Nos últimos anos, o Hip Hop vem apresentando um fenômeno interessantíssimo. As mulheres estão chegando com tudo, despejando rimas provocadoras num lugar de fala um tanto incomum para um estilo que foi, por tanto tempo, predominantemente masculino. Inspirado nessa necessária revolução, a protagonista de nosso “Na Primeira Prateleira” é a espetacular Noname e seu disco que é um dos melhores que ouvi nos últimos tempos, “Room 25” (2018).
A rapper de Chicago vem fazendo barulho na cena desde sua Mixtape “Telefone” (2016), e em seu primeiro disco, ela já entrega uma obra espetacular. Com um som Jazz-Rap extremamente sofisticado e orgânico, que pega muito do Neo-Soul de Erykah Badu, ela entrega com uma maestria técnica impressionante seus versos que retratam a vida de uma mulher negra nos EUA, de forma absurdamente ácida e bem-humorada.
A surra verbal empoderada em cima dos ritmos sincopados de “Self”, a negação dos estereótipos negros de “Blaxploitation”, ou os paralelos entre o sexo e a atual situação política Americana em “Prayer Song”, praticamente um dueto entre voz e bateria, mostram uma MC confiante, solta, e com um domínio da palavra que poucos sequer sonham em atingir.
As colaborações também caem como uma luva. A voz angelical de Ravyn Lenae aparece na espécie de bossa nova contemporânea de “Montego Bae”, enquanto os MCs Smino e Saba entregam versos pegajosos em “Ace”. Ao final, temos o momento mais emocionante do disco, em “no name”, com os vocais de Adam Ness colorindo os belíssimos arranjos de cordas. Num estalo, o disco, em seus 34 minutos, já acabou, deixando um gosto agridoce.
Já foi anunciado, para esse ano, o próximo álbum de Noname, chamado “Factory Baby”. Mas, enquanto ele ainda não está na praça, nada melhor do que ouvir uma das grandes obras do Hip Hop contemporâneo!
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