Quatro pessoas com passados entre o hip hop e a música tradicional juntaram-se para fazer um disco de rock’n’roll puro, sem manhas e com óptimas canções.
Ao primeiro verso da primeira canção do disco, podemos pensar que isto parece Clã, mas essa impressão dissipa-se logo depois. Se bem que quando se pensa em rock português cantado no feminino os Clã são, obviamente, a grande referência institucional.
Mas logo a meio dessa, “Quarto 25“, já não pensamos nisso, pensamos sim que isto soa muito bem. Uma guitarra meio misteriosa que nos vai cozendo em lume brando, quando parece que está para rebentar em espalhafato rock, não rebenta, mantém a música numa tensão permanente à beira da saciedade mas sem concretizar, enquanto uma voz nos sussurra ao ouvido.
Assim, com apenas uma música, está declarado o tom do álbum: o seu quê de perigo, outro tanto de sedução («Uma faca no pescoço, a tua mão nas minhas costas»), sempre com energia rock e aura de mistério, a acompanhar uma narrativa de fragilidades, amores tóxicos, desilusões, claustrofobias, local errado à hora errada.
A energia, é certo, atravessa todas as canções de Andrómeda, mas o disco é um jogo de forças entre um rock visceral a todo o vapor e um rock de ambiente tenso e nevoeirento. Um avança e recua, ora explode ora refreia, quando não nos encosta às cordas atira-nos ao tapete.
“Paranóia“, “Elevador” e “Camel“, lânguidas, densas e tensas, são pólvora que vai entrando no barril para rebentar com estrondo em canções como “Cais“, “Sede” e “Chave”, autênticas rajadas. Óptimas melodias, gravadas com toda a vitalidade do rock de garagem, com uma produção sóbria sem artimanhas, e cantadas com formosura e segurança.
E não deixa de ser curioso que nenhum dos seus membros venha originalmente desse campo. O guitarrista, Pablo Banazol, tem carreira a solo nos terrenos de cantautor folk; o baterista Daniel Meliço vem dos Bicho do Mato, que misturam pop com música tradicional; Leonor Andrade, vocalista e letrista, nas suas passeatas pop já andou por programas de talentos na tv, foi à Eurovisão e lançou um disco a solo. Talvez mais surpreendente é o cabecilha. João Nobre, que muitos conhecerão como Jay Jay, baixista e fundador dos Da Weasel, é o timoneiro que aqui se assume como compositor de todas as canções (bom, na verdade, não é assim tão inédito vê-lo agora a fazer rock, ouça-se o que fez nos primeiros trabalhos dos Da Weasel ou até a banda anterior a isso, Braindead).
É talvez por esta confluência que isto soa tão bem. Não chegam cá pelo caminho mais óbvio mas com este álbum, os Lefty inscrevem-se com firmeza no panorama rock’n’roll português. Ainda há alguns pecados pop (uns trinados ocasionais, uns esganiçados no fim das frases) que poderão ser limados, mas dificilmente os Lefty se vão desviar do trilho que os vai levar ao topo.
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