Ouvir como quem petisca. Uns CAN de aperitivo, depois uns Harmonia deluxe com uma pitada de Schnitzler a acompanhar, seguido de um faustoso cardápio para todos os gostos. Não há melhor banquete! Tudo isto servido neste Deutsche Elektronische Musik 4 pronto a servir.
Não é comum escrever-se sobre compilações no Altamont. Mas as regras também podem ser quebradas, e é exatamente isso que propomos. Não apenas pelo artigo em causa, mas também (e sobretudo) para que o mesmo aconteça na sua cabeça. A Soul Jazz Records já nos tinha brindado com três soberbas anteriores edições sobre essa estranha e tão diversificada música que muitas vezes designamos através da expressão krautrock. Em todas elas, a excelência é a nota dominante. Temas e bandas de primeiríssima qualidade, mas também o cuidado dado às edições é coisa que deve ser salientada. A etiqueta londrina não brinca em serviço, e é já extenso o seu histórico rico e plural, o que também acontece quando se aproxima da música experimental alemã dos anos 70, unindo rock e eletrónica. Depois, será sempre uma questão de gosto: ou se prefere o lado mais ácido e vigoroso dos CAN, por exemplo, ou antes se estima mais a vertente motorika e sonhadora dos NEU! Há ainda a hipótese de uma terceira via, eventualmente a mais acertada, conciliatória das duas anteriores. Se assim for, este Deutsche Elektronische Musik 4 – Experimental German Rock and Electronic Music 1971-83 pode ter sido feito para si. É experimentar, pois claro. Verá que não se arrependerá, nem dará o seu tempo como perdido.
Para além da música em questão e da diversidade de artistas que aqui podemos encontrar, de novo se destaca a beleza requintada das edições, tanto em CD como em vinil. A box do triplo vinil é de sonho, mas o duplo CD não deixará de contentar quem o tem. Pequenas maravilhas, de facto! Quanto ao resto, que é o que mais importa, será rigorosamente assim: mais uma extensa aventura por essa sonora e indescritível selva germânica que irrompeu nos finais dos anos 60 e continuou na década seguinte, criando um novo e riquíssimo paradigma musical.
Mas vamos aos nomes em maior destaque. São muitos e bons, embora não se esgotem nestes: Can, Amon Düül II, Harmonia, Conrad Schnitzler, Agitiation Free, Roedelius, Michael Rother, Conrad Schnitzler, assim como Dzyan, Klauss Weiss, Gruppe Between, eventualmente menos conhecidos. Um fartote, como bem se vê! São dezanove faixas ao todo, e muitas e muitas horas de audição, uma vez que o uso do repeat é mais do que obrigatório. Se, por mero acaso, não for versado no género, aconselhamos portas de entrada nesta grande casa do kraut. Quer tomar nota?
“Ballet Statique”, de Conrad Schnitzler, pode ser de interesse, assim como outras de semelhante calibre: “Flammende Herzen”, de Michael Rother; “Pink Sails”, de Klaus Weiss; “Halmharfe”, de Roedelius ou ainda o clássico “Deluxe (Immer Wieder”, dos maravilhosos Harmonia. Mas se, ao invés de uma certa quietude, quiser dar espaço a uma via mais virada para a agitação das guitarras e das percussões, então talvez seja de tentar “Dragonsong”, dos Dzyan ou “I’m So Green”, dos CAN. Mas há mais escolhas, como por exemplo “Wolf City”, “Patella Black” ou “Laila Pt. II”, dos Amon Düül II, Alex e Agitation Free, respetivamente. Não faltará material para o delírio, isso é garantido.
São já quatro, como se percebe, as coletâneas da Soul Jazz Records. Os completistas já as terão todas, embora uma delas (a segunda) seja hoje quase impossível de encontrar à venda a preço simpático. Sinais do mercado, pois então, mesmo que muitas vezes difícil de compreender. Este Deutsche Elektronische Musik 4 – Experimental German Rock and Electronic Music 1971-83 saiu em 2020 e é fácil de encontrar por cá. Vale bem a pena. É bom, é longo, é perfeito para as longas e más horas do nosso imposto confinamento. Valha-nos a música e o prazer que ela tantas vezes nos dá!
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