Cantava desde pequeno, mas desenvolveu sobretudo a sua voz de tenor e uma relação com o fado de Coimbra quando ali entrou para a faculdade, para estudar medicina, em 1915, o mesmo ano em que pela primeira vez lança composições suas, publicadas pela Livraria Neves. Rapidamente integra o Orfeon Académico, a cuja direção se junta em 1918, num tempo em que alarga a sua passagem por palcos nacionais e internacionais. A proibição das serenatas, em 1919, abre todavia novas frentes para a criação musical e, apesar de regressar a Fornos de Algodres (onde nascera, em 1895), mas mantém a atividade musical. E será depois, sobretudo entre 1927 e 1929, que regista o grosso da sua obra em disco em gravações que o levam a Paris ou Berlim, ao que se segue uma mudança para Moçambique para exercer medicina.
Entre o lote de discos de 78 rotações que constituem a obra de António Menano, que desde cedo foi reconhecido como uma das maiores vozes de Coimbra, nasceram alguns casos de sucesso. Um deles, registado em 1927, deu ao clássico “Fado Hilário” (também referido como “Fado do Hilário”) uma gravação de referência e o seu maior sucesso até à data. Augusto Hilário da Costa Alves, outra das referências maiores da canção de Coimbra, nasceu em Viseu em 1864 e mudou-se para a cidade cuja história ajudaria a escrever em 1891, curiosamente também para estudar medicina. A sua voz torna-o numa figura conhecida do seu tempo, chegando até a cantar para o rei D. Carlos. Boémio, desapareceu cedo, com apenas 32 anos. E, apesar de uma referência na imprensa (em concreto no “Defensor do Povo” de 14 de Junho de 1894) a eventuais gravações suas, não se conhecem nenhumas, como nota a biografia que podemos ler no site do Museu do Fado. Apesar deste aparente silêncio da sua voz, Augusto Hilário deixou uma obra da qual se destacou o fado que acabou conhecido pelo seu próprio nome: o “Fado do Hilário” (letra e música de Augusto Hilário) que teve precisamente numa gravação de António Menano, a sua interpretação mais popular e de referência, surgindo depois em muitas outras interpretações, entre as quais a de Amália Rodrigues ou a cantora canadiana k.d. lang.
A gravação de António Menano não correspondeu, contudo, a estreia em disco. Data de 1900 um registo, por Duarte Silva do “Fado Hilaryo”, interpretado por Duarte Silva” (assim grafado), captado por William Sinkler Darby, um engenheiro de som britânico que então passou pelo Porto, podendo esse momento (e as demais vozes registadas nessa ocasião) corresponder às primeiras gravações de fado.
Há dois discos com a gravação do “Fado do Hilario” por António Menano, um deles de edição portuguesa, outro editado no Brasil. No 78 rotações português surge na face B o “Fado do Quinto Ano” (de Francisco Menano e Marcos da Cruz). Na edição brasileira a face B fica por conta do “Fado Do Emigrante” (de Paulo de Sá). Ambos os lançamentos surgiram pela Odeon, para a qual António Menano registou a sua discografia. O “Fado do Hilário” por António Menano chegou ao vinil numa compilação de 1985, “Fados De Coimbra” (duplo LP e cassete), pela EMI-VC. Em 1995 a Tradisom incluiu esta gravação em “António Menano 1927-1928” (editado em CD).