Álbum muito difícil de descoser, este 2020 dos Magik Markers, dada a enorme amplitude de espectro contida no mesmo.
Quero, antes de mais, deixar bem claro que desconhecia por completo o trabalho dos Magik Markers, banda com 20 anos de carreira, antes de me atirar a 2020, e neste precioso momento, passados cerca de 4 meses do seu lançamento, nem consigo recordar como me chegou às mãos (ouvidos). O que é certo é que o venho ouvido intensamente desde então, numa missão inglória de alcançar a sua essência, de desmontar e compreender todas as peças deste puzzle de nome de ano em que tudo mudou. Numa incrível sequência de acontecimentos e ligação de pensamentos, penso agora ter chegado a uma forma concreta de o trazer para palavras. Mas para tal vou ter que recorrer a paralelismos com um filme, e consequentemente a eventuais spoilers, pelos quais peço desde já desculpa. Assim, se não viram o filme “Carnage” do Polanski (ou a peça de teatro que lhe deu origem, “Le Dieu du carnage” de Yasmina Reza) peço-vos que avancem por vossa própria conta e risco.
O enredo do filme é simples e sabê-lo não estraga em nada a visualização do mesmo – dois miúdos entraram num desaguisado na escola e um deu com um stick de hóquei noutro, partindo-lhe um dente da frente. Vamos servir então de voyeurs ao encontro dos respectivos pais, com o intuito de resolverem a questão entre adultos.
“Surf’s Up”, canção de arranque do disco, é a chegada de um casal à casa do outro. Abre-se a porta para um desconhecido, tudo aparenta estar tranquilo e portanto entramos canção/casa adentro. Mas aos poucos, o verniz começa a estalar. Um bicada aqui, outra ali, uma resposta mais torta, entra a distorção e um piano frenético e percebe-se que afinal o consenso não vai ser tão fácil de atingir como se esperava.
“That Dream (Shitty Beach)” é Black Sabbath, primóridos de heavy metal, é o apogeu da confusão no filme, em que o caos toma conta das ocorrências e as personagens chocam de frente entre elas, gritos ecoam, estragos aparentemente irreversíveis surgem e o consenso voa pela janela.
“Born Dead” chega e com ela regressamos, como que por magia, ao início, à calmia e recuperação de fôlego, o histerismo de há pouco passou e a esperança que as vontades convergissem foi renovada.
“You Can Find Me” é jovial, indie pop tão 2008 que dá umas saudades desgraçadas de dançar no bedroom, onde as pessoas bebem (bebiam) um copo e esquecem (esqueciam) os seus problemas, a vida é para ser vivida e não vamos deixar que pequenos percalços nos impeçam de o fazer.
“Hymn for 2020” (como raio se pode fazer um hino a este ano?) é puro noise, marca indeleável da banda e da sua história de discos infinitos ali entre os anos de 2005 e 2009. Neste caso esta canção serve-nos desconforto, serve-nos sinais de que algo não está bem e que aquilo que estava resolvido há minutos / na música anterior, talvez, quem sabe, não seja bem assim…
“CDROM” é tensão máxima. Sete minutos bastante agrestes, ambiente de cortar à faca, acabou-se tudo, nunca mais quero ver estas pessoas rudes e mal-educadas à frente.
Mas eis que em “Quarry (If You Dive)” tudo se resolve. As coisas só têm a importância que nós lhes damos. E chatices em miúdos, todos tivémos e cá estamos para contar a história. 2020 ano (e disco) só nos vem mostrar isso mesmo, no momento é tudo complicado, mas lá à frente está um futuro à nossa espera.
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