sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Sonic Youth – Bad Moon Rising (1985)

O segundo álbum dos Sonic Youth é alienígena, só com um bom tradutor e paciência conseguimos chegar ao seu cerne. Mas uma vez lá, tudo faz sentido.

Sim, Bad Moon Rising é um disco “difícil”, mas as camadas que ali se encontram são mais que muitas e interessantes de se esmiuçar. Comecemos pelo tema – é um disco sobre uma visão algo alternativa ao que era a América dos anos 80, uns Estados Unidos que se vangloriavam de serem os donos disto tudo, com o seu capitalismo reagan expansionista, fazendo da propaganda o seu veículo principal de demonstração de força. Mas era também uma América com um lado obscuro, obcecada pela morte, armas e violência, a lidar com uma relação ambígua entre poder e sexo. E foi nesta versão menos romântica que Thurston, Kim e Lee foram buscar inspiração para Bad Moon Rising. Feedbacks de guitarra, percussão tribal, ecos metálicos, objectos encontrados por Rauschenberg, obsessões, reverberações de Charles Manson, insanidade e o Vale da Morte, Lydia Lunch, tudo coisas pouco apelativas para um americano comum, mas relevantes para a banda nova-iorquina na sua realidade alternativa à presente nos media dominantes.

Também a sua sonoridade está neste campo da luta, afinal de contas não é por acaso que os Sonic Youth são considerados uma das bandas mais importantes do rock alternativo americano. O seu noise rock, tocado em guitarras com afinações diferentes, transformando-se muitas vezes nas curvas das músicas em puro barulho, foi visto por alguns como uma fonte de catarse e força narrativa. O enfoque dado à textura e ritmo, em detrimento da melodia perturba quem lá chega despreparado e afugenta quem procura algo fácil de ouvir, são exemplos disto temas como “Ghost Bitch”, “I’m Insane” e “Justice is Might”. Já em “Society is a Hole” e “I Love Her All the Time” há expansionismo em termos de um suposto refrão, que mais não é que o título da canção repetido vezes sem conta.

E depois há “Death Valley ’69”, o ponto alto do disco, e o que mais se assemelharia a um single para chegar ao mainstream (se isso fosse uma intenção da banda na altura, claramente não era). A participação de Lydia Lunch é mais uma demonstração da veia alternativa da banda, inserida que estava no meio nova-iorquino ligado ao aparecimento do movimento no wave.

A grande pecha de Bad Moon Rising é mesmo o baterista. Ainda não havia o incrível Steve Shelley na área, pelo que o trio de fundadores teve de se contentar com Bob Bert, que tinha sido despedido mas voltou por falta de opções. Felizmente foi sol de pouca dura.


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