O bandolinista Rich DelGrosso, a guitarrista Mary Flower e o multi-instrumentista Martin Grosswendt ganharam muitos elogios por suas habilidades com as cordas. Juntos, eles receberam 9 indicações ao Blues Music Award, além de ótimas críticas e posições nos principais festivais do mundo. Eles dedilham, palhetam e fazem arcos juntos como a Ragpicker String Band — mas são suas harmonias de trio compactas que deslumbram especialmente.
sexta-feira, 23 de agosto de 2024
Discografias Comentadas: It’s A Beautiful Day
It’s a Beautiful Day: David LaFlamme, Pattie Santos, Mitchell Holman, Val Fuentes, Hal Wagenet e Linda LaFlamme (1968) |
Sem David, Patti, Val, Bill e Fred tocaram o barco com Bud Cockrell (baixo) e Greg Bloch (violino). Essa formação gravou o derradeiro álbum do grupo. O som do It’s a Beautiful Day mudou bastante, fugindo totalmente da psicodelia, e criando um espaço mais homogêneo para as vocalizações de Pattie, Bill e Bud, misturando bonitas baladas e canções mais dançantes. “Ain’t That Lovin’ You, Baby” é a canção que abre os trabalhos, com um cadenciado andamento, onde sem dúvida as vocalizações são o maior destaque, assim como o ótimo solo de Bill. “Child” é um triste blues, levado pelo piano e pelas tristes notas da guitarra, onde Pattie mostra todos os seus dotes vocais. “Down on the Bayou” é mais setentista, com um andamento swingado e dançante, tendo um ótimo solo de hammond. “Watching You, Watching Me” é uma canção cuja levada do baixo lembra “Ramble On”, do Led Zeppelin, porém sendo uma canção bem mais leve. O lado A encerra com a linda balada “Mississippi Delta”, levada por piano, violino e uma emotiva interpretação vocal do grupo, com um clima bem sessentista. A agitada “Ridin’ Thumb” destaca os vocais sensuais de Pattie Smith, sobre mais uma levada swingada do grupo, abrindo o lado B com bastante ritmo. O piano de “Mississippi Delta” volta a estar presente em outra linda canção, “Time”, um bluesão sensacional onde Fred mostra seu talento com o piano, enquanto “Lie to Me” retoma o andamento sessentista, com bonitas passagens vocais e também do piano. “Burning Low” é uma agitadíssima canção, onde a levada de baixo e piano, acompanhando as vocalizações de Pattie e Bill, dão um tempero pop ao som de … Today, que encerra-se com “Creator”, uma triste canção soul, que deixa a sensação de que o It’s a Beautiful Day podia entrar no novo mundo da música com bastante vigor, e com potencial para continuar na ativa por muitos anos.
Foto clássica na capa interna do primeiro álbum do grupo |
Porém, o grupo acabou logo após o lançamento desse álbum. Algumas reuniões ocorreram nas décadas posteriores. Em 1989, Pattie faleceu em um acidente de carro. Fred Webb faleceu no ano seguinte e em 1997, David LaFlamme retornou com o grupo, porém apenas para apresentações, sem gravar nenhum disco de estúdio, mas apresentando aos novos e velhos fãs os clássicos que marcaram a carreira desse grande grupo, que mesmo em seu pequeno período na Terra, teve sua relevância destacada entre muitos nomes do rock, principalmente Ian Gillan, o qual em uma entrevista em 1990, afirmou que o grupo havia sido uma das maiores influências na Mark II do Deep Purple.
Discografias Comentadas: The Stooges
The Stooges [1969]
Lançado em abril de 1969, o auto-intitulado primeiro disco dos “patetas” ja mostra a que veio: são menos de 35 minutos, mas cada segundo reduz a pó tudo que havia sido feito no Rock n Roll até então. As guitarras “motosserra” de Ron Asheton, mais a cozinha formada por seu irmão Scott Asheton (bateria) e Dave Alexander (baixo) pavimentam o caminho (im)perfeito para Iggy – de iguana – Stooge (depois Iggy Pop) – que já nessa época aterrorizava os mais incautos com sua performance absurdamente debochada – patrolar os ouvidos alheios com sua visão de mundo sem perspectivas.
A bolacha ja começa com um belo tapa na cara da apatia juvenil da época: “1969, OK/através da América/Outro ano pra você e pra mim/Outro ano sem nada pra fazer“. A próxima é mais um dos clássicos da banda (e do Rock n Roll), uma música de amor, evidentemente no estilo sujo, sarcástico e cínico dos caras,. Trata-se de “I Wanna Be Your Dog“, com seu riff de guitarra tão ácido quanto hipnótico e “ganchudo”, e sua letra urgente: “Agora estaremos cara a cara/e deitarei no meu lugar favorito/e agora quero ser seu cachorro“. Declaração de amor infalível para qualquer dama, convenhamos! A seguinte, “We Will Fall” é um épico claustrofóbico de mais de 10 minutos, espremendo carência de afeto por entre os dedos. Segue o disco, voltando à loucura proto-punk com “No Fun” um puta som, clássico absoluto dos caras, que vai nessa: “(…) Sem graça andar por aí/se sentindo do mesmo jeito/apavorado por outro dia“. As próximas, “Real Cool Time” (recorrente nos shows da posterior carreira solo de Iggy, “Ann“, “Not Right” e “Little Doll” seguem no mesmo nível altíssimo de qualidade. Altamente recomendado, “The Stooges” é fundamental em qualquer discografia de rock que se preze.
Fun House [1970]
No ano seguinte ao debut, os 4 patetas (o mesmo lineup do álbum da estreia) de Columbia voltam a cuspir seu sua música irresistivelmente suja não despreparados (e também em sua crescente legião de fãs).
Fun House é o nome da barbaridade em questão. Basicamente uma sequência do disco anterior, lá estão os temas cortantes, sarcásticos e diretos do grupo. Assim como seu antecessor, não há destaques no sentido de que o disco é absurdamente coeso e estável, em sua anarquia sônica, por mais paradoxal que isso possa soar. Mesmo assim, algumas se tornaram clássicos idolatrados por gerações de rockeiros das mais diversas vertentes. Exemplo de “T.V. Eye” (outra tocada até hoje nos shows de Iggy), “Loose” e a faixa título. Outra paulada fundamental na prateleira de rockeiros e admiradores de música boa, Fun House ,apesar de curto, vale cada segundo.
Raw Power [1973]
Logo após Fun House, os Stooges se separaram, principalmente devido aos (grandes) problemas com álcool de Alexander, e aos (enormes) problemas de Iggy com heroína. Esse último só não foi comer capim pela raiz por causa da intervenção do “camaleão” David Bowie, admirador de Osterberg e dos Stooges. Com o auxílio de Bowie, e contando com a produção do próprio e de Iggy Pop, os Stooges entram em estúdio para gravar Raw Power (sob a alcunha de “Iggy and the Stooges”). Outro puta disco, mas ironicamente, o menos cru (raw) até então. A maior diferença está não só na produção um pouco mais esmerada – que não prejudicou de forma alguma o som dos caras – mas também nas guitarras, uma vez que Ron Asheton substitui Dave Alexander no baixo, dando lugar a James Williamson, que já tinha à época certo nome como produtor. Utilizando-se de timbragens um pouco mais limpas e riffs menos anárquicos, Williamson levou o som dos Stooges a um patamar um pouco mais acessível (mas não pop – sem trocadilhos). Mesmo assim, Raw Power tem uma das canções mais representativas dos anos 70 no que tange a agressividade, a poderosa “Search And Destroy“. A face menos agressiva do “novo” Stooges se mostra em “Gimme Danger” uma semi-balada punk que também está cravada na história do gênero. As outras faixas do disco, apesar de nao terem a urgência nem o frescor das constantes nos dois discos anteriores, mantém o nível elevado de composição do grupo. Depois desse disco, a banda novamente se desfez. Iggy Pop seguiu uma carreira solo de sucesso (ainda que dando umas rateadas vergonhosas aqui e ali), James Williamson tocou com Iggy em alguns albums do cantor e continuaria sua carreira de produtor. Da parte dos irmãos Asheton , Ron tocaria com alguns outros grupos, incluindo aí passagens pelo New Order, e Scott passaria por várias bandas de pouca expressão. Por fim, Dave Alexander faleceria em 1975, vítima dos abusos de álcool.
The Weirdness [2007]
34 anos depois de seu último disco de estúdio, acontece o inesperado retorno dos Stooges. Contando com quase a mesma formação dos dois primeiros discos, com Mike Watt (Minutemen, Firehose) no lugar do falecido Dave Alexander, The Weirdness parece ser, ao mesmo tempo, o Stooges dos anos 2000, e o disco que seria lançado em 1974 ou 1975 caso a banda não tivesse terminado naquela altura. Mesmo depois de 40 anos de carreira (com os integrantes na casa dos 60) os Stooges ainda mostram que têm muita lenha para queimar, e mostram uma cara de pau e um sarcasmo ímpar, deixando no chinelo muito moleque – e marmanjo – metido a punk e revoltado! Dificil lembrar de alguém lançando tijoladas como “You Can’t Have Friends” (“eu deveria acreditar em mel jorrando de pedras/eu deveria acreditar na humanidade, mas não!“) ou “My Idea of Fun” (“minha idéia de diversão/é matar todo mundo”). Todos os quarenta minutos do disco são dignos de respeito. E, se por um lado não estamos mais no final dos 60’s/começo dos 70’s, por outro, fica claro que, mesmo quarenta anos depois, os Stooges ainda têm muito gás! Ainda no final da primeira década do século XXI, fortes rumores davam conta de outro disco de inéditas. Rumores esses reforçados por declarações dos próprios integrantes. Infelizmente, Ron Asheton faleceu em janeiro de 2009, dificultando em muito a produção de material inédito por parte do grupo. Ainda que James Williamson possa vir a substituir Ron, a possibilidade é mínima, uma vez que a relação do mesmo com o restante do grupo parece não ser das melhores.
Ainda que a carreira do grupo tenha definitivamente chegado ao fim, seu legado vai ficar cravado de forma irreversível em todo grupo que tenha, teve ou terá, influencia do puk rock do qual os Stooges foram, inegavelmente, os principais responsáveis por criar.
Crítica ao disco de Gavin Harrison & Antoine Fafard - 'Perpetual Mutations' (2024)
Gavin Harrison e Antoine Fafard - 'Perpetual Mutations' (2024)
(26 de julho de 2024, Harmonic Heresy)
Hoje é a vez de apresentar o novo trabalho da dupla GAVIN HARRISON e ANTOINE FAFARD , que se chama “ Perpetual Mutations ” e foi publicado no dia 26 de julho pelo selo Harmonic Heresy, muito recentemente, aliás.
O canadense-britânico FAFARD toca baixo elétrico e guitarra clássica, enquanto o britânico HARRISON toca bateria, marimba e percussão eletrônica neste álbum que segue por quatro anos o célebre “Chemical Reactions”. Como veremos pouco depois, há motivos para elogiar mil e uma vezes “Perpetual Mutations”, mas antes, recordemos que estas duas estrelas contaram com a colaboração de vários músicos que estiveram muito à altura da tarefa: Jean-Pierre Zanella (saxofone soprano), Dale Devoe (trombones e trompetes), Joasia Cieslak (violoncelo), Isadora Filipovic (violoncelo), Ally Storch (violino), Reinaldo Ocando (marimba e vibrafone), Pier Luigi Salami (piano acústico e elétrico) Fender Rhodes ), Roderigo Escalona (oboé) e Tadeusz Palosz (handpan e tambor de toras). Todo o material aqui contido foi composto por FAFARD, que também ficou responsável pelo design gráfico baseado na arte criada por Galina Timofeeva. As gravações ocorreram no estúdio Migrason em Montreal, Canadá, enquanto os processos subsequentes de mixagem e masterização foram realizados por Davide Sgualdini no Studio LaMorte em Cagliari, Itália; a mixagem específica das partes da bateria foi feita pelo próprio HARRISON. Bem, agora vamos dar uma olhada nos detalhes de “Perpetual Mutations”.
A dupla inicial de ‘Dark Wind’ e ‘Deadpan Euphoria’ marca os limites favoráveis para o esquema de trabalho da dupla. O primeiro tema é agilmente inserido num ritmo sofisticado que permite ao desenvolvimento temático mostrar as suas cores essenciais através das exigentes variantes rítmicas. O sax e a bateria são as duas colunas nas quais todo o conjunto se apoia. O senhorio progressista personificado por 'Dark Wind' é simplesmente imparável e já se destaca como o ápice do repertório. Quanto a 'Deadpan Euphoria', é um refinado exercício de jazz-fusion onde a exibição de vibrações melancólicas se deixa levar placidamente pela abordagem melódica meditativa. As alternâncias entre violino, violoncelo e violão clássico no posicionamento no centro vital da instrumentação garantem a fluidez do lirismo predominante. 'Viral Information' é uma música bastante deslumbrante que se move cuidadosamente para a luminosidade jovial do discurso do jazz progressivo. Há espaço também para certas passagens mais sutis, que articulam recursos oportunos de diversidade à atmosfera geral. 'Objective Reality' leva o impacto do brilho do tema anterior para um terreno mais cadenciado, permitindo ao saxofone assumir a liderança no desenvolvimento temático enquanto a bateria cria mil e um ornamentos. 'Quiescent II' regressa diretamente à área do jazz-fusion que já foi explorada na faixa #2 e fá-lo com um dinamismo reativado e refrescante. Os tambores voam e se dissolvem numa sofisticação furiosa que refaz continuamente o senhorio estrutural sobre o qual o núcleo temático dá livre curso à sua graça sincera.* 'Plano Espontâneo', por sua vez, restaura sistematicamente os ritmos e atmosferas que marcaram o tema de abertura, acrescentando um toque extra de punch que vem a calhar com a forma um pouco mais concisa como a configuração melódica é realizada juntamente com os arranjos instrumentais. Acontece que é outro momento climático do álbum.
Quando chega a vez de 'Estrutura Pentalógica', a peça cumpre fielmente a premissa do seu título ao tocar com cadências centradas no andamento de 5/4. Com o lirismo arquitetónico do violino e os floreios sublimes do baixo, a peça assume uma eficaz aura aristocrática; Além disso, isso aumenta com a chegada de um exuberante solo de violão clássico cuja beleza exótica acrescenta uma boa dose de encantamento à peça como um todo. 'Solus Souls II' desce dos céus da exuberância patente para se instalar num terreno de delicada introversão onde prevalece o paradigma do jazz-fusion ao estilo de Corea e Hancock. Há um solo de baixo fabuloso que anima um pouco, mas não para romper com a aura contemplativa da composição, mas sim para ornamentar astuciosamente os espaços vazios momentaneamente abertos pelo piano, instrumento maioritariamente protagonista no roteiro de desenvolvimento temático. 'Safety Meeting' traz consigo o final do repertório e começa com um prólogo exaltado cujas vibrações suntuosas aproximam colateralmente o jazz de vanguarda, mas o corpo central, uma vez instalado, é marcado por um lirismo bem definido que, em parte, assemelha-se à espiritualidade contemplativa da peça anterior. É claro que seu colorido é mais opulento e o conjunto de intervenções metálicas funciona como fonte de ornamento e diálogo simultaneamente. Isto facilita a criação de um epílogo magnífico para a música e para o álbum. Como balanço final, é um trabalho muito bem feito, a dupla GAVIN HARRISON & ANTOINE FAFARD assinou uma excelente exposição de música progressiva para este ano de 2024: é uma celebração eufórica da perpetuidade do rock artístico.** Recomendado em 200 % (100% para cada crack de assinatura).
- Amostras de 'Perpetual Mutations':
PEROLAS DO ROCK N´ROLL - FREE JAZZ - MIN BUL - Same - 1970
Projeto do guitarrista norueguês Terje Rypdal, o Min Bul era um trio formado por ele, o contabaixista Bjørnar Andresen e o baterista Espen Rud. O grupo teve vida muito curta: formou-se em 1970, lançando um disco no mesmo ano e no ano seguinte se desfez.
O som do trio liderado pela guitarra de Terje traz uma música altamente experimental para a época, muitas vezes áspero e ruidoso (como na faixa de abertura "I Cried A Million Tears Last Night") , em alguns momentos beirando o Avant-jazz.Pérola altamente recomendada para fãs de free jazz!
quinta-feira, 22 de agosto de 2024
PEROLAS DO ROCK N´ROLL- SPACE ROCK - AKASHA - Same - 1977
O som da banda no seu disco homônimo é dominado pelo space rock e progressivo eletrônico, um som viajante e obscuro. Passa por longas passagens instrumentais, principalmente de sintetizadores e mellotron, a guitarra distorcida também tem algumas bons momentos. As músicas são todas em inglês.
Pérola altamente recomendada para quem gosta do progressivo dominado pelos teclados e de space rock.
Sverre Svendsen - Vocal, Mellotron
Kjell Evensen - Bateria
Arild Andreasson - Baixo
Jens-Ivar Andreassen - Guitarra, Mellotron, sintetizadores, piano, orgão
Tor Johnny Hansen - Letras e vocal
1. Isle Of Kawi (11:05)
2. Bondage (6:20)
3. Regitativ (1:51)
4. Electronic Nightmare (2:16)
5. Death Hymn (5:17)
6. Light And Darkness (6:28)
7. The Trip (3:58)
8. Man of The Void (4:51)
Destaque
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