Em 1993, num cenário pós-Smiths e pré-explosão da Britpop, os James, com a ajuda de Brian Eno, tornavam-se numa das mais importantes bandas britânicas.
Aos dias de hoje pode parecer inverosímil, mas pouco antes da explosão da Britpop, no início dos nineties, os James eram um dos maiores grupos do Reino Unido. Formados em meados dos anos 80 e tendo como objectivo serem os novos Smiths, os também cidadãos de Manchester, Tim Booth, Jim Glennie, Larry Gott, David Bayton-Power e Saul Davies, ainda eram uma banda algo desconhecida, mesmo no próprio Reino Unido, até ao seu terceiro disco – Gold Mother (1990) – que viu o grupo fugir dos seus sons mais depressivos, abraçando o pop/rock de encher estádios, ao jeito dos U2.
Gold Mother foi o ponto de mudança para a banda liderada por James Booth. Lançado durante o pico do movimento Madchester, do disco saiu o massivo hit single “Sit Down”. Ao afastarem-se do som dos Smiths, os James, que sempre foram vistos como os menos cool da cena de Manchester, foram encontrando o seu som, continuando a explorar a qualidade das suas letras, mais maduras do que as que viriam mais tarde com a Bripop, o movimento que se seguiria, e criando melodias maiores que a vida. Quatro anos após a estreia e com quatro discos no currículo (um ao vivo), os James entravam no caminho certo para o sucesso.
Dois anos após Gold Mother, os James lançam Seven, continuando, pelo menos em território europeu, a sua escalada em direcção ao estrelato. “Born Of Frustration”, “Ring The Bells”, “Sound” ou a faixa título mostravam uma banda claramente confiante em si e no seu som. A Europa estava ganha, faltava o que a maior parte das bandas tenta alcançar (sobretudo as anglófonas), o mercado norte americano.
Devido ao sucesso que começaram a obter após Gold Mother, a banda já tinha atingido um status que lhe permitia ter melhores condições de trabalho (a vinda de Brian Eno para ajudar à produção é resultado disto mesmo) e, embora o disco seja marcadamente pop/rock, consegue-se notar o dedo de Eno, sobretudo nas melodias e qualidade das gravações.
Com a ajuda de Brian Eno, que hoje tem ajudado a banda nacional The Gift, os James conseguiram não só sucesso comercial e visibilidade mundial, como Laid foi muitíssimo bem recebido pela crítica da altura, elegendo-o como o melhor disco da banda até à data e um dos grandes discos britânicos da altura.
O som de Laid é muito influenciado pela digressão acústica que a banda fez em solo americano, abrindo para Neil Young, que apresentava Harvest Moon. Após esta tour, a banda começou a virar-se para um lado mais calmo e contemplativo. Com Eno na supervisão, a banda criou uma colecção coesa de canções que respeitavam o seu anterior som, mas ao mesmo tempo davam o salto de qualidade que tanto ambicionavam, e davam-lhes o respeito dos seus pares.
Laid é um disco adulto, que nos transmite sensações variadas devido aos seus temas de amor, perda, esperança e espiritualidade. Mesmo sendo um álbum longo (56 minutos divididos por 13 canções), Laid não é um disco enfadonho, bem pelo contrário. O seu espectro de sons permite ao ouvinte passar por momentos de introspecção e melancolia (“Out To Get You” ou “Lullaby”), como dá uma piscadela à folk (“One of the Three”), ao ambient (“Skindiving”) e, claro, aos temas que meteram multidões a cantar (“Sometimes, “Laid” ou “Low Low Low”).
Engraçado foi ver que a banda estava tão segura de si própria nesta altura que fez uma versão de “Low Low Low” para ser utilizada como hino oficial (“Goal, Goal, Goal”) da selecção inglesa para o Mundial de 1994. A sorte foi madrasta, pois os ingleses acabaram por ficar fora do certame. A canção, no entanto, acabaria por fazer parte do disco oficial do Campeonato do Mundo.
Após Laid, a banda ainda teria uma boa sequência de discos até ao início do novo milénio, sempre com a produção de Brian Eno. Porém, o longo hiato fez com que as pessoas perdessem o seu rastro. O tempo acabaria por ser cruel com os James, relegando-os, praticamente, a uma nota de rodapé dos anos 90. No entanto, é indesmentível que este disco continua tão prazeroso e vibrante nos dias de hoje como em 1993, altura do seu lançamento. Em Laid, os James provaram que era possível fazer uma pop adulta e inteligente para um público mainstream sem perder critério e respeito, algo que parece quase impossível nos dias de hoje.
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