não é muito conhecida dos fãs da banda.
Choice Quality Stuff / Anytime [1971]
Depois de uma série de bem sucedidos shows, onde o grupo foi um dos destaques no Stamping Groung Festival da Holanda, em 1970, e do Festival de Bath, no mesmo ano, o grupo passa por uma nova reformulação, com Tom Fowler (baixo) e Bill Gregory (guitarra) substituindo Mitchell e Hal respectivamente. Porém, o clima entre os membros do grupo já não era o mesmo, principalmente David, que pensava em uma carreira solo, assim, gravam com o clima de fim de festa o chamado
Disco do camelo. Dividido em duas partes, esse álbum caracteriza-se justamente de partes bem distintas.
Choice Quality Stuff é pesado e bem trabalhado, abrindo com a fantástica “
Creed of Love“, a qual possui um dos grandes refrões da carreira do grupo, além de um ótimo duelo entre Bill e David. “
Bye Bye Baby” é um agitado blues que traz para o estúdio as improvisações que o grupo fazia ao vivo. “The Grand Camel Suite” mantém o bom nível, em uma ótima faixa instrumental que conta com uma cozinha bem southern rock. “No World For Glad” é próxima do hard setentista, e “Lady Love” é um funk psicodélico que lembra o Experience de Jimi Hendrix. Os membros do Santana Jose Chepito Areas (percussão), Coke Escovedo (percussão), e Gregg Rolie, (teclados) participam da faixa “Words”, uma paulada que não poderia deixar de lembrar as canções do Santana, com os vocais sensuais de Pattie se destacando, além do fantástico solo de Greg, encerrando o lado A com muito peso. Já
Anytime é bem mais calmo. “Place Of Dreams” é uma canção sessentista, assim como a bonita instrumental “Oranges & Apples”, que conta com o trompete de Bill Atwood, o qual participa de “
Anytime“, uma leve e dançante canção, na linha das canções de Janis Joplin com a Kosmic Blues Band, e que tem o ponto alto no solo de saxofone feito por Atwood. “Bitter Wine” trás de novo o pessoal do Santana, e o embalo é retomado em uma faixa que é cantada por Pattie e David juntos, encerrando o álbum com a ótima “Misery Loves Company”, com um fantástico solo de Bill. A engraçada capa com o camelo andando pelo deserto e se imaginando dirigindo um carrão entre vários parceiros de corcovas, foi feita por George Benett, e chegou a causar alguma polêmica nos EUA por apresentar os testículos do mamífero. O
Disco do camelo foi o último a contar com David LaFlamme, que decidiu seguir carreira solo pouco depois do grupo lançar o bom ao vivo
at Carnegie Hall (1972), mas não foi o último da discografia.
It’s a Beautiful Day … Today [1973]
Sem David, Patti, Val, Bill e Fred tocaram o barco com Bud Cockrell (baixo) e Greg Bloch (violino). Essa formação gravou o derradeiro álbum do grupo. O som do It’s a Beautiful Day mudou bastante, fugindo totalmente da psicodelia, e criando um espaço mais homogêneo para as vocalizações de Pattie, Bill e Bud, misturando bonitas baladas e canções mais dançantes. “Ain’t That Lovin’ You, Baby” é a canção que abre os trabalhos, com um cadenciado andamento, onde sem dúvida as vocalizações são o maior destaque, assim como o ótimo solo de Bill. “Child” é um triste blues, levado pelo piano e pelas tristes notas da guitarra, onde Pattie mostra todos os seus dotes vocais. “Down on the Bayou” é mais setentista, com um andamento swingado e dançante, tendo um ótimo solo de hammond. “Watching You, Watching Me” é uma canção cuja levada do baixo lembra “Ramble On”, do Led Zeppelin, porém sendo uma canção bem mais leve. O lado A encerra com a linda balada “Mississippi Delta”, levada por piano, violino e uma emotiva interpretação vocal do grupo, com um clima bem sessentista. A agitada “Ridin’ Thumb” destaca os vocais sensuais de Pattie Smith, sobre mais uma levada swingada do grupo, abrindo o lado B com bastante ritmo. O piano de “Mississippi Delta” volta a estar presente em outra linda canção, “Time”, um bluesão sensacional onde Fred mostra seu talento com o piano, enquanto “Lie to Me” retoma o andamento sessentista, com bonitas passagens vocais e também do piano. “Burning Low” é uma agitadíssima canção, onde a levada de baixo e piano, acompanhando as vocalizações de Pattie e Bill, dão um tempero pop ao som de … Today, que encerra-se com “Creator”, uma triste canção soul, que deixa a sensação de que o It’s a Beautiful Day podia entrar no novo mundo da música com bastante vigor, e com potencial para continuar na ativa por muitos anos.
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Foto clássica na capa interna do primeiro álbum do grupo |
Porém, o grupo acabou logo após o lançamento desse álbum. Algumas reuniões ocorreram nas décadas posteriores. Em 1989, Pattie faleceu em um acidente de carro. Fred Webb faleceu no ano seguinte e em 1997, David LaFlamme retornou com o grupo, porém apenas para apresentações, sem gravar nenhum disco de estúdio, mas apresentando aos novos e velhos fãs os clássicos que marcaram a carreira desse grande grupo, que mesmo em seu pequeno período na Terra, teve sua relevância destacada entre muitos nomes do rock, principalmente Ian Gillan, o qual em uma entrevista em 1990, afirmou que o grupo havia sido uma das maiores influências na Mark II do Deep Purple.
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